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Série MANTOS I: Cultura Artística & Histórica – Teatro.

30 out

por Gisele Miranda

A Série MANTOS foi confeccionada à memória coletiva e à história da cultura brasileira, de 1989 até 2019, com espetáculos teatrais, filmes, exposições e shows na cidade de São Paulo.

Os bilhetes culturais e artísticos foram costurados no tecido e conjugados à pesquisa histórica. Embora não estejam todos os bilhetes, mas, os que estão remetem aos bilhetes da memória, através dos diretores, atores, autores a um amplo conteúdo ligado a literatura, música, dança, pintura, teatro, cinema, portanto, um conteúdo de uma geração, acessibilidade, valores e investimentos materiais e imateriais.

Os três Mantos da Série passaram por encontros teóricos e ficcionais com Arthur Bispo do Rosário (1909? -1989), na sagração e na fé dessa missão. Com Leonilson (1957-1993), nos bordados cruciais à critica. E com Hélio Oiticica (1937-1980), quando os Mantos tornaram-se Parangolés na realidade marginal e anti heroica.

O primeiro Manto tem 101 espetáculos costurados, entre peças de teatro, óperas e shows, dedicados à memoria do Culturalista Paschoal Carlos Magno*(1906 –1980). Paschoal ensinou que todos nós, poetas, temos nossos barcos no ar, na terra e no mar e que o teatro é educação, que a arte transforma e que cultura é essencial à vida.

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O Manto I começou em 4 de julho de 1989, em uma nítida despedida da cidade do Rio de Janeiro com RIGOLETTO, Ópera de Giuseppe Verdi (1813-1901), para adentrar, em meados dos anos de 1990, na cidade de São Paulo. Dos 101 espetáculos, 30 estão sem datas, criando vácuos na temporalidade**. São 33 espetáculos infantis que compartilhei com o meu filho, dos 3 aos 12 anos.

Ao lembrar do espetáculo Cacilda, homenagem que José Celso Martinez fez a Cacilda Becker, invariavelmente, lembro da potência da atriz Beth Coelho Esperando Godot, de Samuel Beckett. 

Quando costurei Vozes Dissonantes, de Denise Stoklos, imediatamente lembrei de sua Mary Stuart. Chorei por não ter guardado o bilhete do espetáculo Louise Bourgeois, pois foi naquele momento que me apaixonei pela obra de Bourgeois.

Ao tecer OTELO, de William Shakespeare com Norton Nascimento, no Teatro Municipal de São Paulo, veio a tona outro bilhete perdido, Orlando, com Fernanda Torres nua no palco do Teatro Municipal. Na costura da memória, a Fernandinha trouxe a dama Fernanda Montenegro em The Flash and Crash Days, de Gerald Thomas. A direção foi impressionante! Lembrar de Gerald Thomas é rever Ventriloquist, a trilogia Kafka, Esperando Beckett.

Também não encontrei o bilhete do Quadrante, com Paulo Autran, espetáculo que vi no Teatro Municipal de São Paulo. Nem da Família Addams, com Marisa Orth, no Teatro Renault. Quer dizer, estou encontrando todos na memória. A memória como dizia Umberto Eco, “tem que ser exercitada”. 

Quanto aos shows, vi muitas vezes Zizi Possi, Angela Rorô, Raul Seixas. Vi Renato Russo, no Pacaembu. Perdi Astor Piazzola, no Municipal de São Paulo. Vi Novos Baianos.

Alguns shows que assisti foram a trabalho (freelancer) na produção e como sempre, sentindo-me privilegiada com Elza Soares, Antonio Adolfo, Turíbio Santos, Marcos Valle, o grupo Azymuth, Carlos Lyra, Dulce Quental.

Olhar para trás é me sentir protegida daquele caos pandêmico e do atentado a humanidade personificado por um energúmeno negacionista apoioado por golpistas. Olhar para trás é ver construções com conteúdo artístico, o que faz muita diferença e acrescenta à pesquisa e à produção científica.

No mais, em meio aos alfinetes, agulhas, linhas, tecidos, papéis e sangue – há muita luta, arte, história, política, crítica e sobrevivência.

Abaixo, alguns bilhetes listados.

