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ELAS por ELAS: Maria Werneck, Margareth Mee & Adriana Florence

22 mar

por Gisele Miranda

O que ELAS têm em comum? São três mulheres artistas e ambientalistas que trazem referências históricas dos viajantes cientistas e artistas dos séculos 17 ao 19 para os séculos 20 e 21. Esse alinhavo de séculos tem uma bagagem exploratória de desenhos, pinturas, gravuras, fotografias sobre os biomas do Brasil, os trajetos desbravados e refeitos por pesquisadores ao longo dos séculos.

Maria Werneck (1909-1994) e Margareth Mee (1909-1988) representam a arte botânica do século 20 agregados aos trajetos expedicionários de Humboldt (1769-1859), Langsdorff (1774-1852) e Richard Spruce (1817-1893) às especificidades dos biomas da Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica e do Cerrado. Adriana Florence resgatou sua história como tetraneta de Hercules Florence (1803-1979) à importância das pesquisas e registros artísticos – desenhos, pinturas, livros, fotografias e o documentário: “No Caminho da Expedição Langsdorff” (2000).

ELAS percorreram árduos trajetos contra hegemônicos pela História Natural e pela Arte, abriram discussões sobre a Natureza-morta, desenhos botânicos (estudos científicos), arte decorativa à Arte Contemporânea com ações ambientais. ELAS são também Dulce Nascimento, Gloria Gonçalves, Hiroe Sasaki, Malena Barreto, Maria Tereza Reif, Patrícia Vilela, Regina Julianele, Evandra Rocha… .

Jean–Baptiste DEBRET

4 mar

Por Gisèle Miranda

(À cidade do ‘meu’ Rio de Janeiro)

“… cultura de minha arte sob um céu tão puro e onde a natureza exibe aos olhos do pintor filósofo a profusão de uma riqueza desconhecida…” (Debret, 1839)

No balanço delicioso da alma, Debret (Paris, França, 1768 – Idem, 1848) exaltou um Brasil do qual foi artífice junto a Lebreton (França, 1760 – Rio de Janeiro, RJ, 1819), chefe da Missão Artística Francesa. Assim nasceu a Academia Imperial de Belas-Artes (AIBA), no Rio de Janeiro (1).

Debret, em seus paradoxos sociedade/individuo, público/privado, compôs sua Viagem Pitoresca de 149 litografias: a mestiçagem da tradição monárquica européia com a prática escravista colonial marcadamente religiosa- uma aula de história e arte do Brasil, pré e pós independência. (1)

Do escambo – compra/escravização de índios e negros por aguardente, fumo, pólvora, entre outros. O tráfico humano compõe uma amarga parte da mestiçagem brasileira, e que se desdobrou no conceito exercido por Darcy Ribeiro (Montes Claros, MG, Brasil, 1922 – Brasília, DF, Brasil, 1997) e Michel Serres (Agen, França, 1930 – Vincennes, França, 2019).

Debret, escravas negras de diferentes nações, 1816-1831

O tráfico tornou-se o estigma oficial do último país a abolir a escravidão (1888), um século depois da Revolução Industrial Inglesa e Revolução Francesa. Além do estigma aniquilador de culturas indígenas.

É oportuno ressaltar que as litografias de Debret do início do século 19, compostas por índios, negros, europeus e os paradoxos acima ressaltados, marcaram a arte figurativa histórica.

Com relação ao material étnico ainda existe a tensão que vai e volta entre antropologia/etnologia e história da arte, a respeito de como expor o trabalho de povos para quem a criação artística significa um monte de outras coisas, além da própria criação. (Obrist, 2010: 211)

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No entanto, as litografias de Debret sobre as diferentes culturas africanas, afro-brasileiras e descendentes garantiram resgates inestimáveis à história e à arte. Da mesma forma,  os diferentes povos e suas culturas, tais como espanhóis e holandeses, franceses e ingleses, poloneses e ucranianos, batavos e bávaros, árabes e judeus, além dos portugueses, preponderantemente.

A cidade do Rio de Janeiro completou, em 1 de março de 2023: 458 anos.  Os cariocas descendem de algumas tantas tribos indígenas extintas, de alguns tantos povos europeus e do reino do Congo – os dois Congos atuais, mais Angola (Monénembo, 2001: 108-110), tradições que nos trouxeram o carnaval, a capoeira e o sincretismo. Unido a isto, o experienciar artístico de Debret por dezesseis anos no Brasil repercutiu em seus discípulos.

Ademais, a formação de Debret deu-se também como parte da Corte imperial de Napoleão I – embora tenha sido secundária, se comparado a importância de sua arte na época da monarquia portuguesa no Brasil (1808-1821) e sua derivação brasileira do Primeiro Reinado (1822-1831). In: Alencastro, 2001, 143.

Referências:

DEBRET, Jean-Baptiste (1768-1848). Viagem Pitoresca e a História ao Brasil. Tradução e Notas Sérgio Milliet; apresentação de Lygia da Fonseca F. da Cunha. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1989. (Coleção Reconquista do Brasil) Tomos I, II e II.

OBRIST, Han Ulrich. Uma breve história da curadoria. Tradução Ana Resende. São Paulo: BEI comunicação, 2010.

RIBEIRO, Darcy. O povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

(1) RIO DE JANEIRO, cidade mestiça: nascimento da imagem de uma nação/ ilustrações e comentários Jean-Baptiste Debret; textos Luiz Felipe Alencastro, Serge Gruzinski e Tierno Monénembo; reunidos e apresentados por Patrick Straumann; tradução de Rosa Freire d´Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

SERRES, Michel. A Lenda dos Anjos. São Paulo: Aleph, 1995.

SERRES, Michel. Filosofia Mestiça. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993


[1] Debret, aconselhado por Humboldt chegou em 26 de março de 1816, quando o Rio de Janeiro era capital do Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves – investimento de d. João VI que, em 1808, promulgou o Rio de Janeiro sede da corte portuguesa.