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Série Gontran Netto e as parcerias com Historiadoras I: o encontro com Radha Abramo

28 dez

por Gisele Miranda

O Angelus Novos do Porvir, aquele que olha a diante e se apropria do real e o metamorfoseia. (NEGRI, 2001, p. 17)

Radha Abramo (1934-2013) foi uma crítica de arte brasileira, historiadora, militante pela liberdade de expressão, pela história e pela arte em ação política. Junto com o jornalista Claudio Abramo (1923-1987), seu marido, foram presos políticos em 1975, mesmo ano do assassinato do amigo também jornalista Wladmir Herzog (1937-1975),  durante a ditadura civil e militar do Brasil, no governo de Ernesto Geisel, de 1974 a 1979.

Radha e Claudio resistiram alguns anos mas saíram do Brasil retornando em 1985, quando o gal. João Figueiredo, de 1979 a 1985, realizou a transição política sem eleições diretas. A Comoção das ‘Diretas Já‘ foi suprimida naquele momento, mas tornou-se uma histórica manifestação agregada ao retorno dos exilados políticos, ou seja, os primeiros passos depois de 21 anos de ditadura. Assim, retornaram o casal Abramo, Gontran Netto, “o irmão do Henfil e tanta gente que partiu…”(*)

Em 1985, houve a disputa entre o filho pródigo da ditadura militar Paulo Maluf e o oposicionista Tancredo Neves que venceu mas não assumiu porque veio a óbito assumindo seu vice José Sarney, de 1985 a 1989. Abaixo, uma crítica sarcástica sobre esse momento reverberando Maquiavel através de Gontran Netto, o pintor amigo de Radha, acolhido pela marchand do exílio ao retorno.

Se considerarmos que Maquiavel nos seus conselhos ao príncipe sugere o seguinte: para preservar o seu poder faça uma guerra ao seu primo, seu rival potencial. Pra isto, nomeie um general competente que ganhará a guerra e se tornará um herói. Faça com que ele seja morto por um assessor. Enforque este assessor. Faça um enterro apoteótico ao general heroi nacional. Em seguida nomeie um ministro civil comprometido com todas as fraquezas do sistema. Assim ele será permanentemente dependente de sua tutela. Ocorrendo isto terá um reinado estável e permanente. (Gontran Netto, áudio, 2007)

A historiadora encontrou no artista Gontran Netto recursos pictóricos com conteúdo necessário sobre questões que lhe eram caras demais, tais como a Democracia,  os Direitos Humanos, repúdio as ditaduras, as torturas e as prisões em uma linguagem de luta expressa à Educação. Desde então, Radha passou a acompanhar e a escrever sobre a arte de Netto como aulas de História, Arte e Política.

Ele tem uma vocação política que emerge de seus pincéis (…) transformados através da arte em uma ação futura. A “ação futura” é vislumbrada na obra e Gontran, do presente de luta para que o passado seja tratado dos males de sua história de violência, usurpação e de silêncio. As pinturas, os desenhos, as gravuras de Netto, conseguem debater o que de pior vem acontecendo. (ABRAMO, Radha. Manuscrito, Paris, ago. 1982)

Em maio de 2000, ela o destacou pela trajetória como professor de História da Arte:

Com cada turma que se formava (…) Para Gontran, parece-me, as condições objetivas e subjetivas configuradas em situações teóricas e/ou práticas, reviram-se, alimentavam-se uma das outras (…) no sonho do revolucionário e o bem querer do artista. (ABRAMO, Radha. Manuscritos, 2000)

Radha também esteve com ele quando foi encontrada uma pintura no Ministério da Agricultura, cogitada ser de Portinari ou de um dos seus assistentes e Gontran havia sido assistente de Portinari.

Houve a esperança de reconstruir a tela, mas o senhor Bardi e o Magalhaes disseram que não era do Portinari. Eu avaliei porque a Radha me disse que poderia ser meu ou do Luiz Ventura (…) esse quadro me fez rever o Portinari, as influências culturais contra o Portinari. (…) O Portinari se deu num processo de imigrantes, da região do café, da terra. Da terra nasceu um artista, refletindo esse estado do ser (…) ligado aos muralistas mexicanos e vedado pelo marcathismo (…). Bom, acharam que eu queria ganhar um dinheirinho fácil sobre um falso Portinari. Não houve restauro. Nem importa de quem era, mas merecia o restauro. (GGN, áudio, 9 mar. 2003)

A crítica de arte, em sua escrita sobre o artista, desde 1982, deixou um recado válido aos dias de hoje no Brasil:

“Se os museus brasileiros não tiveram ainda a honra de receber os quadros de Gontran, não importa. Cuba, o faz por eles.” (ABRAMO, Manuscrito, Paris, ago. 1982)

Gontran Netto e Radha Abramo. São Paulo, 2006.

Os textos de Radha são intensos para a sua geração e de vanguarda nos dias atuais. A mesma geração de Gontran em meio as arbitrariedades do Estado, das prisões, torturas e assassinatos. Invariavelmente de conflitos intensos sobre a condição de exilados. Falar sobre exílio é mesclar a infelicidade às tentativas de antídotos. Tema do qual Gontran e Radha vinham buscando entender, por isso foram ao encontro de Jacques Derrida (1930-2004) e Antonio Negri (1933-2023), ambos exilados.

Apesar de todo o processo de inclusão, de produtividades afetivas no exílio, Gontran, Radha, Negri, entre outros, projetaram e refletiram sobre as expectativas do desejo de retorno – o exílio está sempre em órbita porque é um “não lugar”. Ou como bem disse outra exilada, em um contexto histórico mais recente, contudo, interligado pela falta de Memória e História à fragil Democracia. 

O exilado perde a pátria, perde seu território, sua língua e sua pertença concreta. O exilado rompe o fio que o ligava à vida (…) O exílio confunde o estado político de exceção com o estado existencial de exceção quando a pessoa mesma já não existe (…) O exílio exige uma fuga perfeita, mas não há refúgio ou esperança para nós (…) O exílio é um estado de desterro para alguns no presente, um estado absoluto para todos no futuro. (Marcia TIBURI. Exílio. In: Instagram, 28 dez. 2021)

No entanto, a resistência política traz “a reflexão prática sobre o exílio” e “a relação entre valores e afetos”:

Falar de valores e afetos significa escavar no marxismo e na teoria do materialismo histórico até o ponto em que a produção de valor, ou melhor, a expressão do trabalho vivo, traz à tona, com a corporeidade do sujeito, sua inteira constituição mental e afetiva. (NEGRI, 2001, pp. 9-10)

(*) O bêbado e a equilibrista, de Aldir Blanc (1946-2020) e João Bosco (1945-) lançada na voz de Elis Regina (1945-1982), hino da anistia aos presos políticos, em 1979.