  1. RIGOLETTO, Ópera de Giuseppe Verdi (Roncole verdi, Itália, 1813- Milão, Itália, 1901). Teatro Municipal do Rio de Janeiro, julho 1989.
  2. Dom Pasquale. Obra de Donizetti (Bérgamo, Itália, 1797 – idem, 1848), Teatro Municipal do Rio de Janeiro, julho de 1989.
  3. Fragmentos de um discurso amoroso. Texto de Roland Barthes. Adaptação Teresa de Almeida. Direção Ulisses Cruz. Música de André Abjamra. Cenografia e figurinos Ninette Van Vuchelen. Com Antonio Fagundes. Teatro Cultura Artística de São Paulo, 1989.
  4. Martha Graham Dance Company. Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Carlton Dance Festival, 1989.
  5. Jornada SESC  de Teatro (SESC dr. Vila Nova), São Paulo/SP. De 8 a 21 de julho de 1996.
  6. O Professor. Teatro Municipal de São Paulo, 26 janeiro 1997.
  7. O Feminino na Dança. Com palestras de Helena Katz, Christine Grener, Cássia Navas, e Fabiana Dutra Brito. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes. De 30 de abril a 1 de junho de 1997.
  8. A Quarta Estação, de Israel Horovitz. Direção Fauzi Arap com Juca de Oliveira e Denise Fraga, no Teatro Cultura Artística. Sala Rubens Sverner, 14 julho 1997.
  9. Otello, de Giuseppe Verdi. Regência Isaac karabtchevsky. Orquestra Municipal, Coral lirico e solistas. Teatro Municipal de São Paulo, 29 agosto 1997.
  10. O Masculino na Dança. Com Workshops de Sandro Boreli, Mário Nascimento, Edison Garcia, Sérgio Rocha. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes. De 3 a 21 de setembro de 1997.
  11. Cavalleria Rusticana I Pagliacci. Orquestra e coro do Teatro Municipal de São Paulo & artistas convidados, 23 setembro 1997.
  12. Antígone, de Sófocles. Direção Carlos Gardin. Teatro Tuca Arena, 26 setembro 1997.
  13. Bananas de pijamas vão ao teatro. Teatro Jardel Filho, 16 novembro 1997.
  14. O Diário de um Louco. De Gogol, adaptação livre de Luiz Conceição. Teatro Villa Lobos, Rio de Janeiro, RJ, novembro 1997.
  15. Uiva e vocifera, de Hamilton Vaz Pereira. Teatro Oficina, 10 abril 1998.
  16. Tio Vânia, de Anton Tchecov. Direção Elcio Nogueira. Teatro Brasileiro de Comédia, 24 abril 1998.
  17. Concerto Wagner – Strauss. Regente Gabor Otvos. Soprano Hildegard Behrens. Teatro Municipal de São Paulo, 4 maio 1998.
  18. Senninha e sua turma no teatro. Direção Renata Soffredini. Com Fernando Lyra Jr. Teatro Bibi Ferreira, 5 maio 1998.
  19. Porca Miséria. Comédia de Jandira Martini e Marcos Caruso. Direção geral Gianni Ratto. Teatro Sérgio Cardoso, 5 julho 1998.
  20. Em nome do Pai. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, 11 julho 1998.
  21. Exercício para Antígona. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, 15 julho 1998.
  22. O Pequeno príncipe. Teatro Ruth Escobar. Sala Mirian Muniz, 9 agosto 1998.
  23. Narrador. Centro Cultural São Paulo, piso 796, 16 agosto 1998.
  24. Doce lembrança. Centro Cultural São Paulo, piso 796, 18 agosto 1998.
  25. Dom Carlo, de Giuseppe Verdi. Direção Musical e Regência de Eduardo Muller. Direção Figurinos e Cenários de Hugo de Ana. Orquestra e coro do Teatro Municipal Solistas e Convidados. Teatro Municipal de São Paulo, 30 agosto 1998.
  26. Salomé, de Richard Strauss. Solistas convidados, Orquestra do Teatro Municipal de São Paulo, 30 setembro 1998.
  27. Branca de Neve e os sete anões. Ibirapuera, 17 outubro 1998.
  28. Ele é fogo! Texto e Direção Isser Korik. Teatro Ruth Escobar. Sala Dina Sfat, 25 outubro 1998.
  29. Romance. Teatro Crowne Plaza, 28 novembro 1998.
  30. Cacilda! Direção José Celso Martinez. Teatro Oficina Uzyna Uzona, novembro 1998.
  31. La Bohème, Ópera em quato Atos de Giacomo Puccini (1958-1924). Teatro Municipal de São Paulo, em 5 dezembro 1998.
  32. A História de Lampião Jr. e Maria Bonitinha. Teatro Paulo Autran, 21 fevereiro 1999.
  33. Palavra Cantada (Show). Paulo Tatit e outros. CD Canções Curiosas. SESC Fábrica Pompéia, 28 fevereiro 1999.
  34. As aventuras de Pinóquio. Teatro Paiol, 07 março 1999.
  35. A Bela e a Fera. Texto e Direção Tatyana Dantas, com Fernanda de Souza e Felipe Folgosi. Teatro Sergio Cardoso, 17 abril 1999.
  36. O violino mágico, de Júlio Fischer. Direção Christina Trevisan. Teatro Sérgio Cardoso, 2 maio 1999.
  37. The Addam´s. Texto de Edmundo de Novaes Gomes. Direção Carlos Gradim. Teatro Ruth Escobar, sala Gil Vicente, 22 maio 1999.
  38. Marcelo, marmelo, martelo. Teatro Jardel Filho, 8 agosto 1999.
  39. Hércules. Ibirapuera, 25 setembro 1999.
  40. O terror dos mares. Adaptação Ronaldo Ciambroni. Direção Cesar Pezzuoli. Teatro Imprensa, 2 outubro 1999.
  41. Fragmentos troianos. Direção Antunes Filho. Teatro SESC Anchieta, 04 março 2000.
  42. AMOR – uma ode ao universo feminino de Clarice Lispector. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes, 18 maio 2000.
  43. Filhos do Brasil. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, maio 2000.
  44. Cartas de Rodex. Centro Cultural São Paulo, espaço cênio Ademar Guerra, maio 2000.
  45. Raul fora da lei. Centro Cultural São Paulo. Sala Adoniram Barbosa, maio 2000.
  46. Semana de Dança. Centro Cultural são Paulo. Sala Jardel Filho, junho 2000.
  47. Anjo duro, de Luiz Valcazaras. Com Berta Zemel. Teatro Sergio Cardoso, 02 julho 2000.
  48. N X W Série Pocket Opera, de Gerald Thomas. Teatro SESC Ipiranga, 22 julho 2000.
  49. Angela Ro Ro (Show). Tom Brasil, 16 dezembro 2000.
  50. Deborah Colker – MIX – Teatro Sergio Cardoso, 26 setembro 2001.
  51. A Terra Prometida, de Samir Yazbek. Sesc Anchieta, 13 outubro 2001.
  52. Uma aventura mágica com o Monstro Brigueiro. Texto e direção Isser Korik. Teatro Folha, 5 janeiro 2002.
  53. Conferência Pierre Levy. Teatro Vila mariana, 29 agosto 2002.
  54. João e Maria  Ópera em 3 Atos. Baseado na história dos Irmãos Grimm.  Libreto de Adelheid Wette. Música de Engelbert Humperdinck. Tradução de Dante Pignatari e Jamil Maluf. Teatro Municipal de São Paulo, 19 dezembro de 2002, às 18hs.
  55. Funk como Le gusta (Show). Confraria Pompéia/ SESC, 15 fevereiro 2003.
  56. O Chapéu de palha de Florença, de Nino Rota (1911-1979). Teatro Municipal de São Paulo, temporada, março 2003.
  57. Bispo. Com João Miguel. Teatro Galpão, 20 abril 2003.
  58. Vozes Dissonantes, com Denise Stoklos. Teatro João Caetano, 6 agosto 2003.
  59. Gothan SP – Fórum Cultural. Cia teatral Ueinzz. Teatro Galpão, 27 junho 2004.
  60. A Entrevista, de Samir Yazbek. Direção Marcelo Lazzaratto. Com Ligia Cotêz e Marcelo Lazzaratto. Teatro Cultura Inglesa de Pinheiros, 5 março 2005.
  61. Semana de Dança. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, 24 maio 2005.
  62. Teatro Carlos Gomes, 04 julho 2007.
  63. Luiz Melodia. Premio Victor Civita – educador nota 10. Sala Cultural São Paulo, 15 outubro 2007.
  64. Nocaute. Teatro Folha, 23 abril 2008.
  65. OTTO. Sesc (ginásio de esportes), 25 novembro 2011.
  66. A Família Addms. Texto Marshall Brickman & Rick Elice. Música e letras de Andrew Lippa. Baseado nos personagens de Charles Addams. Versão brasileira de Claudio Botelho. Com Marisa Orth e Daniel Boaventura. Teatro Abril, março de 2002.
  67. A dama do mar. Texto de Susan Sontag, baseado na peça de Hendrik Ibsen. Direção Bob Wilson. Com Lígia Cortez, Ondina Castilho, Bete Coelho, entre outros. Teatro Sesc Pinheiros, 15 junho 2013.
  68. Do outro lado. Teatro Porto Seguro, 25 outubro 2017.
  69. Elza Soares. Comedoria Pompéia/ SESC, virada cultural, 08 maio 2019.
  70. Comum. Projeto Meta-Arquivo 1964-1985 Grupo Pandora de Teatro (SP) Texto e direção Lucas Vitorino. SESC Belenzinho, 08 setembro 2019, às 18:30.
  71. Olhos Recém-nascidos com Denise Stoklos. Teatro João Caetano SP, março, s/ano
  72. Turandot, de Giacomo Puccini. Teatro Denoy de Oliveira. 25 junho s/d.
  73. Dyário de um Louko. Centro Cultural São Paulo, centrinho cultura, s/d.
  74. Vô doidim e os velhos batutas. Teatro Denoy de Oliveira, s/d.
  75. RED FANG (Show). Inferno SP, 08 setembro s/d.
  76. Cassia Eller (Show) Directv, 3 outubro s/d.
  77. Chico Buarque. Palace, 18 abril s/d.
  78. A terra do povo da graça. Centro Cultural São Paulo, sala Jardel Filho, s/d.
  79. OTELO, de William Shakespeare. Adaptação Alexandre Montauri; Direção Janssen Hugo Lage, com Norton Nascimento. Teatro Municipal de São Paulo, 11 novembro s/ano.
  80. No reino das águas claras, de Monteiro Lobato. Adaptação Maisa Montresor. Direção geral Milton Neves; direção musical Cesar Pezzuoli. Teatro Imprensa, s/d.
  81. O senho dos sonhos. Centro Cultural São Paulo, sala Jardel Filho, s/d.
  82. Simão e o boi pintadinho. Centro Cultural São Paulo, sala Paulo Emílio Salles Gomes, s/d.
  83. Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues. Direção José Celso Martinez Correa. Teatro Oficina, s/d.
  84. O menino detrás das nuvens. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.
  85. Moço em estado de sítio. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.
  86. Rumos musicais: Miguel Briamonte. Instituto Cultural Itaú, Sala Azul, piso Paulista, 5 outubro s/d.
  87. Contra Igual, de Fernando Pessoa. Centro Cultural São Paulo, s/d.
  88. O Anti Shakespeare. Centro Cultural São Paulo, porão, s/d.
  89. Avoar, de Vladimir Capella. Direção Chiquinho Cabrera e Edu Silva Filho. Teatro Imprensa, s/d.
  90. O mágico de OZ. Adaptação Sônia Fonseca. Direção Léia Marone. Teatro Cultura Tutóia, s/d.
  91. Gatos e Cia. Adaptação Meire Tumura & Maria Duda. Direção Maria Duda. Supervisão geral Attílio Riccó. Teatro Itália, s/d.
  92. As sereias da River Gauche. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.
  93. Contos, cantos e acalantos. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes, s/d.
  94. Uma Professora muito Maluquinha, de Ziraldo. Direção Renata Soffredini, s/ referência do teatro, s/d.
  95. Casa de brinquedos, musical de Toquinho, Teatro Gazeta, s/d.
  96. Pedro e o lobo. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes, s/d.
  97. Um dia de Pic & Nic. Teatro Ruth Escobar, s/d
  98. PAI, de Cristina Mutarelli. Direção Paulo Autran, com Beth Coelho, Teatro Crowne Plaza, 13 fevereiro s/d
  99. Strip Tease com Ana Lívia. Instituto Cultural Itaú. Sala azul piso Paulista, s/d
  100. Corpo a Corpo. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.
  101. O feminino na dança. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.

