por Gisele Miranda
Jean Désiré Gustav COURBET (1819-1877) veio de uma família rural bem estabelecida. Iniciou o curso de Direito, mas abandonou para estudar desenho de maneira independente até criar o seu próprio Realismo – da construção do discurso e da prática.
Courbet foi fascinado pelo Barroco Laico de Frans Hals (1580-1666), Rembrandt (1606-1669) e Rubens (1577-1640). E se curvou ao retratista do Barroco Religioso Diego Velázquez (1599-1669).
A pintura de Courbet foi anticlerical e tinha uma técnica de trabalho peculiar a Caravaggio (1571-1610) – o uso da faca na pintura. Também fazia uso do polegar e irritava os críticos da metade do século 19, com a grandeza de sua assinatura, o tamanho e a energia de suas telas, considerados provocações para os críticos conservadores. (Schapiro, 1996, 124-125)
O Ateliê de Courbet tem a amplitude e a força do Realismo construído. Um autorretrato compartilhado com inúmeras releituras: ao lado direito com amigos (intelectuais da época) e seus pais. Ao lado esquerdo a miscelânea de culturas e de quão popular era em seu ofício com crianças, cachorro e a representação da Verdade (a mulher).
Na Releitura de Antonio Peticov, intitulada Pintando com a Verdade Olhando, 2018, há um recorte do ateliê de Courbet. Esse recorte tornou-se o ateliê de Peticov, bem mais intimista, mas onde os artistas se confundem em tempos distintos.
O filho de Antonio Peticov, Pedro Antonio, retratado criança (hoje adulto) ativa toda a esperança no aprendizado, no exercício diário. O ateliê também é representado pelo gato “gordo” e pela saudosa akita, a Yuke.
A representação da mulher (Gisele Miranda/amiga teórica) com o artista autorretratado foi um convite incorporado nas entrelinhas, a partir da História da Arte e de muitas aulas ministradas sobre o Realismo. E da mesma forma, o conhecimento sobre o artista Antonio Peticov, sua biografia e sua obra. Agraciada por representar essa fusão de temporalidades e de movimentos artísticos – de todo o processo – da fotografia, do desenho à pintura.
Revivi o ateliê de Courbet e aproveitei a escada cósmica de Peticov para conversar com Charles Baudelaire (1821-1867), Champfleury (1821-1889), Proudhon (1809-1865), Alfred Bruyas (1821-1876), seus pais e mais dois amigos que na pintura estavam à sua direita.
Baudelaire está lendo um livro; avisei a Baudelaire que o representaria intelectualmente, junto a Peticov, o filho, o gato e o cachorro, os esquadros, a escada cósmica, a ampulheta e os livros.
(*) Nota: Esse texto foi realizado no Instituto de Arte e Cultura Antonio Peticov https://www.peticov.com.br/
Referências:
AMARAL, Aracy. Arte para que? São Paulo: Nobel/ Itaú Cultural, 2003
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. Tradução Denise Bottmann & Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
ARGAN, Giulio Carlo. Imagem e Persuasão: ensaios sobre o Barroco. Tradução Maurício Santana Dias. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
BURKE, Peter. (Org.) A Escrita da história: novas perspectivas. Tradução Magda Lopes. São Paulo: Editora da Universidade Paulista, 1992.
GOMBRICH, Ernst H. J. História da Arte. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão; Irene Ferreira & Suzana Ferreira Borges. 2 ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1992. (coleção Repertórios)
SCHAPIRO, Meyer: A Arte Moderna séculos XIX e XX. Tradução Luiz R. M Gonçalves. São Paulo: Edusp, 1996.
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