Sugestões:

BETINHO, a esperança equilibrista (filme). Direção Victor Lopes, 2015. Link trailer https://youtu.be/s7pksVLYAkU?si=AkSwfVLAiqr__Pty

HENFIL (documentário). Direção Angela Zoé, 2017. Link trailer https://www.youtube.com/watch?v=vMwpXx8_k4o

BETINHO, no fio da navalha (Série) Direção: Lipe Binder, 2023. Link trailer https://www.youtube.com/watch?v=ZFVL_zTlvUY

Julio Le Parc, o Alquimista

14 nov

por Gisele Miranda

Julio Le Parc (1928-) é um artista Cinético. Ele incorporou sua “alquimia” aos estudos de László Moholy-Nagy (1895-1946) e a teoria de Alfréd Kemény (1895-1945) e fertilizou a Arte Cinética, trinta e oito anos depois com a criação do GRAV – Groupe de Recherche d´Art Visuel, em 1960, dos quais foram membros: Horacio Garcia-Rossi (1929-2012), François Morellet (1926-2016), Francisco Sobrino Ochoa (1932-2014) e Jean Pierre Yvaral (1934-2002).

As experiências foram observadas em temporalidades e técnicas justapostas. Da importância do ‘ar’ através dos móbiles de Alexander Calder (1898-1976) nos anos de 1950, em meio a fabricação de brinquedos para resgatar o lúdico pela fonte de energia natural e com as cores de Piet Mondrian (1872-1944) e Joan Miró (1893-1983). Nessas metamorfoses foram criadas as intervenções vibratórias, a energia (seja natural ou não), do pictórico ao escultural de Jesús Rafael Soto (1923-2006), Carlos Cruz-Diez (1923-2019), Liliane Lijn (1939-), Martha Boto (1925-2004), entre outros, até Le Parc interferir com sua premissa da Luz – seus efeitos e as intervenções transformadas em parcerias anônimas de pessoas que vão ao seu encontro. Ou seja, uma parceria ativa de “forças que se desenvolvem por iniciativa própria” (STANGOS, 1981, p.153) até a abdicação do ego em prol dessa parceria.

São vieses que obviamente compõem leituras e questões associativas para a criação do conceito do GRAV, que primou pela interferência, conjugada a experiência do artista que cede o espaço para a criação em fluxos intensos e singulares – a imagem que surge com o movimento ou o movimento cria uma forma no espaço com as variantes inesperadas sob efeito da luz.

Le Parc não se eximiu de suas responsabilidades sobre as guerras do Vietnã e da Argélia. Ele viveu em Paris no auge de maio de 1968, em um momento histórico da França com as participações de intelectuais como Michel Foucault, Simone de Beauvoir, Jean Paul Sartre, Félix Guattari, Gilles Deleuze, entre outros – nas ruas, nas manifestações com os estudantes, exilados, operários e camponeses.

As premiações têm assinaturas importantes contra as ditaduras militares que assolaram a América Latina dos anos de 1960 a 1980. Contudo, ele foi percebendo que o GRAV, depois que conseguiu a consagração, não primou pelas causas necessárias que nunca abandonou.

Esse foi o momento em que Le Parc viu em Gontran Netto (1933-2017) uma parceria que se desdobrou no Grupo de Pintores Antifascistas e no Grupo Denúncia. O alquimista cinético quando precisou ser um Realista para retratar os torturados em Sala Escura da Tortura, o fez desde as fotos às pinturas sem ferir sua opção pela Arte Cinética ou sua essência geométrica e concretista.

Julio Le Parc prefere designar seus trabalhos de “Experiências ou Alquimias” e não, Obras. Suas Alquimias germinam na Arte Contemporânea e na Arte Conceitual, vindas de um processo desde jovem quando uma professora sugeriu para a sua mãe que o matriculasse em uma Escola de Artes.

O jovem argentino de Mendoza mudou para Buenos Aires, onde estudou e trabalhou para se manter. Pouco depois, entrou na Universidade de Artes em um período de grandes reformas do primeiro governo peronista, de 1946 a 1955. Os estudantes interferiram no processo educacional e mesmo sem recursos, chamaram artistas para implementarem uma nova estética no espaço acadêmico, assim como participaram do processo de seleção dos professores e a compor trabalhos com eles.

Lúcio Fontana teve um grande peso na formação de Le Parc como professor e amigo. Lúcio abriu espaços, além da pintura, através do geometrismo, do objeto e das cores. Depois, Le Parc fez experiências com eletricidade, montou e desmontou objetos até adquirir um olhar desde a Arte Concreta à Arte Cinética, a partir do coletivo GRAV.

Quando Le Parc consegui uma bolsa de estudos para se aperfeiçoar em Paris, logo se adaptou as movimentações da França frente às mudanças que reverberaram no início dos anos de 1960. Nessa época ele já havia se tornado um proeminente artista franco-argentino e a obter respeito que lhe valeu inúmeras exposições importantes e a premiação na 33α Bienal de Veneza, se sobrepondo, no auge da Pop Art, a Roy Lichtenstein, em 1966. (Julio Le Parc. In: 100 anos del Museo de la Cárcova, 21 set. 2021)

Vale lembrar que em 2016, Le Parc & Gontran Netto realizaram uma Conversa – do ateliê de Le Parc em Paris para alunos de Artes Visuais do Paraná (1), concomitante, a homenagem da Bienal de Curitiba 2015-2016 ao artista franco-argentino (2). Abaixo, duas intervenções nas alquimias de Le Parc.

(1) Em fevereiro de 2016, Julio Le Parc & Gontran Netto nos deram a honra de uma “Conversa” na UEM – Universidade Estadual de Maringá. A proposta previa a interação dos alunos de Artes Visuais, Arquitetura, Moda, Design, História e Artes Cênicas da UEM. Mas infelizmente não nos foi concedido um espaço para tanto, reduzido para dez pessoas, além dos difíceis recursos tecnológicos adaptados ao ateliê de Julio Le Parc, em Paris (programa NEAD da UEM). Um dia antes da “Conversa”, o estúdio cancelou o nosso encontro, que seria em dezembro de 2015. Remarcamos, por fim, aconteceu em janeiro de 2016. No final, o responsável pelo estúdio “esqueceu de ligar a câmera”.

(2) Bienal Internacional de Curitiba  3/10/2015 a 14/02/2016 no Museu Oscar Niemeyer – Julio Le Parc foi o artista homenageado Bienal Luz do Mundo, curadoria geral de Teixeira Coelho.

Gontran Netto & Julio Le Parc: amizade, parceria artística e política

14 nov

por Gisele Miranda

LE PARC, meu mais fiel e melhor amigo. Ele é o maior inimigo dos meus defeitos e dos meus fantasmas (…) Nós estávamos com a pretensão de poder um dia ver o mundo mudar em benefício dos deserdados. Algumas vezes nós conseguimos alguns resultados e deixamos a nossa marca sobre coisas concretas como o Museu da Palestina, Museu da Nicarágua, Museu Contra o apartheid, Museu Salvador Allende e etc. (GGN, áudio visual, 7 jan. 2005)

O pintor Gontran Guanaes Netto (1933-2017) e o amigo alquímico Julio Le Parc (1928) tiveram uma parceria por quase meio século, de 1970 a 2017. Seus trabalhos são distintos, mas suas cores se encontraram na luta antifascista e anticolonialista.

Fig. 1: Julio Le Parc e Gontran Guanaes Netto, Paris, década de 1970.