(*) Série Paschoal Carlos Magno I: O Teatro de Paschoal Carlos Magno – O ofício em suas considerações

Série Paschoal Carlos Magno X: Festivais de Estudantes

11 nov

Por Gisèle Miranda

O II Festival acorreu na cidade de Santos, em julho de 1959 (1). Foram doze dias com cerca de 800 estudantes dos Teatros de Estudantes de várias regiões do Brasil, vindos do vigoroso I Festival do Recife, de 1958, revertido em experiência bem sucedida e revitalizado nas normativas do II Festival.

10. Estamos em Santos para aprender, estudar, enriquecer nossos conhecimentos… servir à elevação cultural (…) 18. O I Festival em Recife foi um dos maiores acontecimentos do Brasil… em Santos manterá essa tradição. (2)

Envoltos a esses jovens, além de Paschoal Carlos Magno, estiveram Patrícia Galvão (Pagú), Décio de Almeida Prado, Anna Amélia Carneiro de Mendonça, Joracy Camargo, Alfredo Mesquita, Sábato Magaldi, Luiza Barreto Leite, entre outros.

O II Festival apresentou inúmeras peças, cursos, palestras e julgamentos fictícios por nobres juristas e magnas interpretações de Cacilda Becker e Henriette Morineau, respectivamente como Mary Stuart e Elizabeth I; Sergio Cardoso e Paulo Autran como Hamlet e Otelo.

Entre o I e II Festivais, Paschoal conheceu em meio às ruínas, uma fazenda colonial portuguesa do séc. 18, que viria a ser, em 1965, a Aldeia de Arcozelo, sede dos Festivais seguintes, além de albergue da juventude, local de cursos e seminários e, por fim, a tão sonhada Universidade Livre de Artes que, infelizmente, não alçou voo.

Paschoal Carlos Magno na Aldeia de Arcozelo (Teatro Itália Fausta ao ar livre), ca. 1975. Foto Ney Robson (Inacen/RJ)

O entorno fiscalizador do Estado proibiu a UNE, censurou espetáculos e os intelectuais foram obrigados a calar seus pensamentos que gritavam. Os militares queriam o silêncio da juventude, Paschoal queria as vozes da juventude.

Do V ao VII Festivais, Paschoal foi sendo abatido, período correspondente de 1968, 1971 e 1975. Os efeitos da ditadura militar que dizimou os Teatros de Estudantes, foram também minando as lutas de Paschoal – calejando-o, atormentando-o.  Mas, obstinado, foi galgando perspectivas paralelas e necessárias.

Modelo organizacional/alimentação Festival Nacional na Aldeia de Arcozelo, 1971.Primeiro, dispersando os jovens em Caravanas e Barcas em cidades distantes. Segundo, reunindo-os e protegendo-os através de relatos em jornais sobre  suas atividades culturais. E para cada inspeção, um personagem paschoalino para compor os ares de inofensivo ou louco.

Afinal, a educação formal foi movida pela política da censura pelo Estado repressor, mas as atividades culturais foram desprendidas da educação do Estado, não para Paschoal Carlos Magno, que via no teatro, uma efetiva alternativa para a EDUCAÇÃO.

Referências:

ARGAN, G. C. História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

BABHA, H. F. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

COELHO, T. Dicionário crítico de política cultural: cultura e imaginário. São Paulo: FAPESP: Iluminuras, 1997.

MADEIRA, G. ou MIRANDA, G. Paschoal Carlos Magno (1906-1980): mosaico de um culturalista. São Paulo, 2000. Tese (doutorado em História) Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP.

KHOURY, S. Atrás da máscara. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983, V. 2.

Periódicos:

A Tribuna, 11 jul. 1959.

Diário de Brasília. Brasília, 22 nov. 1974. Moços merecem mais respeito. Por Paschoal Carlos Magno.

Diário de Notícias. Rio de Janeiro, 24 nov. 1974. O Outro Paschoal – triste, desgostoso, revoltado.

Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 27 nov. 1974. “Eu não existo mais”. Por P. Lara.

O Estado de S. Paulo. São Paulo, 2 set. 1976, p. 18. Sem apoio oficial, Aldeia de Arcozelo poderá desaparecer.

O Globo. Rio de Janeiro, maio 1969. Para salvar a Aldeia. Por G. M. Bittencourt.

O Globo. Rio de Janeiro, 21 nov. 1974. Paschoal depõe para o futuro pedindo que ajudem o teatro.

O Jornal. Rio de Janeiro, 19 dez. 1967. Paschoal fala de teatro no MIS e condena censura.

Revista Dionysos: Estudos Teatrais. José Arrabal (Org.) Teatro do Estudante de Brasil, Teatro Universitário, Teatro Duse. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura: DAC: FUNARTE: SNT, n. 23, set. 1978.

Última Hora. Rio de Janeiro, 12 mai. 1964. Paschoal acabou com o Duse e com a Casa. Por José Mauro.

Última Hora. Rio de Janeiro, 19 dez. 1967. Juventude é tudo.


[1] Demais Festivais: O I Festival do Recife (PE), 1958; III Festival em Brasília (DF), 1961; IV Festival em Porto Alegre (RS), 1962; V Festival na Guanabara (RJ), 1968; VI e VII Festivais na Aldeia de Arcozelo – Paty do Alferes (RJ), 1971 e 1975.

[2] O Festival em Santos ocorreu de 12 a 24 de julho de 1959. As normas 10 e 18,  fazem parte das dezoito normas estabelecidas por Paschoal aos estudantes de teatro no Festival em Santos. Jornal A Tribuna , 11 jul. 1959.

Série Paschoal Carlos Magno VII: ingênuo ou comprometido?

