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O TECER dos 13 anos do Blog TECITURAS (2010-2023)

30 out

por Gisele Miranda, Lia Mirror & Laila Lizmann

O Blog Tecituras nasceu nas paredes de um quarto – gestado e parido. As palavras foram esculpidas, ora na pena, ora com as unhas. O caos, a dor e a “solidão do porvir de poucos” atentou que a “consciência sobrevive a qualquer circunstância”. As incisivas palavras são do artista Gontran Guanaes Netto (1933-2017), amigo, professor e tutor.

Gontran Netto nos deu a honra de sua colaboração no Tecituras com suas obras e suas reflexões, seus escritos e interferências.

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A homenagem dos 13 anos do Tecituras vem de um conteúdo Histórico, Artístico, Crítico e Político. De conteúdo imaterial, inquietações do pensamento à escrita com o objetivo de compartilhar conhecimentos, experienciar e zelar pelos bens culturais, com colaboradores – com ou sem vínculos acadêmicos e com uma bagagem de textos não perecíveis ao tempo, atualizados, conscienciosos de sua necessidade, por isso, nossa justa homenagem a Gontran Guanaes Netto. Há inúmeros textos sobre sua arte, sua luta, além de tutelar um pequeno espaço tecido ao longo desses anos com pesquisas sobre as obras de Antonio Peticov, Emmanuel Nery, Paschoal Carlos Magno, entre outros temas.

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O conteúdo artístico faz uma grande diferença. O conteúdo crítico é uma filtro necessário frente a educação da exclusão. Dessa homenagem tecemos reverência ao ofício dos professores em situações de risco e pobreza.

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Nosso Brasil tão diverso, nascido de um histórico de pura violência, dos séculos de escravidão, da exclusão, dos preconceitos. Esses séculos não foram sanados, tão pouco, os 21 anos de violência da ditadura civil e militar no Brasil, porque não há consciência histórica.
As ditaduras devastaram toda a América Latina, torturaram, violentaram, reprimiram, subornaram, difamaram e mataram. Toda essa herança resiste cada vez mais, estratificada nos professores, na moral da violência e da submissão material, na baixa remuneração, na ausência dos livros, das leituras, do tempo, das escritas à “missão impossível”.
Entre a teoria, o discurso frio e confortável há o extremo da prática nada confortável. Entre as fases antagônicas existem mais falas sujas, oportunas e arrogantes. Sem dúvida, a figura opressora tem cúmplices entre os próprios oprimidos. (1)

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Entre os traumatizados há sobreviventes, independente da indexação, do conforto, da assepsia, da insensibilidade, do apodrecimento, dos muros onde os discursos, principalmente econômicos falam mais alto, não por acidente, mas por natureza.

(1)  BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo Vol 2: A Experiência Vivida, Difusão Européia do Livro, 1967. “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.

(2)  DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Ed. 34, 2010, p. 221. 

Série MANTOS I: Cultura Artística & Histórica – Teatro.

30 out

por Gisele Miranda

A Série MANTOS foi confeccionada à memória coletiva e à história da cultura brasileira, de 1989 até 2019, com espetáculos teatrais, filmes, exposições e shows na cidade de São Paulo.

Os bilhetes culturais e artísticos foram costurados no tecido e conjugados à pesquisa histórica. Embora não estejam todos os bilhetes, mas, os que estão remetem aos bilhetes da memória, através dos diretores, atores, autores a um amplo conteúdo ligado a literatura, música, dança, pintura, teatro, cinema, portanto, um conteúdo de uma geração, acessibilidade, valores e investimentos materiais e imateriais.

Os três Mantos da Série passaram por encontros teóricos e ficcionais com Arthur Bispo do Rosário (1909? -1989), na sagração e na fé dessa missão. Com Leonilson (1957-1993), nos bordados cruciais à critica. E com Hélio Oiticica (1937-1980), quando os Mantos tornaram-se Parangolés na realidade marginal e anti heroica.

O primeiro Manto tem 101 espetáculos costurados, entre peças de teatro, óperas e shows, dedicados à memoria do Culturalista Paschoal Carlos Magno*(1906 –1980). Paschoal ensinou que todos nós, poetas, temos nossos barcos no ar, na terra e no mar e que o teatro é educação, que a arte transforma e que cultura é essencial à vida.

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O Manto I começou em 4 de julho de 1989, em uma nítida despedida da cidade do Rio de Janeiro com RIGOLETTO, Ópera de Giuseppe Verdi (1813-1901), para adentrar, em meados dos anos de 1990, na cidade de São Paulo. Dos 101 espetáculos, 30 estão sem datas, criando vácuos na temporalidade**. São 33 espetáculos infantis que compartilhei com o meu filho, dos 3 aos 12 anos.

Ao lembrar do espetáculo Cacilda, homenagem que José Celso Martinez fez a Cacilda Becker, invariavelmente, lembro da potência da atriz Beth Coelho Esperando Godot, de Samuel Beckett. 

Quando costurei Vozes Dissonantes, de Denise Stoklos, imediatamente lembrei de sua Mary Stuart. Chorei por não ter guardado o bilhete do espetáculo Louise Bourgeois, pois foi naquele momento que me apaixonei pela obra de Bourgeois.

Ao tecer OTELO, de William Shakespeare com Norton Nascimento, no Teatro Municipal de São Paulo, veio a tona outro bilhete perdido, Orlando, com Fernanda Torres nua no palco do Teatro Municipal. Na costura da memória, a Fernandinha trouxe a dama Fernanda Montenegro em The Flash and Crash Days, de Gerald Thomas. A direção foi impressionante! Lembrar de Gerald Thomas é rever Ventriloquist, a trilogia Kafka, Esperando Beckett.

Também não encontrei o bilhete do Quadrante, com Paulo Autran, espetáculo que vi no Teatro Municipal de São Paulo. Nem da Família Addams, com Marisa Orth, no Teatro Renault. Quer dizer, estou encontrando todos na memória. A memória como dizia Umberto Eco, “tem que ser exercitada”. 

Quanto aos shows, vi muitas vezes Zizi Possi, Angela Rorô, Raul Seixas. Vi Renato Russo, no Pacaembu. Perdi Astor Piazzola, no Municipal de São Paulo. Vi Novos Baianos.

Alguns shows que assisti foram a trabalho (freelancer) na produção e como sempre, sentindo-me privilegiada com Elza Soares, Antonio Adolfo, Turíbio Santos, Marcos Valle, o grupo Azymuth, Carlos Lyra, Dulce Quental.

Olhar para trás é me sentir protegida daquele caos pandêmico e do atentado a humanidade personificado por um energúmeno negacionista apoioado por golpistas. Olhar para trás é ver construções com conteúdo artístico, o que faz muita diferença e acrescenta à pesquisa e à produção científica.

No mais, em meio aos alfinetes, agulhas, linhas, tecidos, papéis e sangue – há muita luta, arte, história, política, crítica e sobrevivência.