De 1970 a 1985, estiveram diariamente em Coletivos de Pintores Antifascitas e em inúmeras viagens para exposições coletivas em outros países: exposições com caráter estético-político. Destaque para as ações de protestos na Bienal de Veneza, em 1972-1973: Fundamos, a convite da Bienal de Veneza, a Brigada Internacional de Pintores Antifascistas. (GGN, manuscrito, 2010) O ano de 1973, foi de consternação pelos golpes militares no Uruguai e em seguida no Chile.

Quando Gontran retornou ao Brasil, em 1985, na abertura democrática brasileira, não houve estremecimento na amizade porque a maturidade foi construída – eles ficaram sete anos distantes  Mas, por que Gontran voltou ao Brasil no auge de sua carreira na França? Voltou “para impor – pela  força de um ato de testemunho” (NEGRI, 2001: 17) O retorno ao Brasil teve a coerência das ações políticas em parceria com Le Parc.

Le Parc saiu de Paris e por um dia que esteve em São  Paulo foi direto para o meu ateliê… Le Parc é um argentino irônico, cético e racional, mas quando se abalava dava lugar a um lado sensível. Eu era mais sensível e intuitivo, mas sempre utilizando argumentos e exemplos concretos… às vezes, a obra se empalidecia  para justificar os dogmas aleatórios, mesmo com toda a capacidade de trabalho. (GGN, áudio visual, 7 jan. 2005)

O reeencontro se deu em 1992, depois eles não se permitiram mais o distanciamento. Mantiveram-se em contato através de ligações e algumas viagens entre o Brasil e a França. Também, muitas reminiscências ratificando o laço forte dessa amizade.  Em 2002, o amigo argentino dedicou-lhe o poema Cores:

As cores da Esperança

Quando o ser humano vem a ser cores, Quando a cor vem a ser forma humana, Quando o ser humano este ligado à terra,

Quando o camponês da terra faz brotar seus frutos, Quando estes frutos são usurpados,

Quando esta usurpação gera a miséria, Quando esta miséria gera revolta, Quando esta revolta é reprimida,

Quando esta repressão obedece a uma ordem, Quando esta ordem é a ordem dos outros,

Quando estes outros acreditam ser proprietários do mundo, Quando este mundo se mundializa em detrimentos da maioria,

Quando esta maioria, eles os camponeses, vem a ser os ‘Damnés de la Terre’.

Quando Netto (Le Parc) com sua caixa de cores está presente,

Quando eles ‘ Les Damnés de la Terre’, estes camponeses (desaparecidos) brasileiros (argentinos), mesmo na pior situação, carregam neles, extremamente e internamente suas cores,

Quando suas cores são aquelas da dignidade, Quando suas cores são aquelas da luta, Quando suas cores são aquelas da esperança,

Quando suas cores são aquelas da alegria que não se deve apagar, Quando na caixa de cores de Netto (Le Parc) passa a ser ativa,

Quando suas cores passam a ser militantes, mas autônomos, elas fazem sua revolta, Quando esta revolta em cores vai ao encontro da justa revolta ‘ Damnés’,

Quando a mesma não passa pelo miserabilismo, nem pela obscura e sombria derrota, nem pela prostração e aniquilamento, mas sim

Pelo desejo e o direito à vida – As cores estão presentes,

Quando estas cores estão presentes no olhar de Netto (Le Parc), no seu coração, na sua primeira sensibilidade, na sua cabeça

Que põem em ordem, as cores passam a ser forma e fé no homem,

Quando tudo que está ancorado no mais profundo de seus ‘ Domnés de la Terre’ e no Netto- Le Parc, Pintor – homem, é evidente que venha a ser figuração,

Quando estão pela intermediação de Netto-Le Parc, com esta forte presença – cor, nós não podemos nos esquivar e nós somos também fortemente envolvidos,

Quando esperança não desaparece, quando a esperança cresce os quadros de Netto-Le Parc permanecem.

Ao ler o poema em voz alta, os olhos de Gontran que já eram grandes ficaram ainda maiores. Riu e lacrimejou ao rememorar o amigo que o chamava de “brésilien, mangeur de banane”. Em seguida lembrou de outra intervenção de Le Parc ao pedir-lhe que escrevesse um texto para uma publicação e respondendo ao seu próprio pedido com a seguinte ironia:

Se você estiver muito velho, sem condições de escrever eu sugiro o texto que eu fiz sobre você {O poema Cores}. A gente troca onde está escrito ‘para Netto’, você coloca ‘para Le Parc’.

Fig. 2: Gontran Guanaes Netto. Os donos da terra (homenagem a Julio Le Parc) Série de doze pinturas, 20022011. Óleo sobre tela, 100 x 100 cm.
Fig. 3: Julio Le Parc. Série 14-5E. Acrylico sobre lienzo 171 x 171 Cm, 1970.

Veja Gisele, pelo texto e a significação do texto é um dos maiores elogios que eu já tive, porque mostra que o texto serve parar mim e para ele.” (GGN, áudio visual, 7 jan. 2005)

Fig. 4: Julio Le Parc e Gontran Guanaes Netto. Ao fundo uma serigrafia de Le Parc baseada em uma pintura de Gontran Netto. França, 2014.

De 1985 a 2010,  Gontran viveu no Brasil. Às vesperas de seus 78 anos ele decidiu voltar a França, também para estar ao lado do amigo Le Parc. Pouco antes de sua partida escreveu “autobiografia de um artista bem sucedido”:

A proximidade dos meus 80 anos e na circunstância do meu retorno a França, sinto- me obrigado a remover a Casa da Memória (*) para outro local. Foi necessário dar uma nova ordem a apresentação dos quadros. Eles marcaram tomadas de posições sobre acontecimentos diversos, tais como: o neocolonialismo 1970-1973, Chile, Vietnã, imperialismo, Palestina, racismo, etc. (…) Ao mesmo tempo me vejo retornando a França com entusiasmo redobrado e com a pretensão de continuar oferecendo novas perspectivas e enriquecer os mesmos objetivos. (GGN, São Paulo, 15 de outubro de 2010)

Em 2017, aos 84 anos. Gontran Guanaes Netto faleceu em Cachan, França.

(*) Gontran abriu a sua Casa-Ateliê aos jovens estudantes de 2007 a 2010, transformando-a em Casa da Memória Coletiva, entre 2007-2008.

Autorretrato

2 nov

por Gisele Miranda

“Eu sai da prisão… duas prisões, uma decorrente da outra. A primeira foi em setembro, a segunda em novembro de 1969. Assassinaram Marighella.” (GGN, áudio, 28 nov. 2002. Arquivo GGN/GM)

A primeira prisão do professor-artista Gontran Netto (1933-2017) se deu na sala de aula, na FAAP. A segunda no ateliê que dividia com José Roberto Aguilar (1941-) e Jô Soares (1938-2022). Na saída da segunda prisão recebeu o aviso que “na terceira não sairia com vida.”

Gontran Guanaes Netto (ou André), tríptico autorretratos de 1954-1964/ 1968-1969 e 1971-1972.óleo sobre madeira, 2 m x 1 m., 1972-1973. Acervo da Família/ Arquivo GGN/GM.

Gontran foi levado pela OBAN (Operação Bandeirantes) onde as torturas ficaram conhecidas ao extremo – “Bacuru” codinome do estudante Eduardo Collen Leite (1946- 1970) – torturas seguidas de mutilações. O momento limite foi na segunda prisão, no DOPS, fizeram-no sentar na “Cadeira do Dragão”.

