por Lia Mirror, Gisèle Miranda e Laila Lizmann
“… Minha alma imortal… que venha a manhã com brasas de satã…”
Arthur Rimbaud (Charleville-Mézères, 1854- Marselha, 1891)
Decidi colocar minha alma à venda. Corri para conversar com Thomas Mann que de imediato indicou-me o dr. Fausto. Antes de assumir sua dialética visão de liberdade que lhe valeu a alma, gritei: – minha alma imortal está à venda!!!
Exclui a carne tal como ele (s). Quanto vale minha alma? Um Dürer? Afinal, todos os planetas convergem para o signo de Escorpião bem como mestre Dürer os desenhou sabiamente no folheto medical. (1)
Minucioso Dürer! Os bons sentidos te louvam por suas gravuras; só o olhar próximo pode dimensionar o tamanho do que você fez. Percorro cada centímetro dos seus sentidos. Ah, essas Luzes do Norte!
Dürer (Nuremberg, 1471 – Nuremberg, 1528), O Cavaleiro, a Morte e o Demônio, 1513. Gravura sobre metal 25,19 cm.
– Inclino-me a comparar sua solidão com um abismo, no qual se aprofundam, sem ruído nem rastro, os sentimentos…, disse-me dr. Fausto em consulta. (2) Interrompi sua fala para dizer que segundo meu amigo ancião: – a solidão é um porvir para poucos! Complementei cantarolando: …vou botar minha alma à venda… nada vem de graça, nem o pão nem a cachaça… [3]
Dr. Fausto riu como Miller. Meus olhos foram atravessados a nado. Nesse percurso vi e ouvi trechos do escárnio da vida. Alguns vinham de Henry Miller, outros de Thomas Mann até chegar Robert Louis Stevenson.
Ao ampliar meu olhar naquele mar de palavras, vi o retrato de Dorian Gray. Pedi a dr. Fausto que parasse com aquela miscelânea e que fôssemos direto ao ponto, ou seja, a venda de minha alma.
Dr. Fausto riu como Mr. Ryde. Vi uma figura que “assemelhava-se a uma gravura de Albrech Dürer – uma mistura de todos os demônios sombrios, irascíveis, taciturnos…” (3).
Quando dei por mim, ouvi em sussurros…sua alma merece um Dürer, disse Miller.
Dürer (Nuremberg, 1471 – Nuremberg, 1528), Detalhe da assinatura de Albrecht Dürer em O Cavaleiro, a Morte e o Demônio, 1513.Notas:
(1) Mann, 1947: 313
(2) Mann, 1947: 11
(3) Zeca Baleiro, Babylon, 2000.
(4) Henry Miller, Trópico de câncer
Referências:
MANN, T. Doutor Fausto (I). Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1947.
MILLER, H. Trópico de Câncer. Trad. Aydano Arruda. Rio de Janeiro: O Globo: São Paulo: Folha de S. Paulo, 2003.
RENASCIMENTO Alemão: gravura da coleção Rothschild colletion. Texto Teixeira Coelho, Pascal Torres. São Paulo: Comunique Editorial, 2012.
STEVENSON, R. O estranho caso de Dr. Jakyll e Mr. Ryde. Rio de Janeiro: Clássicos Econômicos Newton, 1996.
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