Abaixo, alguns bilhetes listados.

  1. RIGOLETTO, Ópera de Giuseppe Verdi (Roncole verdi, Itália, 1813- Milão, Itália, 1901). Teatro Municipal do Rio de Janeiro, julho 1989.
  2. Dom Pasquale. Obra de Donizetti (Bérgamo, Itália, 1797 – idem, 1848), Teatro Municipal do Rio de Janeiro, julho de 1989.
  3. Fragmentos de um discurso amoroso. Texto de Roland Barthes. Adaptação Teresa de Almeida. Direção Ulisses Cruz. Música de André Abjamra. Cenografia e figurinos Ninette Van Vuchelen. Com Antonio Fagundes. Teatro Cultura Artística de São Paulo, 1989.
  4. Martha Graham Dance Company. Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Carlton Dance Festival, 1989.
  5. Jornada SESC  de Teatro (SESC dr. Vila Nova), São Paulo/SP. De 8 a 21 de julho de 1996.
  6. O Professor. Teatro Municipal de São Paulo, 26 janeiro 1997.
  7. O Feminino na Dança. Com palestras de Helena Katz, Christine Grener, Cássia Navas, e Fabiana Dutra Brito. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes. De 30 de abril a 1 de junho de 1997.
  8. A Quarta Estação, de Israel Horovitz. Direção Fauzi Arap com Juca de Oliveira e Denise Fraga, no Teatro Cultura Artística. Sala Rubens Sverner, 14 julho 1997.
  9. Otello, de Giuseppe Verdi. Regência Isaac karabtchevsky. Orquestra Municipal, Coral lirico e solistas. Teatro Municipal de São Paulo, 29 agosto 1997.
  10. O Masculino na Dança. Com Workshops de Sandro Boreli, Mário Nascimento, Edison Garcia, Sérgio Rocha. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes. De 3 a 21 de setembro de 1997.
  11. Cavalleria Rusticana I Pagliacci. Orquestra e coro do Teatro Municipal de São Paulo & artistas convidados, 23 setembro 1997.
  12. Antígone, de Sófocles. Direção Carlos Gardin. Teatro Tuca Arena, 26 setembro 1997.
  13. Bananas de pijamas vão ao teatro. Teatro Jardel Filho, 16 novembro 1997.
  14. O Diário de um Louco. De Gogol, adaptação livre de Luiz Conceição. Teatro Villa Lobos, Rio de Janeiro, RJ, novembro 1997.
  15. Uiva e vocifera, de Hamilton Vaz Pereira. Teatro Oficina, 10 abril 1998.
  16. Tio Vânia, de Anton Tchecov. Direção Elcio Nogueira. Teatro Brasileiro de Comédia, 24 abril 1998.
  17. Concerto Wagner – Strauss. Regente Gabor Otvos. Soprano Hildegard Behrens. Teatro Municipal de São Paulo, 4 maio 1998.
  18. Senninha e sua turma no teatro. Direção Renata Soffredini. Com Fernando Lyra Jr. Teatro Bibi Ferreira, 5 maio 1998.
  19. Porca Miséria. Comédia de Jandira Martini e Marcos Caruso. Direção geral Gianni Ratto. Teatro Sérgio Cardoso, 5 julho 1998.
  20. Em nome do Pai. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, 11 julho 1998.
  21. Exercício para Antígona. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, 15 julho 1998.
  22. O Pequeno príncipe. Teatro Ruth Escobar. Sala Mirian Muniz, 9 agosto 1998.
  23. Narrador. Centro Cultural São Paulo, piso 796, 16 agosto 1998.
  24. Doce lembrança. Centro Cultural São Paulo, piso 796, 18 agosto 1998.
  25. Dom Carlo, de Giuseppe Verdi. Direção Musical e Regência de Eduardo Muller. Direção Figurinos e Cenários de Hugo de Ana. Orquestra e coro do Teatro Municipal Solistas e Convidados. Teatro Municipal de São Paulo, 30 agosto 1998.
  26. Salomé, de Richard Strauss. Solistas convidados, Orquestra do Teatro Municipal de São Paulo, 30 setembro 1998.
  27. Branca de Neve e os sete anões. Ibirapuera, 17 outubro 1998.
  28. Ele é fogo! Texto e Direção Isser Korik. Teatro Ruth Escobar. Sala Dina Sfat, 25 outubro 1998.
  29. Romance. Teatro Crowne Plaza, 28 novembro 1998.
  30. Cacilda! Direção José Celso Martinez. Teatro Oficina Uzyna Uzona, novembro 1998.
  31. La Bohème, Ópera em quato Atos de Giacomo Puccini (1958-1924). Teatro Municipal de São Paulo, em 5 dezembro 1998.
  32. A História de Lampião Jr. e Maria Bonitinha. Teatro Paulo Autran, 21 fevereiro 1999.
  33. Palavra Cantada (Show). Paulo Tatit e outros. CD Canções Curiosas. SESC Fábrica Pompéia, 28 fevereiro 1999.
  34. As aventuras de Pinóquio. Teatro Paiol, 07 março 1999.
  35. A Bela e a Fera. Texto e Direção Tatyana Dantas, com Fernanda de Souza e Felipe Folgosi. Teatro Sergio Cardoso, 17 abril 1999.
  36. O violino mágico, de Júlio Fischer. Direção Christina Trevisan. Teatro Sérgio Cardoso, 2 maio 1999.
  37. The Addam´s. Texto de Edmundo de Novaes Gomes. Direção Carlos Gradim. Teatro Ruth Escobar, sala Gil Vicente, 22 maio 1999.
  38. Marcelo, marmelo, martelo. Teatro Jardel Filho, 8 agosto 1999.
  39. Hércules. Ibirapuera, 25 setembro 1999.
  40. O terror dos mares. Adaptação Ronaldo Ciambroni. Direção Cesar Pezzuoli. Teatro Imprensa, 2 outubro 1999.
  41. Fragmentos troianos. Direção Antunes Filho. Teatro SESC Anchieta, 04 março 2000.
  42. AMOR – uma ode ao universo feminino de Clarice Lispector. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes, 18 maio 2000.
  43. Filhos do Brasil. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, maio 2000.
  44. Cartas de Rodex. Centro Cultural São Paulo, espaço cênio Ademar Guerra, maio 2000.
  45. Raul fora da lei. Centro Cultural São Paulo. Sala Adoniram Barbosa, maio 2000.
  46. Semana de Dança. Centro Cultural são Paulo. Sala Jardel Filho, junho 2000.