Algumas horas depois de sua soltura, o artista deixou o Brasil, no intercâmbio presidencial de Costa e Silva a entrada de Emilio G. Médici, de 1969 a 1974.

José Ignacio Sampaio me propôs o seguinte: – Te pago a passagem, te levo até Viracopos e pronto. (…) Uma amiga, a Luiza Freire se encarregou do contrato de aluguel da minha casa, distribuindo minhas coisas entre os amigos (…) livros, discos, desenhos, pinturas. (…) passei a noite enterrando todo o material clandestino. (GGN, manuscrito, 2010. Arquivo GGN/GM)

Sem dinheiro sem falar francês e sem condições de trabalho (…) encontrei um amigo, o Luiz Hildebrando, cientista que trabalhava no Pasteur. Ele me perguntou: ‘e agora, o que você vai fazer!’ Disse a ele: o meu objetivo, dentro do possível, é ocupar um espaço onde eu possa atuar e desenvolver um trabalho contra as ditaduras. (GGN, áudio, 28 nov. 2002. Arquivo GGN/GM)

Ao sair do Brasil, Gontran viveu uma outra realidade, a França do presidente Georges Pompidou e a aliança com os EUA de Nixon. Visto por esse ângulo foram as estratégias políticas de apoio às ditaduras militares na América Latina, Neocolonialismo e o Apartheid – três dos pilares temáticos de sua pintura de 1969 a 1982.

Ao chegar em Paris lembrou que Antônio Henrique Amaral (1935-2015) havia lhe dito na noite anterior, no turbilhão de algumas horas antes do exílio, que o Arthur Piza (1928-) estava em Paris.

Havia abandonado as minhas filhas Lúcia (14 anos) e Cristina (11 anos). Desprovidas agora das condições econômicas (…) da presença física (…) estava vivendo a dor e a impotência (…) culpa por ter abandonado o país, ponderando que talvez pudesse ter sobrevivido na clandestinidade. (…) Não sabia bem o que dizer ao Piza … ele me disse: tem um hotelzinho aqui na esquina, leve esses 10 francos, tome um banho e descanse que o Francis virá buscá-lo. (GGN, manuscrito, 2010. Arquivo GGN/GM)

Sem saber se expressar para os amigos, cada dia sentia-se mais inseguro. Não parava de pensar, sentir medo e a recordar das prisões, dos gritos e das mortes. Depois de meses no exílio nesse “ir e vir dentro de situações de grande dramaticidade” (NEGRI, 2001, p.10), Gontran encontrou o escultor Construtivista Sergio Camargo (1930-1990):

Um fato decisivo para uma segunda fase de minha estadia na França: Sergio Camargo, artista carioca com prestígio em Paris me apresentou a Cité Internacional des’Arts (…) graças a esta apresentação fui aceito para uma estadia de um ano. (GGN, manuscrito, 2010. Arquivo GGN/GM)

Em Cité de’Arts ele se alinhou “aos Jovens Pintores, aos Pintores antifascistas, aos Pintores Latino-americanos em Paris”, enfim, um novo desafio com a segurança da infraestrutura e amizades. (GGN, áudio, 27 nov. 2002, fita II. Arquivo GGN/GM)

De imediato conheceu o já consagrado Julio Le Parc (1928-). Seus trabalhos são distintos, mas suas cores se encontraram na luta contra as ditaduras e o anticolonialismo. As exposições foram surgindo: duas exposições individuais em Paris. (1970 e 1974) e quatro coletivas, duas em Paris (1970 e 1972), uma em Nova York (1970) e outra em Havana (1973).

Passei a ser ouvido e respeitado, tanto nos meios intelectuais franceses como latino- americanos (…) participações em muitas exposições com caráter estético-político se multiplicaram. Fundamos, a convite da Bienal de Veneza, a Brigada Internacional de pintores Antifascistas. (GGN, manuscrito, 2010. Arquivo GGN/GM)

A Liberdade Guia o Povo

1 nov

por Gisele Miranda

Gontran Netto (1933-2017) pintou a Liberdade guia o Povo, em 1989, na estação do Metrô de São Paulo, Mal. Deodoro. É uma releitura da obra de Delacroix, A Liberdade guiando o Povo, de 1830. São duas as representações de Marianne. Concomitante, reverenciou os 200 anos da Revolução Francesa (1789-1989) e sua importância histórica.

Fig. 1: Gontran Guanaes Netto. A Liberdade guia o Povo: painel Marianne I, 1989. Óleo sobre madeira, 2,0 m x 2,0 m. Acervo do Metrô da cidade São Paulo, estação Marechal Deodoro, SP, Brasil.

Ele também pintou a escrita da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão:

– Mas, Gontran, são 17 artigos, por que em francês?

– Porque é a língua original, Gisele! Para que serve a internet? (Gontran Netto, áudio, 24 abr. 2005. Arquivo GGN/GM)

Próximos a Declaração estão as pinturas de retratos de alguns líderes históricos, lá estão, entre outros, Salvador Allende (1908-1973), Fidel Castro (1926-2016), Nelson Mandela (1918-2013), Carlos Lamarca (1937-1971), Carlos Marighella (1911-1969), Luís Carlos Prestes (1898-1990), Olga Benário Prestes (1908-1942), Yasser Arafat (1929-2004).

Arafat foi inserido em 2011, durante a restauração dos painéis para abrir as discussões sobre os conflitos entre palestinos e israelenses. Gontran ajudou a criar o Museu de Resistência da Palestina, em 1978, entre outros artistas solidários. Ele doou uma pintura que foi destruída, em 1982, durante o cerco israelense em Beirute.

Fig. 2: Gontran Guanaes Netto. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 1989 (parte I dos três paineis) Óleo sobre madeira, 2,0 m x 2,0 m. Acervo do Metrô da cidade São Paulo, estação Marechal Deodoro, SP, Brasil.

A Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade foram discutidas e construídas por meses no próprio metrô e em um praça em frente à estação, das 5:00 às 17:00. Dessa forma, consagrou os rostos dos trabalhadores que diariamente utilizavam o transporte. Essa aproximação resultou em cartas e em palavras de agradecimentos.

Fig. 4: Gontran Guanaes Netto (1933-2017) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 1989 (os três paineis superiores) Óleo sobre madeira, 2,0 m x 2,0 m. Arte no Metrô da cidade São Paulo, estação Mal.
Deodoro, Arquivo GGN/GM.

A solicitude de Gontran em estar orientando, conversando, debatendo – o rejuvenesceu, pois ali ele foi o professor e o artista, vinte anos depois de seu exílio político na França. Naturalmente, ele se tornou uma referência para os jovens interessados em pintar e desenhar. Nesse processo, o artista conheceu uma moça chamada Henriette:

Ela fazia uns desenhos sombrios. O que pude arrancar dela, depois de um bom tempo, é que ela morava sozinha e não conseguia terminar o curso universitário.” (GGN, áudio, 27 nov. 2002. Arquivo GGN/GM)

Henriette escreveu uma carta que o artista fez questão de ler em voz alta, quinze anos depois da obra realizada com o pedido de incorporação dessa memória ao referenciar as pinturas da estação.