11 ago

Por Gisèle Miranda

É realmente constrangedora, para um velho combatente como eu, a miopia daqueles que esbordoam moços, porque desejam pensar alto… inquietos carregados daquela flama da paixão que é privilégio dos moços e daqueles que, não sendo medíocres, envelhecem com o mesmo ardor e o mesmo entusiasmo… {Paschoal Carlos Magno, Diário de Notícias (196-): A miopia da repressão}

O teatro de Paschoal e suas derivações, ascendentes de laboriosas designações, tais como paschoalino, quixotesco, franciscano, entre outras, refletem pois, o paschoalhar, quase em tom de bufão.

Proposta imagética do quixotesco Paschoal Carlos Magno, por Jesualdo Gelain, dez. 1999

Há um despojamento de interesses pessoais por parte do criador e condutor das Barcas e Caravanas da Cultura (décadas de 1960 e 1970), assim como há contradições em suas vinculações políticas.

Paschoal se aproximou da política enquanto visionário das artes. Sua trajetória política foi bizarra – não encontrando eco nem respeito partidário. Ingênuo ou comprometido? Como pensar no profissional da diplomacia diante de um ou outro? Os tempos eram outros, de silêncios, de meias verdades, de cerceamento das liberdades.

Os votos trouxeram a Paschoal, a possibilidade do retorno ao Brasil. Os votos deram-lhe a dignidade e respeitabilidade por parte de seus seguidores. Os votos deram-lhe a possibilidade de criação do bufão diante das autoridades que dominaram por 21 anos o Brasil.

Como louco inofensivo, Paschoal transitava por vias alternativas e de pouca vigília militar. Assim acolheu em tempo impróprio, a fome e a sede da juventude em agrupamentos. Ele foi galgando questões morais que se tornaram intrínsecas às questões políticas. Travou uma larga luta por respeitabilidade aos profissionais das artes e princípios coletivizados, em um tempos que o coletivo era pernicioso.

Também abriu um espaço cultural além dos limítrofes das grandes cidades burlando dificuldades quanto à ausência de investimento sendo um mecenas assalariado. Foi andarilho de interlocuções; sobrepôs teorias e metodologias às mirabolantes performances.

Sua maior titulação não foi a de bacharel em direito, nem tampouco de Consul do Brasil, e sim,a de Estudante Perpétuo do Brasil, dada pela União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1956.

Referências:

BARCELLOS, Jalusa. CPC da UNE: uma história de paixão e consciência. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.

GOMES, João Carlos Teixeira. Glauber Rocha, esse vulcão. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1997,

MADEIRA, Gisele Ou MIRANDA, Gisele. Paschoal Carlos Magno (1906-1980): mosaico de um Culturalista (tese de doutorado/PUC-SP, 2000).


[1] BEIRÃO, Nirlando: Glauber had sept cabezas. São Paulo: Revista Bravo! Março, 1999, ano 2, n. 18, p. 48.

 

Série Paschoal Carlos Magno VI: os votos da juventude

7 ago

Por Gisèle Miranda

 

Enquanto Paschoal cumpria seu trabalho no Itamarati, acompanhava de onde estivesse o Teatro de Estudantes e seus desdobramentos através de suas irmãs – Orlanda e Rosa.

A idéia de uma vinculação a política partidária surgiu pela imensa vontade de retornar ao Brasil e dar continuidade às suas propostas culturais, instituir alternativas para concretizar projetos e investir em educação. Uma semana antes de Paschoal partir para Atenas, um amigo desabafou:

– pensei nisso quando fui à missa de sétimo dia de sua mãe (Ruminei: que tem a missa da minha mãe com a política) e durante mais de duas horas vi uma fila imensa diante de você dando-lhe pêsames. Ricos e pobres, brancos e pretos. – “Que grande eleitorado.” (Magno, 1969, p. 64)

Paschoal candidatou-se a vereador na cidade do Rio de Janeiro. Com a ajuda de suas irmãs, cinco mil cartas foram encaminhadas. A espontaneidade dos jovens articulou a projeção de Paschoal. Por diversos bairros os atores encenavam peças infantis, e por fim, estendiam as faixas com os dizeres: Se Paschoal não voltar acaba tudo. (Magno, 1969, p. 205)

Frente do panfleto da campanha de Paschoal Carlos Magno para vereador da cidade do Rio de Janeiro, 1950

Em 3 de outubro de 1950, Paschoal foi eleito vereador pela UDN (1), sem nenhuma participação em comícios ou reunião do partido. Empossado em 1 de abril de 1951, permaneceu no cargo até 31 de janeiro de 1955. Como esperado, assumiu o seu cargo independente da política partidária. Atuou como membro da Comissão dos Problemas dos Favelados Cariocas (1951), o que lhe valeu ser chamado de simpatizante do credo comunista. (2)

Verso do panfleto da campanha de Paschoal Carlos Magno para vereador da cidade do Rio de Janeiro, 1950

Paschoal também lutou pela autonomia do Teatro Municipal, pois na época vinha sendo entregue às festinhas de família, reuniões políticas, banquetes aos donos da pátria. (Assembléia, p. 423; Ata 104, 3 set. 1951, p. 47). Ademais, proclamar o descaso com orfanatos, centros de tuberculosos, deficiências e artes em geral. A ponto de se levantar contra o seu próprio partido:

Em quatro anos de exercício político nunca me foi possível compreender porque nossos adversários eram classificados pelos meus correligionários, com raras exceções, como cornudos, castrados, ladrões, pederastas. E cometiam na sua maioria os mesmos erros daqueles de apadrinhar causas injustas, arranjar empregos para parentes e conhecidos. (Magno, Tudo valeu à pena, m.s., 28 de março de 1955)

E, mais:

Apresentei toda uma série de projetos ligados à educação, muitos dos quais não encontraram pernas para andar no chão de uma assembléia eminentemente eleitoreira. (Magno, Tudo valeu à pena, m.s., 4 de abril de 1955)

Durante seu mandado de vereador apenas um bom momento a ser registrado. Paschoal ficou surpreso com o chamado de Getúlio Vargas para participar-lhe sobre sua ida a Alemanha (Universidade de Erlargen), para ser prestigiado na Festival Internacional de Teatro por 400 acadêmicos de Teatros Universitários do Mundo. O festival teve a avant première com o texto de Paschoal, Amanhã será diferente, apresentado pelo Teatro Universitário de Istambul.

Referências:

MADEIRA, Gisele Ou Iggnacio, Gisele. Paschoal Carlos Magno (1906-1980): mosaico de um Culturalista (tese de doutorado/PUC-SP, 2000).

MAGNO, Paschoal Carlos. Não acuso nem me perdôo: diário de Atenas. Rio de Janeiro: Record, 1969.

MAGNO, Paschoal Carlos Tudo valeu à pena.(manuscrito, 1940)


(1) A UDN – União Democrática Nacional foi criada em 1944, entre os seus correligionários estavam o brigadeiro Eduardo Gomes, que participou da sublevação tenentista (Dezoito do Forte de Copacabana, 1922), e o jornalista Carlos Lacerda, ferrenho e controvertido orador, pivô do caso da rua Toneleiros (agosto 1954), quando Getúlio Vargas foi acusado de ser o mandante do atentado, e que logo culminou na crise do populismo e no suicídio do presidente do Brasil.

(2) Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro: levantamento das atividades parlamentares de Paschoal Carlos Magno, 10 de maio de 1951, p. 415-417. E ainda, Paschoal deixou registrado: a delegacia política aproveitará a circunstância para fazer calar a voz dos pequeninos perseguindo-os.