  47. Anjo duro, de Luiz Valcazaras. Com Berta Zemel. Teatro Sergio Cardoso, 02 julho 2000.
  48. N X W Série Pocket Opera, de Gerald Thomas. Teatro SESC Ipiranga, 22 julho 2000.
  49. Angela Ro Ro (Show). Tom Brasil, 16 dezembro 2000.
  50. Deborah Colker – MIX – Teatro Sergio Cardoso, 26 setembro 2001.
  51. A Terra Prometida, de Samir Yazbek. Sesc Anchieta, 13 outubro 2001.
  52. Uma aventura mágica com o Monstro Brigueiro. Texto e direção Isser Korik. Teatro Folha, 5 janeiro 2002.
  53. Conferência Pierre Levy. Teatro Vila mariana, 29 agosto 2002.
  54. João e Maria  Ópera em 3 Atos. Baseado na história dos Irmãos Grimm.  Libreto de Adelheid Wette. Música de Engelbert Humperdinck. Tradução de Dante Pignatari e Jamil Maluf. Teatro Municipal de São Paulo, 19 dezembro de 2002, às 18hs.
  55. Funk como Le gusta (Show). Confraria Pompéia/ SESC, 15 fevereiro 2003.
  56. O Chapéu de palha de Florença, de Nino Rota (1911-1979). Teatro Municipal de São Paulo, temporada, março 2003.
  57. Bispo. Com João Miguel. Teatro Galpão, 20 abril 2003.
  58. Vozes Dissonantes, com Denise Stoklos. Teatro João Caetano, 6 agosto 2003.
  59. Gothan SP – Fórum Cultural. Cia teatral Ueinzz. Teatro Galpão, 27 junho 2004.
  60. A Entrevista, de Samir Yazbek. Direção Marcelo Lazzaratto. Com Ligia Cotêz e Marcelo Lazzaratto. Teatro Cultura Inglesa de Pinheiros, 5 março 2005.
  61. Semana de Dança. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, 24 maio 2005.
  62. Teatro Carlos Gomes, 04 julho 2007.
  63. Luiz Melodia. Premio Victor Civita – educador nota 10. Sala Cultural São Paulo, 15 outubro 2007.
  64. Nocaute. Teatro Folha, 23 abril 2008.
  65. OTTO. Sesc (ginásio de esportes), 25 novembro 2011.
  66. A Família Addms. Texto Marshall Brickman & Rick Elice. Música e letras de Andrew Lippa. Baseado nos personagens de Charles Addams. Versão brasileira de Claudio Botelho. Com Marisa Orth e Daniel Boaventura. Teatro Abril, março de 2002.
  67. A dama do mar. Texto de Susan Sontag, baseado na peça de Hendrik Ibsen. Direção Bob Wilson. Com Lígia Cortez, Ondina Castilho, Bete Coelho, entre outros. Teatro Sesc Pinheiros, 15 junho 2013.
  68. Do outro lado. Teatro Porto Seguro, 25 outubro 2017.
  69. Elza Soares. Comedoria Pompéia/ SESC, virada cultural, 08 maio 2019.
  70. Comum. Projeto Meta-Arquivo 1964-1985 Grupo Pandora de Teatro (SP) Texto e direção Lucas Vitorino. SESC Belenzinho, 08 setembro 2019, às 18:30.
  71. Olhos Recém-nascidos com Denise Stoklos. Teatro João Caetano SP, março, s/ano
  72. Turandot, de Giacomo Puccini. Teatro Denoy de Oliveira. 25 junho s/d.
  73. Dyário de um Louko. Centro Cultural São Paulo, centrinho cultura, s/d.
  74. Vô doidim e os velhos batutas. Teatro Denoy de Oliveira, s/d.
  75. RED FANG (Show). Inferno SP, 08 setembro s/d.
  76. Cassia Eller (Show) Directv, 3 outubro s/d.
  77. Chico Buarque. Palace, 18 abril s/d.
  78. A terra do povo da graça. Centro Cultural São Paulo, sala Jardel Filho, s/d.
  79. OTELO, de William Shakespeare. Adaptação Alexandre Montauri; Direção Janssen Hugo Lage, com Norton Nascimento. Teatro Municipal de São Paulo, 11 novembro s/ano.
  80. No reino das águas claras, de Monteiro Lobato. Adaptação Maisa Montresor. Direção geral Milton Neves; direção musical Cesar Pezzuoli. Teatro Imprensa, s/d.
  81. O senho dos sonhos. Centro Cultural São Paulo, sala Jardel Filho, s/d.
  82. Simão e o boi pintadinho. Centro Cultural São Paulo, sala Paulo Emílio Salles Gomes, s/d.
  83. Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues. Direção José Celso Martinez Correa. Teatro Oficina, s/d.
  84. O menino detrás das nuvens. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.
  85. Moço em estado de sítio. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.
  86. Rumos musicais: Miguel Briamonte. Instituto Cultural Itaú, Sala Azul, piso Paulista, 5 outubro s/d.
  87. Contra Igual, de Fernando Pessoa. Centro Cultural São Paulo, s/d.
  88. O Anti Shakespeare. Centro Cultural São Paulo, porão, s/d.
  89. Avoar, de Vladimir Capella. Direção Chiquinho Cabrera e Edu Silva Filho. Teatro Imprensa, s/d.
  90. O mágico de OZ. Adaptação Sônia Fonseca. Direção Léia Marone. Teatro Cultura Tutóia, s/d.
  91. Gatos e Cia. Adaptação Meire Tumura & Maria Duda. Direção Maria Duda. Supervisão geral Attílio Riccó. Teatro Itália, s/d.
  92. As sereias da River Gauche. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.
  93. Contos, cantos e acalantos. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes, s/d.
  94. Uma Professora muito Maluquinha, de Ziraldo. Direção Renata Soffredini, s/ referência do teatro, s/d.
  95. Casa de brinquedos, musical de Toquinho, Teatro Gazeta, s/d.
  96. Pedro e o lobo. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes, s/d.
  97. Um dia de Pic & Nic. Teatro Ruth Escobar, s/d
  98. PAI, de Cristina Mutarelli. Direção Paulo Autran, com Beth Coelho, Teatro Crowne Plaza, 13 fevereiro s/d
  99. Strip Tease com Ana Lívia. Instituto Cultural Itaú. Sala azul piso Paulista, s/d
  100. Corpo a Corpo. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.
  101. O feminino na dança. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.