“A Guernica Tupiniquim.

Estava conversando com meu amigo pintor e comentamos sobre o processo dinâmico da vida. Tocamos no ponto nevrálgico da questão. Tenho me sentido tão desmotivada, sem direcionamentos…, talvez estejamos todos a procura de respostas. O ponto crucial é, vendo-o atuante, interessado nas coisas que acontecem a sua volta, pessoas que chegam curiosas atraídas pelas cores fortes de seus trabalhos cujos personagens parecem saltar delas para a nossa realidade. Sinto saudades do tempo em que tínhamos esperanças. O tema, o enfoque principal é a liberdade, retratada simbolicamente por uma mulher em atitude de desafio, seja pelo busto nu ou pelas armas e bandeira que (…) Sua figura altaneira forte parece convocar a ação e animada por uma força centrífuga acolhendo os que a procuram em busca de seus mais íntimos e inesquecíveis (…) A mensagem está bem clara no primeiro mural, no segundo já em outro momento sobre o fogo avassalador da batalha portando ainda armas e estandartes cobrem a retaguarda um pequeno exército meio aturdido. Desconhecem, talvez, a própria coragem. Artefatos de guerra tem somente as ferramentas do trabalho demonstrando os quão desesperados e desprotegidos caminham em busca de seus sonhos tão caros quanto antigos, cada vez mais, desviadamente distantes. Arquétipos incontestáveis do nosso tempo, nossa pátria carrega os olhares de uma imensa tristeza: implorar compreensão. São olhos inocentes isentos do brilho do ódio e da raiva racional que costumam impelir os desesperançosos às lutas sem papel, à violência desnecessária. Parecem ser as únicas armas infelizmente capazes de fazer frente à senha devoradora dos exploradores fantasiados de políticos, empresários, latifundiários (…) Dirigentes de um país exaurido pela sangria desenfreada iniciada no seu descobrimento que nunca cessa. Ainda hoje sangra, seus filhos sangram, como os destinos comuns de ambos devessem se encontrar numa imensa chaga aberta. Empresta-se uma solidariedade hipócrita a África, nosso grande espelho. Seus filhos tiveram aqui sua iniciação na escravidão mais aviltante. Teve seu sangue vergonhosamente misturado ao nosso no altar macabro do mesmo sacrifício… de acusação eterna contra a prepotência dos que se julgam poderosos e alicerçados na impunidade. Fraticidas, aproveitadores e demagogos (…) A história, caprichosamente tem mostrado a esses vampiros cegos que têm também pescoços frágeis, veja por exemplo a queda da bastilha (…) Não precisamos nem portar bandeiras, diga-se de passagem. Quem tem boa memória ou sabe ler nas entrelinhas venha me fazer desmentir se puder.” (Gontran Netto, áudio, 27 nov. 2002. Uma parte da Carta de Henriette Lima a Gontran, 1989/1990. Arquivo GGN/GM)

Após a leitura rememorou que pouco depois da carta, Henriette foi buscar o alicate que havia emprestado.

Ela veio meio sisuda buscar o alicate. Olhei para ela e pensei, tem coisa grave aí. No outro dia veio a vizinha de Henriette; ela foi descoberta morta. Foi uma crise de diabete. Mas não foi, eu não acredito. Foi um suicídio. A vizinha veio me chamar para o velório porque disse que não tinha ninguém no velório. Todos da praça foram ao velório. Quando ela pediu o alicate era a ligação dela com o mundo e comigo. (Gontran Netto, áudio, 27 nov. 2002. Arquivo GGN/GM)

O TECER dos 13 anos do Blog TECITURAS (2010-2023)

30 out

por Gisele Miranda, Lia Mirror & Laila Lizmann

O Blog Tecituras nasceu nas paredes de um quarto – gestado e parido. As palavras foram esculpidas, ora na pena, ora com as unhas. O caos, a dor e a “solidão do porvir de poucos” atentou que a “consciência sobrevive a qualquer circunstância”. As incisivas palavras são do artista Gontran Guanaes Netto (1933-2017), amigo, professor e tutor.

Gontran Netto nos deu a honra de sua colaboração no Tecituras com suas obras e suas reflexões, seus escritos e interferências.

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A homenagem dos 13 anos do Tecituras vem de um conteúdo Histórico, Artístico, Crítico e Político. De conteúdo imaterial, inquietações do pensamento à escrita com o objetivo de compartilhar conhecimentos, experienciar e zelar pelos bens culturais, com colaboradores – com ou sem vínculos acadêmicos e com uma bagagem de textos não perecíveis ao tempo, atualizados, conscienciosos de sua necessidade, por isso, nossa justa homenagem a Gontran Guanaes Netto. Há inúmeros textos sobre sua arte, sua luta, além de tutelar um pequeno espaço tecido ao longo desses anos com pesquisas sobre as obras de Antonio Peticov, Emmanuel Nery, Paschoal Carlos Magno, entre outros temas.

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O conteúdo artístico faz uma grande diferença. O conteúdo crítico é uma filtro necessário frente a educação da exclusão. Dessa homenagem tecemos reverência ao ofício dos professores em situações de risco e pobreza.

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Nosso Brasil tão diverso, nascido de um histórico de pura violência, dos séculos de escravidão, da exclusão, dos preconceitos. Esses séculos não foram sanados, tão pouco, os 21 anos de violência da ditadura civil e militar no Brasil, porque não há consciência histórica.
As ditaduras devastaram toda a América Latina, torturaram, violentaram, reprimiram, subornaram, difamaram e mataram. Toda essa herança resiste cada vez mais, estratificada nos professores, na moral da violência e da submissão material, na baixa remuneração, na ausência dos livros, das leituras, do tempo, das escritas à “missão impossível”.
Entre a teoria, o discurso frio e confortável há o extremo da prática nada confortável. Entre as fases antagônicas existem mais falas sujas, oportunas e arrogantes. Sem dúvida, a figura opressora tem cúmplices entre os próprios oprimidos. (1)

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Entre os traumatizados há sobreviventes, independente da indexação, do conforto, da assepsia, da insensibilidade, do apodrecimento, dos muros onde os discursos, principalmente econômicos falam mais alto, não por acidente, mas por natureza.

(1)  BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo Vol 2: A Experiência Vivida, Difusão Européia do Livro, 1967. “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.

(2)  DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Ed. 34, 2010, p. 221. 

Provocativas e “Quem tem medo de Simone de Beauvoir?”

6 out

Provocativas

por Gisele Miranda

O texto Quem tem medo de Simone de Beauvoir?fez-se – em meio a provocativas, proposta de parceria do Tecituras que varia conforme a necessidade, ou seja, questões do pensamento vertendo à escrita numa plasticidade gestada (na fabricação do próprio mel – palavras, signos, paisagens… com as folhas do campo e das ervas daninhas, reverbrando Le Goff). No exercício diário do experienciar, de encontro aos muros, de verter obras e pensamentos para uma própria e necessária escrita. Não numa linguagem verborrágica, maledicente sob uma privilegiada educação, que faz da escrita um discurso fatalista do incorreto/correto, a pouca valorização do pensamento. Afinal, mais do que desigualdades, a educação convulsiona no esfarelado do patrimônio.