Série Paschoal Carlos Magno V: diário de Atenas, diário de Milão e diário de Liverpool

5 ago

Por Gisèle Miranda

 

O percurso da diplomacia de Paschoal nos anos de 1933 a 1968 primou pela formação cultural e intelectual muito embora em 1950, ano de sua chegada a Atenas, ele escreveu:

Fui permanecendo no estrangeiro e continuo até hoje no Itamarati por covardia. Imensa Covardia. (Atenas, 9 de maio de 1950)

Críticas ao Itamarati que possibilitou a criação de um mecenas assalariado que manteve a mãe, os irmãos, os sobrinhos, o Teatro Brasileiro e a culturalidade que proclamava? Mecenas assalariado?!

Paschoal Carlos Magno em Liverpool, 1940, arquivo Brício de Abreu – SNT, foto Zevallos

Paschoal era crítico ao tráfico de influências, exibicionismos de poder, em proporção desigual aos poucos diplomatas da grande pátria sem fronteiras, sem diferenças de idiomas ou raças: aquêles que são escritores, poetas, compositores, ensaístas, músicos, pintores… (Atenas, 18 de maio de 1950)

Ele dizia:

solidão… inscrita no lema de cada escritor, jovem, velho… como um meio de preservar os criadores contra o canibalismo das chamadas relações sociais. (Atenas, 19 de maio de 1950)

Mas não era a solidão necessária do bom leitor, sim, a solidão involuntária, a do repúdio destacado por Paulo Francis (1) como punição do Itamarati por sua aposentadoria antecipada:

Paschoal foi punido pelo Itamarati pelo amor que não ousava declarar seu nome (Oscar Wilde, 1876). E que importância tem isso? A Cia e a KGB aceitam.

Veremos ao longo da Série Paschoal Carlos Magno que sua voz coletiva marcou definitivamente a história do teatro brasileiro, mas calou em seu corpo consular, privando ensejos cravados de preconceitos que criaram feridas que, em parte, tratou com sua ação poética em combate até o fim de seus dias:

Criticado, injustiçado e até despojado de seus próprios bens, ele, no entanto, conseguiu sobreviver às frustrações da vida de uma maneira um tanto quanto heróica e valente em função dos seus ideais, entre os quais o teatro e a juventude. (MORRE no Rio Paschoal Carlos Magno. s.n., Recife, 25 maio 1980)

No início da década de 1950 até final de 1960, Paschoal começou a escrever Tudo valeu à pena, a partir do diário de Milão, diário de Manchester, diário de Liverpool e diário de Londres – reminiscências desde o inicio dos de 1940. Os protagonistas foram os mortos. Como um paludes ou a terceira pessoa da obra de André Gide –  Paschoal sobrepôs a morte com a memória.

O manuscrito Tudo Valeu à pena foi passado a limpo por sua irmã Orlanda Carlos Magno, donde se lê sobre a memória do chamado de Jorge Amado a respeito da morte do ´velho Graça´; o momento em que Graciliano Ramos lamentava a morte de seu filho; a morte de Assis Valente, entre tantos, além dos tempos conturbados da Segunda Guerra Mundial.

Referências:

MADEIRA ou Iggnacio, Gisele. Paschoal Carlos Magno (1906-1980): mosaico de um Culturalista (tese de doutorado/PUC-SP, 2000).

MAGNO, Paschoal Carlos. Não acuso nem me perdôo: diário de Atenas. Rio de Janeiro: Record, 1969.

MAGNO, Paschoal Carlos. Diário de Atenas. (manuscrito, 1950)

MAGNO, Paschoal Carlos Tudo valeu à pena.(manuscrito, 1940)


[1] Jornalista Franz Paulo Trannin da Matta Heiborn , 1930 (RJ)- 1997 (NY) ou Paulo Francis como ficou conhecido – nome artístico dado por Paschoal Carlos Magno, desde os tempos áureos do Teatro do Estudante, onde Francis encenou algumas peças de teatro. Leitor inveterado, debochado e lembrado por subverter o Teatro do Estudante, e entrar no teatro brasileiro demolindo , como crítico, várias gerações de embusteiros. In: Revista Dionysos, 1978, n. 28, p. 187.

Série Paschoal Carlos Magno IV: o Teatro do Estudante de 1938 e a Concentração do Estudante de 1947

15 jul

Por Gisèle Miranda

O Teatro do Estudante do Brasil surgiu em 1938, a partir do visionário animador cultural, ´quixotesco´, ´louco´, mecenas assalariado, ´franciscano´, cônsul do Brasil, escritor, poeta e teatrólogo Paschoal Carlos Magno. Do Teatro do Estudante do Brasil surgiram mais de 400 Teatros de Estudantes por todo o Brasil.

Em 1947, Paschoal criou e organizou a Concentração (1) dos estudantes de teatro, que se desdobrou no I Festival Shakespeare, donde surgiu a primeira montagem de Shakespeare rememorada por Bárbara Heliodora como “inesquecível”.

Heliodora também foi partícipe de 1947, como conferencista da Concentração dos Estudantes de Teatro do Brasil, e antes disso, registros encontrados de sua passagem como atriz. Ela ficou conhecida pela rigidez nas críticas das apresentações de Shakespeare no Brasil. Porém, nunca vacilou ao destacar os acertos. São eles: Hamlet por Sergio Cardoso, sob direção de Hoffman Harnish (1947), e Romeu e Julieta, sob direção de Gabriel Vilella (1992). Heliodora acredita na genialidade: 

…a única explicação para o fenômeno Shakespeare é a do gênio, cuja manifestação específica foi altamente favorecida pelas condições características do teatro de seu tempo. (HELIODORA: 1997, p. 133)

Estudantes de teatro no intervalo dos ensaios de uma das peças de Shakespeare subindo a rua Hermenegildo de Barros – entre o Teatro Duse e o mirante Glauce Rocha (ao fundo vista da Marina da Glória e aeroporto Santos Dumont) Foto Familia Carlos Magno, década de 1950.

A Concentração dos Estudantes de Teatro do Brasil se fez pública em seus relatos diários: aulas de canto, linguas, danças, palestras, debates, leituras de textos, ensaios e os afazeres do cotidiano doméstico. ´Moços e Moças´, dizia Paschoal, reunidos em meados da década de 1940, exercendo o teatro como ofício.

Dessa Concentração saiu Hamlet, direção de Hoffman Harnish, cenografia de Pernambuco de Oliveira (sob indicações de Santa Rosa), Walter Schultz Portoalegre na música, Jacy Campos como assistente geral. Apresentação oficial, 6 de janeiro de 1948.

Em 9 de março de 1948 (curta temporada), sob um calor imenso, sufocante, mas em cada monólogo de Sergio Cardoso como Hamlet, o público não continha as palmas. Casa lotada no Teatro República e uma apresentação ao ar livre no Castello Serrano, na cidade do Rio de Janeiro.

 

Referências:

HELIODORA, B. (1923-2015) A expressão do homem político em Shakespeare. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978. HELIODORA, B. Falando de Shakespeare. São Paulo: Perspectiva; Rio de Janeiro: FUNARTE: Cultura Inglesa, 1997 (Estudos, 155)

SHAKESPEARE, W. Tradução Barbara HELIODORA. William Shakespeare: Teatro Completo. São Paulo: Nova Aguilar, 1999. V. I e II.

ZUMTHOR, P. A letra e a voz: a ´literatura´ medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1993

Jornal Correio da Manhã, de 9 de maio de 1947 a 31 de julho de 1947.

Jornal Folha de S. Paulo, 21 maio 2009.Muito barulho por nada. (entrevista com Bárbara Heliodora por Lucas Neves) V. Tb.Bárbara Heliodora a sua tradução: William Shakespeare: Teatro Completo, Vol. I e II e III.