(*) Série Paschoal Carlos Magno I: O Teatro de Paschoal Carlos Magno – O ofício em suas considerações

30 anos da obra de Antonio Peticov -momento antropofágico.

30 out

por Gisele Miranda

        Tupy or not Tupy

(Oswald de Andrade, Revista Antropofágica, São Paulo, 1928).

&

A  operação metafísica que se liga ao rito antropofágico é a da transformação do tabu em totem… cabe ao homem totemizar o tabu (Augusto de Campos, São Paulo, 1975)

A obra de Antonio Peticov, Momento Antropofágico com Oswald de Andrade (1890 -1954), vem ratificar a importância do nosso Oswald, sua geração e o:

auto fé de um dos martins-pescadores da nossa crítica literária que tentava reduzir mecanicamente às matrizes do canibal Dada-futurista a antropofagia brasileira… conotação importante derivada do conceito de “antropofagia” Oswaldiano é a idéia da “devoração cultural” das técnicas e informações dos países superdesenvolvidos, para reelaborá-las com autonomia… (da mesma forma que o antropófago devora o inimigo para adquirir suas qualidades). (1)

Oswald teve educação privilegiada, recursos para viagens ao exterior e formação em Direito pela USP (1912); ele assumiu desde cedo um discurso vanguardista de conteúdo crítico literário. A cultura estrangeira foi o alimento ritualizado em seu Tupy or not Tupy, gestado e parido no Manifesto Antropofágico de 1928. A década de 1920 foi frutífera como autor de romances, de poemas aos Manifestos Pau Brasil (1925) e Antropofágico. Nos anos de 1930, o destaque para o Rei da Vela (1937), adentrando os anos de 1940, com mais romances e ensaios.

Oswald viveu até 1954, com dedicação exclusiva à Cultura Brasileira. Pouco antes de seu falecimento, mais um  texto para o teatro e suas memórias – O Homem sem profissão (1954). Além de textos em jornais e publicações póstumas.

Por toda a contribuição de Oswald de Andrade à nossa cultura, a justíssima homenagem de Antonio Peticov com O Mural/ instalação Anamórfico, 1990 (2) – uma Comilança geral, do qual Peticov colocou-se como prato principal.

Antonio Peticov (1946-), Momento Antropofágico com Oswald de Andrade, 1990. 16,40 m comprimento; 3,10 m de altura e 65 cm de profundidade. O Back-Light do teto tem 3,50 m x 7 m; o cilindro de aço do retrato de Oswald 191,59 cm x 30 cm diâmetro. O Pau-Brasil sobre o qual o cilindro está apoiado tem 1,20 m com diâmetro aproximado de 25 cm. Estação do metrô Praça da República, São Paulo.

Oswald de Andrade por Antonio Peticov

Em um conjunto de formas, além da Imagem de Oswald de Andrade como Totem Anamórfico, Peticov inseriu seu repertório artístico ao contexto histórico do homenageado. Diversos momentos da trajetória de Oswald foram resgatados por Peticov para compor um conteúdo necessário.

Do coletivo das almas perdidas (1918), Peticov resgatou um desenho de Ferrignac (3). De Tarsila do Amaral, Peticov resgatou seu Abaporu (1928) e o incorporou nos azulejos.

Oswald e Pagu foram resgatados na constância visual do “café Paraventi” associado ao casal Moderno, do jornal O Homem do Povo (4), periódico criado e mantido por ambos na militância política. Militância incomum a uma mulher naquela época, inúmeras vezes presa (em uma das vezes, por cinco anos), libertária no consciente papel da vanguarda, seja como jornalista e animadora cultural com firme trabalho no Teatro Amador de Santos, que lhe valeu a digna homenagem de Paschoal Carlos Magno na Aldeia de Arcozelo – “pátio Patrícia Galvão – Pagu” (5).


(1) Augusto de Campos, São Paulo, 1975, p. 6 e 7. In: Catálago Antonio Peticov, 1990.

(2) Anamorfose nas artes visuais “(do grego anamorphosis) Deformação de uma imagem formada por um sistema óptico cuja ampliação logitudinal é diferente da amapliação transversal.” In: Catálogo Antonio Peticov – Momento antropofágico, 1990. P. 4.

Link do Vídeo dos 30 anos do mural anamórfico com Oswald de Andrade, 28 de novembro de 2020. https://www.instagram.com/tv/CIMM477nNII/?utm_source=ig_web_copy_link

(3) Inácio da Costa Ferreira, o Ferrignac (1892-1958); formado em Direito, caricaturista, escritor, desenhista e partícipe da Semana de 22.

(4) Referência: O Homem do Povo, 1932. Patrícia Rehder Galvão, a Pagu.

(5) https://tecituras.wordpress.com/2010/07/11/paschoal-carlos-magno-teatro-duse-barcas-e-caravanas-da-cultura-aldeia-de-arcozelo-teatro-do-estudante-do-brasil/

A (…)MAR ou “vivendo com saudades”

13 abr

Por Caio Graco Madeira

Ela vivia num tempo diferente do meu. A vida dela passava com mais rapidez, e meus pensamentos sobre ela eram como ela se comportava, e como ela agia, e como ela rompia os relacionamentos dela com tamanha facilidade.

Ela é uma mulher que entregou seu corpo ao mar sem medo da solidão do oceano, e que, em retorno, recebeu a dádiva de ser parte das águas. Pele por escamas, pernas por cauda, guelras e música. Uma mulher que tinha sua beleza refletida sobre as águas cristalinas, com o cabelo salgado e o corpo nu molhado, sem o medo narcisista de se matar ao entregar-se ao próprio reflexo na água. Ela nadava com todos os peixes, em conversas intimas com as criaturas sob a maré calma, e quando sentia que sua humanidade à chamava, respirava o oxigênio com orgulho de ser a mulher que era.

Acima da água, ela alegrava-se pensando no que lhe trazia alegria e sentia saudades do que lhe trazia lembranças. E no meio de sua vida tão completa, marinheiros apareciam aqui e ali, seduzidos pela sua beleza. Eles saudavam-na, desejavam-na, atiçavam-na e queriam a bela sereia de qualquer jeito, e, ela ali no seu mar apenas olhava eles se fazerem de bobos.

Seu canto deixavam os idiotas em seus barcos gritando qualquer poesia barata, elogiando e se decompondo nas ideias que eles nem entendiam só pela esperança de conquista-la. E a sereia, tão bondosa, aceitava os desesperos dos homens que achavam que o mar era um trilho para seu automóvel, tão egoisticamente.

Os homens iam e vinham, se jogando no mar e nadando sem futuro para matar a fome dos peixes; as sereias alimentavam o mar antigamente, sabia? Pelo mar todo boiavam e afundavam corpos de homens estúpidos, que alimentavam os peixes enquanto caiam e caiam até o fundo do oceano, não sobrando nada na escuridão mais funda…

E. Nery, A mulher dos quadros do museu, 1988.

Emmanuel Nery (Rio de Janeiro, RJ, 1931- Rio de Janeiro, RJ, 2003) A mulher dos quadros do museu, 1988.

– E como eu nasci então?

– Você nasceu das linhas de um poema de amor – dela com o mar.

Antonio Peticov: alquimia dos mestres!

1 fev

por Gisele Miranda

Eu tenho cada vez menos tempo, embora tenha cada vez mais coisas para dizer. E o que eu tenho para dizer é, mais e mais, algo que se move para a frente, junto ao movimento de meu pensar.

Eu sou como um rio que continua a correr…

Pablo PICASSO (1881-1973)

ANTONIO PETICOV nasceu em Assis, SP, Brasil, em 1946. Filho de um imigrante búlgaro que chegou no Brasil na década de 1920, pressionado pela guerra dos Balcãs e pela Primeira Guerra Mundial, consequentemente, absorvido por uma das etapas migratórias pós escravidão do Brasil, sob pesadas condições e adversidades.