O verborrágico sem a temporalidade necessária incorre nas muitas impossibilidades merecedoras de criações, no entanto, desviam no conglomerado de citações rumo ao vazio, o que não deixa de ser um caminho. Ora contemporâneos e de difícil compreensão pela falta de distanciamento reflexivo, ora pelo pegajoso da facilidade; ora ou outra, o personagem asséptico ecoando uma ordenada leitura num silêncio impermeável ao diálogo, logo, no conforto e na assepsia.

Talvez, a simplicidade das palavras esteja em falta, assim como o trabalho do pensamento – lento, que desvenda e desaponta, desestabiliza porque há uma consciência encarnada num corpo humano (Merleau-Ponty), mesmo hoje, em meio à desmaterialização do espaço (por Pierre Levy) ou que o sujeito neurótico seja substituído pela falta de identidade (o esquizo de Deleuze).

Afinal, que tempo ou pensamento é esse? Tempo em que Sartre em sua irreversível velhice dizia que jamais se sentiu velho. Ele morreu em 1980, aos 74 anos, assumindo posições e reiterando que o silêncio é reacionário.

Sartre criticou o comunismo assassino de Stalin, por um Humanismo que o vitimou em estado de utopia. Em tempo de domínio marxista propôs a anarquia dos jovens ao conceito. Pela utopia criticou com veemência o papel do intelectual clássico (e asséptico), que tem seus encantos na boa escrita; mas para criticar precisou dos longos e pacientes 16 anos para o inacabado L´idiot de la famille, sobre o intelectual Flaubert, pela dificuldade de falar de Bovary, pois tinha ao seu lado, em carne e osso, Simone de Beauvoir.

Ao longo das vidas de Sartre e Beauvoir muitos nomes circularam sob críticas, embates de egos aos infortúnios; viver numa guerra é sem dúvida aterrorizador. Há os que não resistiram as guerras, como Marc Bloch, mas sua escrita subterrânea sobreviveu; assim como há os que escaparam, dificilmente sem danos por força das circunstâncias como Sartre.

Se Sartre parecia mais sensível e popularizado – o que certamente seus críticos mais ferrenhos adoram diagnosticar como melindre burguês e populista – talvez devêssemos nos deter “a sensibilidade e a inteligência não estão separadas… sensibilidade produz inteligência”. (Sartre, In: Beauvoir, 1981, p. 411)

Inteligência para discutir, atritar, conviver, enfim, trabalhar o pensamento em seus vários momentos, mas percebê-los necessários e maturados, assim com a vida de seus contemporâneos, Merleau-Ponty, Camus, Foucault, Althusser, Deleuze, entre tantos; e sensibilidade de partilhar seus dividendos para suprir necessidades de amigos, conhecidos, grupos e propostas utópicas.

Quando Sartre e Beauvoir estiveram no Brasil, em Araraquara, 1960, houve uma conhecida foto da platéia: Ruth Cardoso, Bento Prado Jr. e Fernando Henrique Cardoso.

Prato cheio para o olhar conservador (de hoje) falar do lado burguês de Sartre, o que ressoaria uma posição centro-esquerda a centro. Afinal, qual era o público de Sartre e Beauvoir? Como se não estivéssemos à beira de uma ditadura militar por longos 21 anos! Nessa mesma platéia estava o jovem pintor autodidata Gontran Guanaes Netto, filho de um boia-fria, que logo se tornaria um militante de pseudônimo André, exilado político na França, humanista e colaborador do Tecituras.

Plateia da conferência de Jean-Paul Sartre, 1960, Araraquara/SP: Gontran Guanaes Netto é o terceiro na segunda fila; primeira fila Ruth, FHC, Bento Prado Jr.

“Uns gatos mijaram em mim”, relato de Simone de Beauvoir do humano Sartre sobre sua incontinência urinária. Simone vocifera na escrita: “É terrível assistir à agonia de uma esperança”. E para fechar essa parceria Sartre e Beauvoir  atual, e por que não dizer, humana e utópica, cabe o destaque a pergunta de Beauvoir a Sartre: “Quando perdeu essa ideia estúpida de que moças que se deitam livremente são mais ou menos putas?” Sartre respondeu que aos dezoito anos caiu em si. (Beauvoir, 1981, p. 93; 406)

No mais, deixo aos leitores o exercício do pensamento de Beauvoiriana, com a licença de relembrar o seu I am not a woman writer “… sou uma pessoa que ocupa na sociedade uma posição qualquer, independente de meu gênero.”

Quem tem medo de Simone de Beauvoir? (*) por Beauvoiriana

Recentemente, tenho lido e ouvido muitos julgamentos, de teor e tom questionáveis, a Simone de Beauvoir que suscitam uma pergunta: por que sua figura e seu pensamento incomodam tanto? Sua bissexualidade, amantes, a recusa do casamento e da maternidade, a liberdade e independência em um mundo cada vez mais conservador.

Simone de Beauvoir nasceu há 113 anos. Suas obras mais influentes foram escritas entre os anos 1940 e meados dos anos 1970. O Segundo Sexo, seu livro mais importante, foi publicado em 1949. Lá se vão mais de 60 anos. Ainda hoje, muitas pessoas se recusam a ler Simone de Beauvoir porque ela era “uma libertina”. E repetem-se afirmações forjadas para atribuir a ela tudo aquilo contra o que ela lutou no plano das ideias e no plano da ação. Acusam-na de submissão, de dependência, de pregar o feminismo para as outras mulheres e não praticá-lo.

Essa resistência a Simone de Beauvoir esbarra em questões mais profundas sobre nossa sociedade: a condição da mulher, especificamente a mulher intelectual; a relação entre a experiência vivida e a escrita da memória com a subjetividade; as expectativas que recaem sobre os intelectuais. Tentarei abordar brevemente, e de forma não sistemática, alguns desses temas tendo como referência a figura de Simone de Beauvoir.

Simone de Beauvoir em seu quarto no Hotel Louisiane, Paris, 1946. Foto: Fonds Photographique Denise Bellon.

Os intelectuais vivem, obviamente transformando-se. É pouco racional ignorar que esse trabalho exige esforço.

Há quem queira invalidar o pensamento libertário e antissexista de Simone de Beauvoir baseado em sua relação com Sartre.

Simone de Beauvoir e Sartre tinham 20 e poucos anos quando firmaram um pacto que previa um relacionamento aberto. Quem propôs este pacto foi Sartre. E Simone de Beauvoir o aceitou. Logo depois, eles foram nomeados para lecionar em cidades diferentes da França. O que unia a ambos: o relacionamento sexual, amoroso, e uma afinidade intelectual que provavelmente nenhum de seus críticos ou seguidores jamais experimentou. Sartre propôs casamento a Simone. Ela recusou.

O amor necessário entre ambos sempre superou os amores contingentes. Com o escritor Nelson Algren, envolveu-se no amor romantizado e “tradicional” para sua época. Ele a pediu em casamento. Ela recusou.

Simone de Beauvoir escreveu milhares de páginas em romances, ensaios, memórias abordando esses e outros fatos. Considerada uma das maiores memorialistas do século 20.