MADEIRA ou Iggnacio, Gisele. Paschoal Carlos Magno (1906-1980): mosaico de um Culturalista (tese de doutorado/PUC-SP, 2000).


[1] Em 15 de julho de 1947, à rua Desebargador Isidro, 135, na Tijuca (RJ), casa cedida por Ricardo Jafet à empreitada de Paschoal Carlos Magno. O diário da Concentração foi todo publicado pelo jornal Correio da Manhã, em parte sendo relatado pelo diretor de cada grupo, por exemplo: Hermilo Borba Filho (Pernambuco), José Ceschiatti (Minas Gerais), Samuel Legay (Rio Grande do Sul), Edson de Almeida Prado (São Paulo), Paschoal Carlos Magno (Rio de Janeiro).

Série Paschoal Carlos Magno III: O Teatro Duse – uma nau de trilhos e bondes

12 jul

Por Gisèle Miranda

… Rio de Janeiro, e vivi grande parte da minha vida lá no morro de Santa Tereza, onde vivo até hoje e onde espero morrer… (MAGNO, P. C., 1980)

Teatro Duse, hoje, Casa Paschoal Carlos Magno, situada  na (ladeira) Hermenegildo de Barros, 161, em Santa Teresa, na cidade do Rio de Janeiro. O Duse nasceu sob o jugo de luzes e aplausos em 2 de agosto de 1952:

 Instituindo a alusão topográfica – ele (Paschoal Carlos Magno) monta o seu teatrinho ´Duse´ na ladeira íngreme de um bairro caído em ostracismo. Há gente, muita gente subindo pelas escarpas com devoção de que sobe a Penha… cem pessoas dento do teatrinho Duse representam moralmente seis mil assinantes do Teatro Municipal… (Globo, 23 jun. 1953.)

 Poltronas confortáveis verdes-brancas… paredes verde-claro… cortina branca… iluminação indireta através dos olhos de vidro das máscaras gregas esculpidas por Stélio Alves de Souza…  (Tribuna da Imprensa, 5 ago. 1952)

Em 1938, Paschoal clamava: talvez num porão, num sótão como Little Theatre… na falta de outro local, na minha casa na boa companhia de meus livros, quadros e bronzes…(Jornal dos Theatros, 3 jun. 1938.)  O Teatro Duse de 1952 foi um desdobramento do Teatro do Estudante do Brasil de 1938, época em que os estudandes usavam uniformes – saias e calças pretas, camisas e blusas brancas com as iniciais TE.

Teatro do Estudante no Teatro Duse - alunos no início da década de 1950

Teatro do Estudante no Teatro Duse – alunos no início da década de 1950

O Teatro Duse fechou suas portas em 1956; reabriu, fechou e reabriu. Em 1985, a casa foi “considerada bem cultural de Santa Tereza.” Desse pequeno teatro profissões antes se quer respeitadas foram definidas. Destaques à nossa literatura com textos de Ivan Pedro Martins, José Paulo Moreira da Fonseca, Hermilo Borba Filho, Raquel de Queiróz, Antonio Callado, Lúcio Fiúza.... entre muitos. Nossa língua valorizada e compreendida.

No térreo da casa, o Teatro Duse. No andar de cima, a morada da família Carlos Magno que também acolhia estudantes: … que nenhum dos estudantes fique sem jantar e tenha um leito, arrumado no palco, na biblioteca ou mesmo sobre a palha dos velhos sofás… . (Vicente, Jornal de Imprensa, 5 ago. 1952)

Paschoal morreu na cidade do Rio de Janeiro em 24 de maio de 1980. Pouco antes esbravejou, em tom de praga, a todos que alimentavam a ignorância. Afinal, ele era de uma família predestinada… que tem vocação suicida. Uma família que em vez de amealhar dinheiro, amealha livros, quadros, paixões… todos nós trabalhamos pela cultura. (Magno, O. C., 1993, 194)

Referências: MADEIRA ou IGGNACIO, Gisele. Paschoal Carlos Magno (1906-1980): mosaico de um Culturalista (tese de doutorado/PUC-SP, 2000).

Série Paschoal Carlos Magno II: “Sol sôbre as palmeiras”

12 jul

Por Gisèle Miranda

Vou Paschoalando pelas ruas… Dom Quixote aparece sem auréolas, simplesmente como um ser humano, cuja justificação – é preciso dar-lhe alguma? – é de não ser unilateral, mas de alma que se renova com a fôrça universal de cada sonho. (MAGNO, P. C., 1969)

Paschoal ou Lúcio?

“Sol sôbre as palmeiras”(1962) foi o segundo livro de Paschoal Carlos Magno; é um romance histórico e autobiográfico com espacialidade delineada pelo morro de Santa Teresa ou morro Paula Matos, na época, bairro de ostracismo da cidade do Rio de Janeiro.

Lúcio – personagem central. Seu Chico, o pai, autodidata e criador do teatro da família Carlos Magno. Ele lia para os filhos e descrevia o que imaginava ter visto. Quando titubeava, no dia seguinte retornava ao assunto após pesquisas.

Dona Josefa, a mãe fervorosa em sua religiosidade que explicitava nos cômodos da casa imagens de santos católicos. No dia a dia, a compra fiado do pão, inadimplência dos alugueres, mas a cumplicidade junto ao marido à compra de muitos livros e, até: de Madona à Duse – sementes do Teatro Duse:

Seu pai é doido… substituir a Madona por um retrato de atriz… – Não o leve, mamãe… Veja: (Lúcio apontava à Duse) – tem um ar de Madona. E nessa noite Lúcio não se espantou de encontrar acesa a lamparina junto do retrato de Eleonora Duse-Checchi (1858-1924). Nessa noite e daí por diante. (MAGNO, 1922, p. 20-21)

Elenora Duse-Checchi, s/d

Em 1947, a atriz Henriette Morineau durante a famosa Concentração do Teatro do Estudante, sequenciou a crença do Teatro do Estudante celebrando e glorificando a madona Eleonora Duse: …com os olhos enevoados… abriu a bolsa e tirou uma nota que depositou no chão de veludo escuro do altar. (Jornal Correio da Manhã, 31 jul., 1947.)

Elenora Duse-Checchi, 1922.

A atriz Eleonora Duse esteve no Brasil, em 1885. A cidade do Rio de Janeiro foi a primeira de sua carreira internacional.  Mas o grande público da “prim´attrice assoluta” ainda não existia nos trópicos. Ressentida com poucas palmas, cadeiras vazias e, apesar das notas de jornais de alguns admiradores, deixou registrado:

um grande, grande teatro… murmúrios ininterruptos na platéia e nos camarotes, do princípio ao fim da peça… eles não conhecem de minha voz senão uma parte infinita e miserável, sem falar das dificuldades da língua (minha doce língua italiana, ao lado dêsse português tão rude, e do brasileiro ainda pior… (trecho da carta enviada por Duse à Mathilde Serao; carta publicada em A vida de Eleonora Duse, de Max Reinhardt)

Duse retornou ao Brasil, em 1907. Desta vez, ovacionada pelo público, porém mais amargurada do que nunca. Sequer concedeu entrevistas, isolando-se até dos amigos, atitude que encolerizou Arthur de Azevedo:

Duse, a inacessível Duse, que fugindo a reportagem e aos Kodaks, torna-se quase um mito… neurastenia? aborrecimento?… vaidade? orgulho? ou desprêso de Deusa para com os míseros mortais?  (ABREU, 1958, p. 15)

Quem foi Eleonora Duse para Paschoal Carlos Magno? Não apenas a capacidade imensurável às interpretações, mas a figura imponente de mulher, sua trajetória de vida determinada pelo mambembe – em qualquer lugar e em qualquer hora. Princípio este que articulou as bases do Teatro do Estudante do Brasil, as Caravanas e Barcas da Cultura, Teatro Duse e Aldeia de Arcozelo.