Autodidata, Peticov traçou uma formação artística alicerçada de boas leituras em, contrapartida, a construção crítica à educação Batista do pilar teológico paterno.

Desde os doze anos idade, Peticov vem exercendo sua inesgotável fonte criativa, e hoje, aos 77 anos, extasia a todos com a consolidação de sua obra na História da Arte. Além de exercer diariamente a dimensão da memória em proporcionalidade a imaginação.

A notoriedade plástica construída está aliada a vanguarda tropicalista dos anos de 1960; com interferências do Surrealismo, Pop Art e experimentalismos musicais e processos psicodélicos – de Hendrix a Mutantes, o que fatalmente o levou a prisões. Por sobrevivência, exilou-se na Inglaterra, Itália e Estados Unidos.

Entre o final da década de 1980 e início de 1990, quando retornou ao Brasil, esteve ligado a projetos ambientais e diversos outros trabalhos, entre os quais, o resgate do Modernismo Brasileiro e sua vertente antropofágica, em parte revertido para o acervo artístico do metrô de São Paulo.

Antonio Peticov tornou-se o mestre das cores, o alquimista da virtualidade aberta, o representante da escada cósmica, o Dédalo labiríntico, o maestro de partituras da fauna e da flora Brasileira. O artista do diálogo com o tempo e releituras de grandes mestres como Rembrandt, Velazquez, Constable, Millet, Picasso, Magritte, entre outros.

Peticov é o porta voz do pincel, o corpóreo de Fibonacci. A máquina ambulante da ciência em comunhão. O pote de riquezas do arco íris é a materialização da obra desse múltiplo, inquietante e fascinante artista.

Série: O Barroco no Brasil e a vertente europeia, parte II

13 jun

por Gisele Miranda

A primeira igreja construída no Brasil foi a de São Cosme e Damião, em Igarassu, Pernambuco, em 1535, mas ao longo do tempo foi totalmente modificada. Nessa época a técnica era a Taipa de Pilão, muito utilizada pelos portugueses e espanhóis. No Brasil utilizou-se bastante barro vermelho para a taipa, depois as argamassas de cal e a areia; outro material utilizado era a pedra, muito difundida nas construções de fortificações e nas igrejas Barrocas das Minas Gerais.

A igreja da Sé em Olinda foi construída em 1537 em taipa ao estilo chão Maneirista, mas alterada e ampliada diversas vezes em alvenaria até ser praticamente destruída no incêndio em 1631, provocado pelos Holandeses durante a invasão e domínio dessa região. Depois do incêndio, a igreja foi reconstruída, mas descaracterizada do estilo original, tornando-se totalmente Barroca.

O Mosteiro de São Bento, na cidade do Rio de Janeiro, é outro exemplo da mescla da arquitetura Maneirista ao Barroco desenhada por um militar em 1617, mas somente construída em 1633, tendo o projeto ampliado, alguns anos depois, pelo frei beneditino português Bernardo de São Bento Correia e Souza (c. 1624 -?).  Foram acrescidas mais três naves (1) na construção e ainda hoje é possível visualizar a fachada Maneirista. Desde a sua construção, o interior do Mosteiro foi decorado pelo Barroco ao Rococó. O grande artista português do interior do mosteiro foi o frei beneditino Domingos da Conceição (Matosinhos, Portugal, c. 1643 – Rio de Janeiro, RJ, 1718). (2)

As igrejas das Minas Gerais, construídas no século 18, durante o ciclo do ouro, são consideradas fachadas Maneiristas pela simplicidade. Salvo as fachadas, todo o interior das igrejas é de grande exuberância. A talha dourada marca o processo escultórico do Barroco no Brasil, seja realizado por europeus ou na singularidade mineira dos grandes mestres. Os exemplos mais veementes são: a catedral de Vila Mariana e a matriz de Sabará, embora acrescidas de outras torres e naves, elas mantêm a simplicidade embrionária marcadamente do Barroco Mineiro.

A estatuária sacra do século 16, aos poucos foi ganhando dramaticidade e contornos mais expressivos quando adentrou o século 17. Poucas esculturas tem autoria, pois a maioria foi realizada por anônimos. Diz-se anônimos aos nascidos no Brasil.

As esculturas iniciais eram realizadas por religiosos, lembrando que o ofício ‘artista’ somente obteve o reconhecimento e valia a partir do Quattrocento italiano, ou seja, na primeira fase do Renascimento.

Cabe destacar dois grandes nomes de artistas missionários e suas obras: O frei beneditino Agostinho da Piedade (Alcobaça, Portugal, c. 1580 – Salvador, Bahia, 1661) com destaque a Nossa Senhora de Montserrat feita de barro cozido policromado que está no Museu de Arte Sacra da Bahia. Também o frei beneditino Agostinho de Jesus (Rio de Janeiro, c. 1600 – idem 1661), a Nossa Senhora da Purificação feito de barro cozido policromado que esteve na igreja matriz de Santana de Parnaíba/ SP, atualmente encontra-se no Museu de Arte Sacra de São Paulo/SP.

Nos estudos de Arte Sacra Colonial há registros de inúmeras interferências da natureza tropical através dos indígenas – esculturas com plumagens da fauna brasileira, tais como: São Francisco das Chagas, da Capela de Nossa Senhora dos Aflitos (século 18), é um trabalho narrativo ingênuo feito de barro cozido policromado com asas de madeira, atualmente encontra-se no Museu de Arte Sacra de São Paulo/SP; a Figuração simbólica da aparição do divino na anunciação de Cristo no dia de Pentencostes (século 17), de madeira esculpida e policromada, está na igreja de Araçariguama, SP. Ambas as esculturas são de anônimos. Mesmo sob controle das ordens religiosas, por vezes, era incontrolável esse traço peculiar. Conforme a passagem para os séculos 17 e 18, os escultores anônimos vão produzindo genuinamente o Barroco Mineiro.

Notas:

(1) Nave: origem grega “naos”; dizer-se ala central da igreja ou catedral.

(2) Vale destacar o Mosteiro de São Bento em Salvador, Bahia, no estilo Maneirista de 1582, criado pelos monges beneditinos e depois destruído, em 1624, pelos holandeses.  Posteriormente, reconstruído em 1624, pelo frei espanhol beneditino Macário de São João (Reino de Castela, Espanha, c.162? – Salvador, Bahia, 1676). Anterior ao Mosteiro houve uma pequena igreja construída pelos jesuítas.

Referências:

ARGAN, Giulio Carlo. Imagem e Persuasão: ensaios sobre o Barroco. Tradução Maurício Santana Dias. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

ARGAN, Giulio Carlo. Clássico Anticlássico: o Renascimento de Brunelleschi a Bruegel. Tradução Lorenzo Mammì. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

BURY, John. Arquitetura e arte no Brasil Colonial. Organização Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira. Brasília, DF: IPHAN / Monumento, 2006.

GOMBRICH, Ernst H. J. História da Arte. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.