Em cada página das memórias, a honestidade de Simone é invejável. Ela reconhece, por exemplo, as críticas mal-informadas que ela e Sartre fizeram a Freud, os enganos que cometeram em algumas avaliações a respeito de personagens e colegas durante a guerra, o fato de que, durante muito tempo, ela e Sartre, embora lutando contra os ideais burgueses, se submeteram totalmente e sem sequer perceber ao estilo de vida que abominavam.

Simone de Beauvoir acreditava que a matéria-prima do intelectual, além da capacidade de compreender e criticar as teorias – é a própria experiência. A partir daí, pensava construir nossa relação com o mundo, talhar subjetividades e, assim, produzir uma obra intelectual, nos anos 1930, época que, uma mulher desacompanhada nem sempre era aceita em um café; ela optava por estar só. A solidão era a chave de sua abertura para o mundo.

Outra crítica comum a Simone de Beauvoir é de que ela era feminista em seus livros, mas não era feminista em seu relacionamento com Sartre. Dizem que ela pregava o feminismo para outras mulheres e não o praticava.

Em suas memórias, Simone de Beauvoir afirma que jamais foi feminista e que O Segundo Sexo, publicado em 1949, nunca foi concebido como um livro feminista. Por isso, quem cobra dela uma postura feminista em todos os episódios de sua vida age de má-fé. Simone de Beauvoir só se alinha ao feminismo nos anos 1970.

Eles não podiam viver a juventude de acordo com algo que ela só reconheceu e valorizou na velhice. Sim, os intelectuais mudam e se transformam ao longo do tempo, e isso não invalida seu pensamento.

O julgamento que ataca Simone de Beauvoir não é apenas aquele forjado no sexismo. Há um outro substrato nas acusações levianas que enumerei aqui e em outras que não há espaço para detalhar. Esse substrato é a necessidade de fazer de intelectuais verdadeiros deuses, modelos de comportamento, pessoas infalíveis que têm soluções infalíveis e que não podem ser questionadas.

Simone e Sartre construíram um sistema de pensamento que enfatiza: todos somos livres e a liberdade nos confronta a cada segundo com a angústia de fazer escolhas e com o sofrimento de nos responsabilizarmos por elas. Viver na insegurança, na incerteza e em constante contato com sua própria falibilidade e a ambiguidade.

Há quem Busque desqualificar o pensamento libertário, radical, transformador que, por definição, se constrói com base na exploração de visões de mundo, atitudes e comportamentos fora dos padrões e na diversidade de ideias e de ação. Nesse sentido, criticar Simone de Beauvoir (e Sartre) é muito mais construir empecilhos para que os intelectuais de hoje se inspirem ou busquem referências em suas ideias e possam pensar algo novo e tão transformador como eles pensaram em suas épocas.

Quem resiste a pensadores como Simone de Beauvoir e Sartre teme que alguém possa continuar a trilhar os caminhos que eles abriram. Teme palavras como liberdade, ambiguidade, imperfeição, descoberta, independência e, principalmente, responsabilidade e consciência. Talvez possam encontrar algo assim em alguma religião. Jamais encontrarão isso em pensadores livres e, felizmente, imperfeitos.

Sartre e Beauvoir. Foto: Antanas Sutkus, 1965

Apontamentos e sugestões:

(*) Quem tem medo de Simone de Beauvoir? publicado na íntegra no portal O Pensador Selvagem.

(**) Sobre Gontran Guanaes Netto . Dados biográficos de Gontran Guanaes Netto por Gisèle Miranda https://tecituras.wordpress.com/2010/01/11/brava-luta/

https://tecituras.wordpress.com/2010/10/25/a-atualidade-de-simone-de-beauvoir/

https://tecituras.wordpress.com/2010/10/18/i-am-not-a-woman-writer/

BEAUVOIR, Simone de. Por uma moral da ambigüidade. Rio de janeiro, Nova Fronteira, 2005.

BEAUVOIR, Simone de. A cerimônia do adeus. Seguido de entrevistas com Jean-Paul Sartre (ago/set 1974). Tradução de Rita Braga. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão; Irene Ferreira & Suzana Ferreira Borges. 2 ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1992. (coleção Repertórios)

SARTRE, Jean-Paul. Sartre no Brasil: a conferencia de Araraquara. Filosofia marxista e ideologia existencialista. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenologia. 3. ed. Petropolis: Vozes, 1997.

O encontro nas cores: Gontran Guanaes Netto e Julio Le Parc

13 ago

Por Gisèle Miranda

O poema Cores da Esperança foi escrito por Julio Le Parc (1928-), em 2002, para Gontran Guanaes Netto (1933-2017), em seguida, foi apresentado por Guanaes Netto dedicado a Le Parc – uma inversão na escrita com a abdicação do ‘eu’. Postura construida ao longo de suas particiações em Coletivos Artísticos com comprometimento político em prol do ‘outro’.

Le Parc tornou-se cidadão de dupla nacionalidade franco argentino em função de suas atividades artísticas. Anterior aos trabalhos e amizade com Gontran, Le Parc recusou-se a participar da Bienal de Arte de São Paulo, em 1964, em protesto ao golpe militar no Brasil.

Gontran tornou-se franco brasileiro. Depois de algumas prisões conseguiu sobreviver e partiu para o exílio, em 1969. Em Paris conheceu seu amigo de Cores da Esperança. Lá, foram membros fundadores da Brigada Internacional Anti-fascistas.

As cores (Luz) da Esperança

Quando o ser humano vem a ser cores,

Quando a cor vem a ser forma humana,

Quando o ser humano este ligado à terra,

Quando o camponês da terra faz brotar seus frutos,

Quando estes frutos são usurpados,

Quando esta usurpação gera a miséria,

Quando esta miséria gera revolta,

Quando esta revolta é reprimida,

Quando esta repressão obedece a uma ordem,

Quando esta ordem é a ordem dos outros,

Quando estes outros acrediam ser proprietários do mundo,

Quando este mundo se mundializa em detrimentos da maioria,

Quando esta maioria, eles os camponeses, vem a ser os  ‘Damnés de la Terre’.

Quando Netto (Le Parc) com sua caixa de cores está presente,

Quando eles ‘ Les Damnés de la Terre’, estes camponeses (desaparecidos) brasileiros (argentinos), mesmo na pior situação, carregam neles, extremamente e internamente suas cores,

Quando suas cores são aquelas da dignidade,

Quando suas cores são aquelas da luta,

Quando suas cores são aquelas da esperança,

Quando suas cores são aquelas da alegria que não se deve apagar,

Quando na caixa de cores de Netto (Le Parc) passa a ser ativa,

Quando suas cores passam a ser militantes, mas autônomos, elas fazem sua revolta,

Quando esta revolta em cores vai ao encontro da justa revolta ‘ Damnés’,

Quando a mesma não passa pelo miserabilismo, nem pela obscura e sombria derrota, nem pela prostração e aniquilamento, mas sim

Pelo desejo e o direito à vida – As cores estão presentes,

Quando estas cores estão presentes no olhar de Netto (Le Parc), no seu coração, na sua primeira sensibilidade, na sua cabeça

Que põem em ordem, as cores passam a ser forma e fé no homem,

Quando tudo que está ancorado no mais profundo de seus ‘ Domnés de la Terre’ e no Netto- Le Parc, Pintor – homem, é evidente que venha a ser figuração,

Quando estão pela intermediação de Netto-Le Parc, com esta forte presença – cor, nós não podemos nos esquivar e nós somos também fortemente envolvidos,

Quando esperança não desaparece, quando a esperança cresce os quadros de Netto permanecem.