Para Paschoal, as reações adversas de Eleonora Duse no Brasil deveu-se a pressão de um momento pessoal desesperador – do falecimento do ator de sua companhia (e também seu amante esporádico) Arturo Giotte, acometido de febre amarela pouco depois de desembarcar no Brasil em sua primeira tournée. Além, é claro, da pouca receptividade do público brasileiro.

Referências

ABREU, Brício. Eleonora Duse no Rio de Janeiro (1885-1907). Rio de Janeiro: MEC, SNT, 1958.

MADEIRA OU IGGNACIO, Gisele. Paschoal Carlos Magno (1906-1980): mosaico de um culturalista. São Paulo: 2000. Tese (doutorado em História) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.

MAGNO, Orlanda Carlos. Pequena história do Teatro Duse. Rio de Janeiro: SNT, 1973.

MAGNO, Paschoal Carlos. Tempo que passa. Rio de Janeiro: s/ed., 1922.

_____________________. Sol sôbre as palmeiras. Rio de Janeiro Letras e Artes, 1962.

_____________________. Não acuso nem me perdôo: diário de Atenas. Rio de Janeiro: Record, 1969.

_____________________. Poemas do irremediável. Rio de Janeiro: Cátedra, 1972.

_____________________. Tudo valeu a pena. m.s, s.d.

REINHARDT, Max. A vida de Eleonora Duse. Rio de Janeiro Livraria José Olympio Editôra 1940.

Série Paschoal Carlos Magno I: O Teatro de Paschoal Carlos Magno – O ofício em suas considerações (*)

11 jul

por Gisèle Miranda

Sergio Cardoso (Belém, Pará, 1925 – Rio de Janeiro, RJ, 1972), Paschoal Carlos Magno (Rio de Janeiro/RJ, 1906 – idem, 1980) e Procópio Ferreira (Rio de Janeiro/RJ, 1898 – idem, 1979) em visita ao ensaio de Hamlet no Teatro Duse. (Jornal Diário da Noite, 19/01/1948, arquivo Brício de Abreu – SNT/ FUNARTE/RJ)

A temporalidade da criação deste texto não deve ser medida sem a subjetividade do ofício. Sabê-lo atual faz lembrar as entranhas da pesquisa. Portanto essas entranhas são no vigor da escrita, louros à pesquisa histórica, ou seja, livros, memórias, fontes e tal, convergindo em devires da escrita – sobre palcos e palmas, em sonoridades ou vertigens e pleno de raízes híbridas que aliás, vos apresento.

Em tese deixei registros de minha própria escrita, ora à revelia, ora em consonância às sugestões de outrem (entre áreas, conceitos).

A temática foi sendo esculpida e as imagens pulsaram. Os critérios de definição foram gestados no rigor do trabalho, mas deixando em liberdade à escrita, que por sua vez foi cria do indomável – em verso, prosa, posta em cena, na expressão do corpo, na fala, no ver e ouvir o que o multifacetado mundo artístico produz.

Por isso, dediquei uma temporalidade epitelial para compor a pesquisa sobre Paschoal Carlos Magno (Rio de Janeiro/RJ, 1906 – idem, 1980), a partir de questões morais, políticas, culturais e de deslanche do Teatro Moderno (PRADO, 1996, p.11: 39), que com tanta primazia foi estudado por Décio de Almeida Prado (São Paulo/SP, 1917 – idem, 2000), um dos raros autores a enfocar o nome de Paschoal Carlos Magno como um grande crítico de teatro, realizador e mentor do Teatro Amador no Brasil.

Ademais, sinto-me na audácia de expor alguns pontos que permearam a criação deste ensaio, e que de certa forma fazem ressonância na relação que muitas vezes estabelecemos com o mundo – a de espectadores -, que em si comportam olhares diferenciados – ricos de textualidades. (GUATTARI, 1992, p. 25)

Entre as preocupações surgidas encontrei o termo biografia, que em princípio pareceu-me cabível; a posteriori hesitei – optando por denominar a escrita como mosaica, embora ela carregue consigo a pesquisa biográfica.

Peço emprestado a Procópio Ferreira um fragmento de seu pensamento quando, evocando o labor do biógrafo propôs flanar sobre “retalhos catados aqui e ali, pacientemente, num mosaico de idéias e de episódios.” (BARCELLOS, 1999, p. 12) Diria que esses retalhos foram instrumentais de perenes leituras. Entre elas, uma discussão sobre biografia histórica, encabeçada por duas hagiografias – uma de São Francisco de Assis e outra de São Luís – do renomado historiador Jacques Le Goff (Toulon, França, 1924 – Paris, França, 2014).

O termo biografia, defendido por Le Goff não deixou de exprimir as dificuldades quanto à qualidade de publicações biográficas, “abundantes há alguns anos…”, contudo, sendo “a maioria dessas obras anacronicamente psicológicas” – pendendo aos valores do mercado oportuno. (LE GOFF, 1999, p. 20-21)

Independente do termo aplicado, compartilho com Le Goff, não apenas o afinco da pesquisa histórica, mas a carga particular da biografia “em meio a crise de mutação geral das sociedades ocidentais”; também levando a reflexão a questão do sujeito na biografia (o sujeito globalizante), dimensionado como uma procura utópica, por causa dos vácuos e “disjunções, que rompem a trama e a unidade aparente”.

Em meio a essas disjunções, o mosaico proposto tem seus feixes ficcionais, permitindo os encantos das utopias – à flâmula do desejo, da fantasia e da liberdade de criação como sugere o historiador Hilário Franco Jr. (São Paulo/SP, 1948 -), em Cocanha, prefaciado por Le Goff.

O corpus biográfico da tese foi um fato; contudo, plasticamente vislumbrado como um mosaico cortado incessantemente por experimentalismos e cenas clássicas.

Dadas essas premissas e para encerrar essas considerações proponho a abertura das cortinas desse palco imaginário.

Respeitáveis leitores, apresento-vos: Paschoal Carlos Magno em um mosaico cultural!

Lúcio ou Paschoal? É a partir do romance histórico: “Sol sôbre as palmeiras” marco autobiográfico com espacialidade delineada e identificada pelo morro de Santa Teresa ou morro Paula Matos, na cidade do Rio de Janeiro, que o menino Lúcio personagem de Paschoal, frágil, enfermo torna-se o poeta e escritor/redator do jornal da família até chegar a ser o crítico e teatrólogo de larga importância no Brasil.

O percurso da diplomacia (1933-1968) foi para Paschoal, o caminho de formação intelectual e cultural. Mas seu ensejo por retornar ao Brasil foi se dando através da poesia e dos diários escritos em Atenas, Milão, entre outros lugares.

As idas e vindas do andarilho consular não fraquejou os importantes momentos de sua afirmação como animador e incentivador cultural e até mesmo como mecenas assalariado. Mas foi na política que viu uma possibilidade de estabelecer-se no Rio de Janeiro. E, de certa forma criando um personagem pitoresco, comumente estigmatizado de “louco” e muito pertinente em tempos de ditadura militar.