KIEFFER, Anna Maria (Org). Teatro do descobrimento (CD). São Paulo: Estúdio Cia. do Gato, 1999.

MICHELANGELO Buonarroti (1475-1564). Org. Maria Berbara. Campinas, SP: Editora da UNICAMP; São Paulo: Editora da UNIFESP, 2009.

MACHADO, Lourival. Barroco Mineiro. São Paulo: Perspectiva, 2003.

PROENÇA, Graça. História da arte. São Paulo: Ática, 2007.

TIRAPELI, Percival (Org.) ARTE Sacra Colonial: Barroco Memória Viva. São Paulo: Imprensa Oficial de São Paulo; Editora UNESP, 2005.

TIRAPELI, Percival. Igrejas Barrocas do Brasil. São Paulo: Metalivros, 2008.

Série Retorno II: Os olhares (colonizadores)

30 ago

 por Gisele Miranda

 

Os artistas viajantes documentaram as características ambientais das novas terras colonizadas como uma aventura ao desconhecido.  Dos países baixos, a presença das pinturas de paisagens, natureza-morta com uma luminosidade muito diferente do Barroco laico das comitivas dos séculos 16 e 17, a exemplo das obras de Frans Post (Haarlem, Holanda, 1612- idem, 1680) e Albert Eckhout (Groninga, Holanda, c. 1610- idem c. 1666).

Outros vieram, a convite da corte real portuguesa, logo após a queda de Napoleão Bonaparte (1815), na comitiva da Missão Artística Francesa (1816), nos remetendo ao Neoclassicismo tardio.

Vindos com a segurança necessária do ofício, os artistas franceses tornaram-se a base da educação na colônia, contudo, com um discurso monárquico subtraído da Europa e que desencadeou, no academicismo amalgamado, a subserviência no discurso da mestiçagem na desqualificação.

O preconceito aos artistas brasileiros pesou por suas misturas. Outrora como princípio ao diminuto que retardou pinçar alguns alunos para bolsas de estudos em meados do século 19. Ironia do tempo, pois, o que mais valioso temos no século 21, são as nossas misturas.

Brasil, terra dos doces em fartura, frutas trazidas à terra fértil, do plantio extensivo da cana de açúcar a extração de pedras preciosas. Tudo tão doce e tão reluzente sob as marcas dolorosas da escravidão de indígenas, de africanos, de brasileiros com o estigma do último país a abolir a escravidão (1888), um século depois da Revolução Industrial e da Revolução Francesa.

chih, sem título, 2013

Chih Wei Chang, s/ título, 2013.

Da 31ª Bienal de São Paulo: “Como (…) coisas que não existem” a “29 de abril de 2015”

24 jun

por Gisele Miranda

O tema da 31ª Bienal de São Paulo (2014-2015) “Como (pegar, nomear, viver, pensar…) coisas que não existem” – com os verbos no infinitivo e com reticências “ é uma invocação poética do potencial da arte e de sua capacidade de agir e intervir em locais e comunidades onde ela se manifesta”. Então, como existir no silêncio, no tropeço, nas camuflagens da ignorância, no esquecimento?

O escocês Charles Esche assinou uma curadoria que não agradou muito ao público brasileiro ao propor: pensar… nomear, imaginar, viver, lutar, recordar, conhecer, refletir. Houve associação crítica com o Dadaísmo (1916) sobre a estética da Bienal, mas, em vista que a história não se repete, diria que a inspiração Dadaísta partiu do confronto, outrora, a arte questionando valores de uma burguesia fascista e em guerra, hoje, arte, memória e história com uma classe média (brasileira), digna de ser nomeada como “uma abominação política, porque é fascista, é uma abominação ética porque é violenta, e é uma abominação cognitiva porque é ignorante.” (Marilena Chauí, 2013. Cult, p.10)

O Brasil da classe média ataca a mulher de maneira machista e misógina e pede intervenção militar quando desconhece a violência o que resulta na Educação com as cenas de horror de “29 de abril de 2015”. Os professores, a grande maioria professoras, em manifestação pacífica foram alvos de policiais, balas e bombas. É claro que o passado ignorado tornou-se um monstro em diferentes esferas numa catarse de escombros.

29 de abril de 2015 no Centro Cívico, Curitiba, Paraná, Brasil, sob o governo de Beto Richa.

29 de abril de 2015 no Centro Cívico, Curitiba, Paraná, Brasil.

Há questões que precisam ser nomeadas a partir de uma discussão sobre o passado. O que Esche mostrou na 31ª Bienal foi o passo da virada contemporânea em diálogo com o passado ignorado seguido do ” 29 de abril de 2015″.

Juan Carlos Romero, Violência, 1973-1977 (impressão sobre papel)

Juan Carlos Romero, Violência, 1973-1977 (impressão sobre papel)

Palmas para Esche por esse elo tecido pela história e pelas memórias coletivas entre a 1ª Bienal de Veneza (1895) à 1ª Bienal de São Paulo (1951), em suas edições instigantes e necessárias.

Concomitante a Bienal de Esche, a 56ª Bienal de Veneza, sob curadoria do nigeriano Okwui Enwezor (1963- 2019), tematizou “Todos os futuros do mundo”, sobre a desigualdade de oportunidades. Enwezor foi o primeiro negro a assumir a Bienal de Veneza. Cabe lembrar que a Nigéria, recentemente, criminalizou a “mutilação genital feminina”, prática que segundo a UNICEF atingiu 125 milhões de meninas em quase 30 países do continente africano.

Alguns temas e obras discutidos na 31ª Bienal

AfroUFO (2014), de Tiago Borges e Yonamine. Um óvni de um futuro incerto que pousou no Brasil todo pichado ou do “pixo”. O contato estético e a intervenção no espaço interno nos reporta a uma “história colonial comum”. Nossa relação vital com o continente Africano sob séculos de escravidão à uma liberdade que contempla o discurso sobre a redução da maioridade penal e o perfil das super lotações nos presídios.

Tiago Borges e Yonamine: AfroUFO, 2014.  (local interno da nave)

Éder Oliveira com suas pinturas enormes de “jovens delinquentes” ou apenas garotos, menores de idade que estão à margem da sociedade. O perfil desses jovens tem muito da nossa história de séculos de violência e de abandono “caboclos com traços de índios e negros” (Guia 31ª Bienal, p. 147). Aliás, a temática violência aparece em um todo da Bienal, mortes prematuras de crianças por esquadrões da morte, ditaduras militares que assassinaram jovens manifestantes aos desaparecimentos. Violência impregnada nas ruas, nas canções, nos vídeos como do turco Halil Altindere como o seu Wondeland (2013), dos cartazes do argentino Juan Carlos Romero com Violência (1973-1977).

Éder Oliveira, sem título - intervenção urbana, 2013.