Julio Le Parc. Série 14-5E. Acrylico sobre lienzo 171 x 171 Cm, 1970.

Gontran Guanaes Netto. Os donos da terra (Série de doze pinturas dedicado a Le Parc, 2002-2011. Óleo sobre tela, 100 x 100 cm
2011. Óleo sobre tela, 100 x 100 cm.

´O Gigante´ de GOYA

2 jan

Por Gisele Miranda

 

Ao

Amor

e à

Guerra

Francisco GOYA (Fuendetodos, Espanha, 1746 – Bordéus, França, 1828)  O Gigante, c. 1818. Água forte e buril, 28,5 x 21 cm. Museum of Modern Art, New York.

Designado: ´O Gigante´! Ninguém conhecia sua estatura ou peso. Goya fez um mortal que se tornou imortal nas proporções de sua potência. Na poesia de sua arte retratou-o ardorosamente amado. Amado gigantemente. Amado para ser na sua eternidade, uma imagem indestrutível.

– Por quantas guerras mais? Qual guerra?

O pintor da corte Espanhola foi a forte expressão do Romantismo. O século 19 deve muito a Goya que na aparente estabilidade profissional empunhou seu Realismo Social e Político sobre o amor e a guerra; dor como parte intrínseca. Naquele momento seu tempo expirava. Rasgou o Barroco e os olhos cegos de sua aristocracia. Ele cavou o Romantismo e cruzou mares e movimentos em um historicismo ladeado pela Modernidade.

Sólidas estruturas para o tão só e desnudo Gigante de Goya! Que frágil e duro corpo coloca-se à nossa frente?! Era o desterro sem o gozo do perto: solitário!

Lá está o Gigante na forma disforme da opulência de seu corpo ou da imaginação de seu povo?  Como pode estar tão solitário com toda a devoção à sua grandeza?

O tato e o afeto não se aproximavam. Havia reverência e distanciamento. Muitos gritaram seu nome em coro, uníssono. Goya já estava surdo!

Muitos choraram por temerem perdê-lo e por fim, a derrocada. Mas Goya não permitiu que a fúria do tempo ousasse esquecê-lo.

O que diz esse olhar querendo ser olhado? O corpo almejando ser tocado? Essa boca como a de um mortal desejando ser beijada. Despudorado esse sexo comum ser amado!

–         É divino ou poesia?

–         É medo ou poesia?

–         É dor ou poesia?

Do alto mar, terra à vista.  A lua é um quarto crescente. A sensação é de vazio, enquanto estava a seus pés a fêmea cidade! Por ela, ´O Gigante´ lutou até cair nos braços da morte.

Se encarada a versão mitológica, ´o gigante´ é o monstro, é o cruel; ciclope, minotauro, monstros submarinos shakespereanos. Meio homem, meio animal.  Mortal e imortal. De Goya, a imagem de Saturno devorando sua própria cria.

Goya (Fuendetodos, Espanha, 1746- Bordéus, França, 1828), Saturno devorando seu filho, 1815. 146 x 83 cm. Museu do Prado (Madri/ ESpanha)

Não por acaso que é unanimidade entre os críticos e biógrafos de Goya confessar a dor como base para ousar escrever sobre este artista e sua arte. Confessarei apenas que:

´Eu vi´, ´O Gigante´ de Goya! Tal qual o próprio Goya respondia ao ser indagado sobre o que pensava ao criar.

Referências:

V. Tb. versão “Saturno” por Peter Paul Rubens (1577-1640)

Francisco GOYA, nasceu em Fuendetodos (Saragoça – Espanha), em março de 1746, e faleceu em Bordéus (França), em abril de 1828.

Final do século 18 e início do século 19, o Romantismo aconteceu na pintura histórica e na ressurreição Gótica ou Neo Gótico (verticalização das igrejas; a primeira fase Gótica se deu entre os séculos 13 e 15. O Romantismo deu sinais de seu esgotamento em meados do século 19.

O Romantismo tem uma face demasiadamente histórico-filosófico via tese de doutorado de Walter Benjamim (1917-1919) – a partir dos pensadores Novalis e os irmãos Schelegel-  ascendeu a discussão sobre ´cartografia dos conceitos´, através do Romantismo Alemão – tais como: ´aura´, ´modernidade´, ´reminiscência,, ´reflexão´ (via conexão e não continuidade) entre outros. A primeira fase desse Romantismo: entre ´a religião e a revolução´, ´crítica e crítico´, ´ideia e ideal´, ´prosa e poesia´. Tb. – ´obra inacabada´-, ou seja, ´ o devir´; conceito conduzido com traquejo neste século pelos filósofos Deleuze & Guattari.

Na perspectiva histórica do Romantismo encontram-se também: autonomia das nações; povos com suas realidades geográficas, históricas, religiosas e lingüísticas; experiência vivida e à genialidade artística. No Brasil dos 1800, há forte influência dos trabalhos de Goya, Delacroix, Turner, Rodin sobre a arte de Araújo Porto Alegre, Rugendas e August Miller.

Sugestão: Sombras de Goya, 2006, dirigido por Milos Forman e roteiro de Jean-Claude Carrière, com atuações de Javier BardemNatalie Portman.

Também cabe lembrar a exposição GOYA: as séries completas das gravuras (coleção Caixanova), que ocorreu em abril/maio de 2007, no MASP, sob a curadoria de Teixeira Coelho.

Os séculos antecedentes ao Romantismo Histórico, ou seja, séculos 17 e 18. Ver ARGAN 1992: as divisões dos conceitos Clássico X Romântico. (incluso Romântico do Medievo, do Românico ao Gótico e Barroco em oposição ao Clássico e Neoclássico.

ARGAN, G. C. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

COLI, J. O sonho da razão produz monstros. In: A crise da razão. São Paulo, Companhia das Letras, 1999. p. 301-312.

BENJAMIN, Walter. O conceito de crítica de arte no Romantismo alemão. São Paulo: Iluminuras, 1999. 2ª ed. Tradução, prefácio e notas: Marcio Seligmann-Silva.

CARRIÈRE, J.C. & FORMAN, M. Os Fantasmas de Goya. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

GOMBRICH, E. H. História da Arte. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.

GUINSBURG, J. (Org.) O Romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2005.

HUGHES, Robert. Goya. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

LÖWY, Michel. Romantismo e messianismo: ensaio sobre Lukács e Walter Benjamim. São Paulo: Perspectiva, 1990. Tradução: Myrian Veras Baptista e Magdalena Pizante Baptista.

LÖWY, Michel. Messianismo e revolução. In: A crise da razão. São Paulo, Companhia das Letras, 1999. p. 395-408.

Revista BRAVO! GOYA. São Paulo: Editora Abril, 2007. Ano 10, n. 116, p. 26-37 (abril).

TOMLINSON, Janis. Francisco Goya y Lucientes (1746-1828). New York: Phaidon Press Limited, 2006.