Como louco foi passando por funis e estabelecendo as bases de seu teatro. Paschoal foi pouco cerceado pelo duro período, muito embora tenha declarado que “houve quatrocentos Teatros de Estudantes no Brasil, mas 1964, matou-os um a um.” (PASQUIM {197-}, p. 13-14. )

Muitas das pessoas que ficaram durante esse período, só conseguiram manter-se vivas através dos comboios culturais, em tese pouco vigiados, e em geral sob os auspícios do “louco e inofensivo” – como era chamado Paschoal pelos militares. Esse estigma foi oportuno para lançar as bases de resistência. Pois, era incomum imaginar uma grande quantidade de jovens aglomerados em trajetos pouco ou nada controlados, ditados pelas Barcas e Caravanas da Cultura (1963/1964/1968/1974/1975).

As Barcas foram projetadas por Paschoal para trafegar pelo Rio São Francisco; as Caravanas eram desdobramentos das Barcas, ou seja, trajetos realizados por terra, em regiões do Norte e Nordeste do Brasil: “…256 brasileiros… oito ônibus, dois caminhões carregando toneladas de livros e discos… 274 espetáculos…” (O Jornal, 1967).

As bases do teatro “paschoalino” eram polivalentes e improvisadas, além de buscar respeitabilidade para profissionais do teatro e princípios coletivizados em diferentes momentos, burlando as dificuldades quanto à ausência de investimentos.

Sua trupe era formada por moços que povoaram várias das construções de Paschoal, como o Teatro do Estudante do Brasil (1938), Teatro Duse (1952) e Aldeia de Arcozelo (1965). Tais empreendimentos elevaram Paschoal ao título de “Estudante Perpétuo do Brasil”, dado pela UNE (1956). Também acolheu e apoiou o Teatro Experimental do Negro, em 1944.

Paschoal Carlos Magno (Rio de Janeiro/RJ, 1906 – idem, 1980), Esther Leão  (Lisboa, Portugal, 1892 – Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1971), Jorge Kossonsky cercados pelos estudantes de Teatro, década 1940. (Acervo da família Carlos Magno)

Assim, os primeiros Festivais de Teatro foram se dando de maneira minuciosa quanto à formação. O grande exemplo fora a “Concentração dos Estudantes” à realização do Festival Shakespeare. Aulas de canto, esgrima, danças, línguas, palestras e leituras de textos.

Paschoal Carlos Magno, Rosa Carlos Magno e os 17 dos 18 estudantes de teatro que receberam bolsas de estudos na Europa – atividade criada e coordenada por Paschoal. Na foto: Otavinho Arantes, Alberto Carlos Magno, Isaac Bardavid, Ubiratan Teixeira, Oton Bastos, Valter Ponti, Armando Maranhão, Paulo Salgados dos Santos,  Maria Carimen Romcy, Orlando Macedo, Elida Gonçalves, Eduardo Garcez, Miriam Carmem, Tereza Raquel, Celme Silva – faltando no grupo Fernando Amaral. (Acervo da família Carlos Magno)

Como rebate das más línguas quanto aos grupos mistos, um diário de atividades publicados no jornal Correio da Manhã, oferecendo à aproximação do público, uma série de atividades monitoradas por profissionais que balizaram a seriedade da proposta.

Muito antes do primeiro albergue da juventude no Brasil (1973), Paschoal já lotava sua antiga residência – o Teatro Duse – acolhendo artistas e estudantes de passagem. Mas a sua primeira e grande postura se deu em 1929 com a criação da Casa do Estudante – parceria de Paschoal com d. Anna Nery.

Os primeiros Festivais de Teatros criados por Paschoal foram: I Festival (Recife, 1958), II Festival (Santos, 1959), III Festival (Brasília, 1961), IV Festival (Porto Alegre, 1962), V Festival (Rio de Janeiro, 1968), VI e VII Festivais (Aldeia de Arcozelo, 1971 e 1976); nomes como João Cabral de Mello Neto (Recife, Pernambuco, 1920 – Rio de Janeiro, RJ,1999), B. de Paiva (Fortaleza, Ceará, 1932 -), Plínio Marcos (Santos, SP, 1935 – São Paulo, SP, 1999), Sergio Cardoso (Belém, Pará, 1925 – Rio de Janeiro, RJ, 1972), Ariano Suassuna (João Pessoa, Paraíba, 1927 – Recife, Pernambuco, 2014), entre muitos outros nomes surgiram sob a égide de Paschoal.

Ariano Suassuna (João Pessoa, Paraíba, 1927 – Recife, Pernambuco, 2014), Miroel Silveira (Santos, SP, 1914 –  São Paulo, SP, 1988), Hermilo Borba Filho (Palmares, Pernambuco, 1917 – Recife, Pernambuco, 1976), e Paschoal Carlos Magno (Rio de Janeiro/RJ, 1906 – idem, 1980), 1959 (?). (Folha de São Paulo, 26 maio 1980)

A Aldeia de Arcozelo foi criada para ser uma Universidade Livre de Artes, mas pereceu pela falta de recursos e até como local último do desatino de Paschoal – ao ver-se endividado proclamou aos quatro ventos que iria atear fogo ao local.

Também foi na Aldeia de Arcozelo, sob controle da FUNARTE, que me deleitei em pesquisas (1999).  Na época, o local estava ermo, os documentos estavam jogados entre traças e destruição. Cheguei a propor à FUNARTE uma organização em mutirão com uma equipe de pesquisadores. Nunca tive um retorno de aceitação, nem mesmo dos meus préstimos pessoais em ato isolado. Alguns ofícios, cá e lá, entradas e saídas de seus representantes, e palavras de prioridades que rolaram ao vento.

A historiadora Gisele Miranda em seu ofício na Aldeia de Arcozelo/Paty do Alferes. (Foto de Maria do S. Nepomuceno, 1999)

O que eu pude registrar em documentos e fotos foram capitaneados para a construção da tese, além de vários outros textos que foram surgindo ao longo de uma temporalidade que permeou cerca de nove anos desde o término da tese. E, incansável, referendo este novo texto, e um projeto de refazer os trajetos das Caravanas e Barcas da Cultura.

Desenho livre do arquiteto Guilherme Madeira. Aldeia de Arcozelo, 1999

(*) Texto criado para a Revista Contexto (Revista Semestral do Programa de Pós-Graduação em Letras – Universidade Federal do Espírito Santo): Dossiê o Teatro e suas arenas, n. 17 – 2010-1, p. 43 a 53.

Referências:

BARCELLOS, J. O Mágico da expressão. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1999.

BARCELLOS, J. CPC da UNE: uma história de paixão e consciência. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.

BHABHA, H. K. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

CHARTIER, R. Do palco à página: publicar teatro e ler romances na época moderna (séculos XVI-XVIII) Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2002.

COELHO, T. Dicionário crítico de política cultural: cultura e imaginário. São Paulo: FAPESP: Iluminuras, 1997.

FALCON, F. História Cultural: uma nova visão sobre a sociedade e a cultura. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

FRANCO JR., H. Cocanha: a história de um país imaginário. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.

GUATTARI, F. Caosmose: um novo paradigma estético. Rio de Janeiro, Ed. 34, 1992.

LE GOFF, J. São Francisco de Assis. Rio de Janeiro: Record, 2001.

LE GOFF, J. São Luis: biografia. Rio de Janeiro: Record, 1999.

MAGNO, Orlanda Carlos. Pequena história do Teatro Duse. Rio de Janeiro: SNT, 1973.

MAGNO, Paschoal Carlos. Poemas do irremediável. Rio de Janeiro: Cátedra, 1972.

MAGNO, P. C. Não acuso nem me perdôo: diário de Atenas. Rio de Janeiro: Record, 1969.

MAGNO, P. C. Sol sobre as palmeiras. Rio de Janeiro: Letras e Artes, 1962.

MAGNO, P. C. Tudo valeu a pena. m.s., s.d.

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