Apelo (2014), de Clara Ianni e Débora Maria da Silva. O Vídeo “convoca ao vivos para recordar os mortos… confrontando o esquecimento”. O local da discussão é o Cemitério Dom Bosco, “criado em 1971 pelo governo militar para receber cadáveres de vítimas do regime repressor…”. O mesmo local, absorve as “vítimas das ações conduzidas pelos esquadrões da morte da Polícia Militar de São Paulo”. Débora Maria da Silva é uma das mães que “perderam seus filhos devido a violência policial” (Guia 31ª Bienal, p. 40-41). Associado a isso está a luta contra a redução da maioridade penal.

Clara Iannni e Débora Maria da Silva, Apelo, 2014. Estudo para filme.

Coletivo Mujeres Creando, “fundado em La Paz em 1992… constituindo por prostitutas, poetas, jornalistas, vendedoras, trabalhadoras domésticas, artistas, costureiras, professoras…” O coletivo é atuante em performance, instalações propiciando debate público na “ditadura do patriarcado sobre o corpo da mulher… porque não há nada mais parecido com um machista de direita que um machista de esquerda” (Catálogo 31ª Bienal, p. 35) Atrelada às discussões da autonomia do próprio corpo estão índices altíssimos de problemas decorrentes de abortos realizados na clandestinidade. O “sexismo e o patriarcado institucionalizado” vem aumentando o número de casos de estupros nas grandes cidades. O silêncio, a vergonha e o medo não são computados, embora o índice seja crescente.

Mujeres Creando - útero ilegal, 2014. (série 13 horas de rebelión) Instalação de escultura e vídeo.

Também com Giuseppe Campuzano (1969-2013) quando em 2004, criou o Museo Travesti del Peru; Sergio Zevallos e suas discussões sobre andrógenos, transgêneros e travestis “um conjunto de corpos no qual ´há´ privação de sua condição humana, não por registro e vigilância, mas pelo silêncio e apagamento de seus rastros.” (Catálogo 31ª Bienal, p. 242)

Giuseppe Campuzano, Carnet, 2011. Fotografias para documento de identidade.

Entre tantas obras e tantos coletivos, o artista argentino León Ferrari (1920-2012) e sua parceria de quinze anos com o coletivo Etcétera, criado em 1997. A obra de León “Palavras Alheias: conversas de Deus com alguns homens e de alguns homens com alguns homens e com Deus”, de 1967, vem do combatente artista ateu que empunhou suas mãos à criação de obras que denunciassem responsabilidades, principalmente da igreja católica durante a ditadura militar da Argentina. Seu filho, Ariel, faz parte da lista dos 30 mil desaparecidos desse período. O elo entre o artista renomado e o coletivo vem do conhecimento do passado à obra contemporânea Errar de Dios, no corpo objeto da violência

León Ferrari e Coletivo Etcétera, 2014.

Referências:

31ª Bienal (Catálogo e Guia), Como (…) coisas que não existem, 2014.

Blog do IMS, por Carla Rodrigues http://www.blogdoims.com.br/ims/profissao-professor-proanacao-carla-rodrigues

Paraná 247, por Mário Sérgio Cortella http://migre.me/qqRR7

Revista CULT junho 2015, n. 202, ano 18. O Terrorismo poético, Peter Pál Pelbart por Heitor Ferraz, p. 10-15.

Revista CULT, agosto 2013, ano 16, n. 182. Pela responsabilidade intelectual e política, Marilena Chauí por Juvenal Savian Filho.

Por que o 29 de abril de 2015 “não terminou” para os professores do Paraná

Quatro anos do massacre dos professores do Paraná

O grupo Arquitetura Nova e Lina Bo Bardi

19 jan

Gisele Miranda

 

O surgimento da Arquitetura Moderna no Brasil se configurou na prática revolucionária: A arquitetura, mais do que as artes visuais, vive do diálogo com o poder das classes dominantes e a despeito da intencionalidade ou não explicita pelo produtor, a obra de arte é frequentemente manipulada politicamente em seus estágios de circulação… e consumo. (AMARAL, 2003, 16)

O grupo Arquitetura Nova teve a militância de Rodrigo Lefèvre (São Paulo, SP, 1938-Guiné-Bissau, 1984), Flávio Império (São Paulo, SP, 1935- idem, 1985) e Sérgio Ferro (Curitiba, PR,1938-). Os três repensaram a arquitetura e as condições de produção no canteiro de obras, além dos estudos de pintura e de arquitetura cênica e de trajes.

O trio fez experimentos no canteiro para valorizar, respeitar e mostrar o trabalho do pedreiro desfazendo-se do revestimento sobre a alvenaria deixando aparente as instalações elétricas e hidráulicas. Os arquitetos do grupo adotaram uma diferenciada relação com os trabalhadores cuja assinatura não é posta no edifício, mas suas passagens são testemunhos laborais mesmo que marginalizados do registro institucionalizado.

Lefèvre, Ferro e Império representaram a FAU/USP na VI Bienal de Artes de São Paulo, em 1961, no governo de João Goulart, no fortalecimento das lutas populares, das Ligas Camponesas, e das reformas de base. O grupo primou pela socialização de conhecimentos e cooperação mútua entre arquiteto e operário.

O Cinema Novo, os Centros Populares de Cultura, o Teatro de Estudantes do Brasil (TEB) e o Teatro de Arena inspiraram os arquitetos. Eles conceberam para a Arquitetura Moderna Brasileira, além de um programa de cunho popular, atuações no Teatro de Arena com rigor crítico, destacando-se na reformulação da cenografia brasileira, no diálogo direto com a matéria e com o processo de criação e de intercâmbio. Mas com o golpe civil e militar de 1964, os ideais democráticos foram cerceados diminuindo assim, as atividades do grupo. Em 1970, Lefrève foi preso e torturado pelo DOPS.

A arquiteta italiana Lina Bo Bardi (Roma, Itália, 1914- São Paulo, SP, 1992) se aproximou do grupo Arquitetura Nova e impulsionou a arquitetura cênica e de trajes. Ela defendeu a abertura de aspectos da contemporaneidade e restabeleceu a relação entre a arte, a vida e o cotidiano moderno: Abaixo o amuo dos museus tradicionais, disse Lina (BARDI, Lina, 2008; 74)

Lina observou que o museu ainda era concebido como templo, na presença da enfática monumentalidade dos elementos clássicos. O museu deveria atender a demanda cultural de um país. Dessa forma, o Museu de Arte de São Paulo foi pensado com ações voltadas à valorização de obras artísticas antigas e modernas. Assim como o próprio projeto do MASP visava a utilização do vão livre para as manifestações, apresentações de cinema, música, dança e feiras de antiguidades e artesanatos. 

Lina buscou o reconhecimento da cultura popular brasileira, acreditando na influência que isso acarretaria no desenvolvimento do país. Ela deu sequência ao olhar de Mário de Andrade (década de 1930) sobre a qualidade dos artesanatos do Brasil.

Destaque também ao projeto que Lina idealizou para o SESC Pompéia – onde a arquiteta, em parte conservou as antigas instalações da Fábrica da Pompéia e buscou a integração entre o antigo e o novo. De 1977 a 1982, Lina tratou a fábrica pelos seus valor documental e histórico. Em 1984 Lina fez a restauração do Teatro Oficina.

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Referências

AMARAL, Aracy. Arte para quê? A preocupação social na arte brasileira 1930-1970. 3. ed. Studio Nobel: 2003.

ARANTES, Pedro Fiori. Arquitetura Nova: Sérgio Ferro, Flávio Império e Rodrigo Lefèvre, de Artigas aos mutirões. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2004.

FERRAZ, Marcelo (Coord). Lina Bo Bardi. São Paulo: Imprensa Oficial, 2008.

MANGUEL, Alberto. Claude-Nicolas Ledoux: Imagem como filosofia; IN: MANGUEL, Alberto. Lendo imagens – uma história de amor e ódio. São Paulo: Ed. Companhia Das Letras, 2001.

30ª Bienal de São Paulo: Os fios tecidos de Arthur Bispo do Rosário

21 set

por Gisele Miranda

A Bienal se reencontrou com as obras de Arthur Bispo do Rosário (Japaratuba, Sergipe, 1909? – Rio de Janeiro, RJ, 1989) e, desta vez, sob curadoria de Luis Pérez-Oramas (Caracas, Venezuela, 1960 -).

Pérez-Oramas foi incisivo em sua “iminência das poéticas” e nas vozes diferenciadas que ecoam. Esse é o elo, o fio de Bispo (outrora de Ariadne) que fia e desfia na arquitetura de Oscar Niemeyer. Se Babel, labirinto ou oceano, as vozes apresentam-se  em um “ensaio polifônico”.

Em meio a isto, Bispo surpreende. Foi alvo da limpeza social, escapou da lobotomia e conviveu sob preconceitos, mesmo que isso não estivesse claro para ele. Melhor assim, bastavam as vozes de sua esquizofrenia, já que as vozes do Estado e da sociedade só o discriminavam.

Superação com sentidos variados inclusive pela escrita de Rodrigo Naves quando relacionou a vida de Bispo (e de muitos outros artistas) às dificuldades gritantes de nossos atletas, visto pelo histórico dos jogos Olímpicos e Paralímpicos. Disse ele:

Um país tão permeado por desigualdades como o Brasil produziu um sem-número de artistas e atletas – acho interessante aproximá-los de origem pobre que encontram um modo de superar as adversidades sociais por meio e maneiras muito diferentes de expressão. Se a injustiça social não encontrou entre nós – ao menos até os anos 80 – uma resposta política efetiva, parece fora de questão que artisticamente nosso meio cultural seria muito menos rico sem a contribuição daqueles que teriam tudo para permanecer silenciosamente à margem. (1)

De fato essa correlação é muito oportuna. Alguns superam “a margem” quase como um milagre. Para o descrente, a revolta e a certeza que muitos ficaram pelo caminho.

Arthur Bispo do Rosário (Japaratuba, Sergipe, 1909? – Rio de Janeiro, RJ, 1989) **

A 30ª Bienal foi tomada pelo fio e desfio de Bispo do Rosário – o des- A- fio de suas vestimentas, das palavras bordadas e alinhavadas aos pensamentos. Bispo é nosso Oceano Atlântico. Nele Bas Jan Ader  (1942 -1975) continua vivo no encanto performático e mítico de seu desaparecimento. (2)

O oceano Atlântico que expurgou o marinheiro-artista Bispo do Rosário é o mesmo que sugou o artista-marinheiro Bas Jan Ader – se atermos sobre “a falha, a queda, o risco… e a finitude da vida” (3) – elementos intrínsecos a curadoria sem estrelismos de Pérez-Oramas; “clean” para a maioria crítica, mas com a consciência histórica das Bienais desde 1951, às oscilações da 29º Bienal em meio as controvérsias da”pichação e do vazio”. (*)

Neste oceano há fios, redes conectados na arte têxtil de Sheila Hicks (1934 -), “rejeitando os limites tradicionais que separam a arte, artesanato e design”, seduzida pelos cantos inebriantes da “tecelagem das Américas do Sul e Central” (4).

Michel Aubry (1959 -) também içado pelo fio, costurou “mobílias, instrumentos, tecidos…” como mantos históricos e com seus “sintomas políticos e sociais” (5). Em um dos mantos  – um”sobretudo” – Aubry imprime traças à visão de tragédias e intolerâncias de um passado recente e numa taxidermia com linhas e agulhas.

Bispo alinhavou com outros artistas, cortou, fez e desfez no “risco” de Bas Jan Ader à preponderância das texturas, dos tecidos e tons, visibilidades geracionais em consonância a identidade e a coletividade através das fotografias de Hans Eijkelboon (1949 -), na moda dos anos de 1970 e 1980 do Studio 3Z , de August Sander (1876-1964), entre os 111 artistas da 30ª Bienal de São Paulo.

Muitos tecidos, muitas costuras, muitas experiências. Muitas linhas e agulhas. Por quê? – Há uma amplitude e complexidade do tema. [6]

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Notas:

(*) 1909 e 1911 – dois registros de nascimentos.

(**)V. Bienais de Arte de São Paulo: Salve, Basquiat

(1) Rodrigo Naves. Na criação de Arthur Bispo do Rosário a palavra adquire novas realidades. São Paulo: O Estado de S. Paulo. 2014.

[2] Catálogo da 30ª Bienal de São Paulo: A iminência das poéticas / curadores Luis Pérez-Oramas  {et al.}. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2012, p. 110

[3] Bas Jan Ader desapareceu “no Oceano Atlântico ao tentar atravessá-lo com minúsculo veleiro enquanto realizava a segunda parte de um tríptico chamado In Search of the Miraculous”. In: Catálogo da 30ª Bienal, 2012, p. 110-111.

[4] In: Catálogo da 30ª Bienal de São Paulo, 2012, p. 279.

[5]  In: Catálogo da 30ª Bienal de São Paulo, 2012, p. 228-229.

[6] Walter Zanini em 10 de fevereiro de 2010 – na apresentação do Livro de: COSTA, Cacilda Teixeira da. Roupa de artista – o vestuário na obra de arte. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: EDUSP, 2009.

Outras referências:

ARTHUR Bispo do Rosário. Emanuel Araújo {et. AL} Organizador e curador Wilson Lázaro. Rio de Janeiro: Réptil, 2012.

BOUCHER, François (1885-1966) História do vestuário no Ocidente: das origens aos nossos dias. São Paulo: Cosac & Naify, 2010.

Catálogo da 30ª Bienal de São Paulo: A iminência das poéticas / curadores Luis Pérez-Oramas  {et al.}. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2012

DANTAS, Marta. Arthur Bispo do Rosário: a poética do delírio. São Paulo: UNESP, 2009.

HIDALGO, Luciana. Arthur Bispo do Rosário: o senhor do labirinto. Rio de Janeiro: ROCCO, 2011.