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Série Retecituras V: Gontran Guanaes Netto e o seu manifesto pelo Chile.

17 ago

Por Gontran Guanaes Netto & Gisele Miranda

 

A Série Retecituras nasceu pelo revigoramento da escrita, em seu devir inacabado, também rememorado e retecido. Uma aula de história, arte e política.

O tema desse devir maturado é o Museu de Solidariedade Salvador Allende, nascido político com fases significativas de suas obras.

Antes do golpe militar no Chile, o Museu foi pensado entre 1971-72, por Salvador Allende (1908-1973) e contou com participação, entre outros, do crítico de arte Mario Pedrosa (1900-1981).

Durante a ditadura militar do Chile, de 1973 a 1990, as obras doadas tiveram o intuito de reafirmamento/reconhecimento da luta externa contra o ditador Augusto Pinochet (1915-2006) e por solidariedade ao Chile livre. Mesmo sob repressão, o Museu Salvador Allende resistiu.

Quando o Chile resgatou a sua democracia, o Museu foi revitalizado por intermédio da Fundação Salvador Allende e com a participação do artista e curador Emanoel Araújo (1940-2022).

Para selar a parceria Chile-Brasil, reconhecida desde o início do projeto do Museu, além de Mario PedrosaEmanoel Araújo, também estiveram presentes Gontran Guanaes Netto, Antonio Henrique Amaral (1935-2015), Lygia Clak (1920-1988), e inúmeros artistas de outras nacionalidades.

Emanoel Araújo assinou a mostra itinerante de cento e trinta obras selecionadas das duas mil obras do Museu Salvador Allende, denominada: Estéticas, sonhos e Utopias dos Artistas do Mundo pela Liberdade que ocorreu na Galeria de Arte do SESI de São Paulo, de março a junho de 2007.

Gontran Guanaes Netto, La Prière, 1973, acrilico s/ tela 97 x 130 cm.

Gontran Guanaes Netto (1933-2017) , La Prière, 1973, Óleo s/ tela, 97 x 130 cm.

Um ano antes da exposição recebemos um e-mail para avaliação da obra doada por Gontran Guanaes Netto, de 1973 (1). Contudo, a obra estava `sem título´, mas ela chama-se La Prière (A Oração). No mais, abaixo, o manifesto de Gontran Guanaes Netto:

Foi com surpresa que recebi o convite para a inauguração do Museu Solidariedade Salvador Allende. Julguei como certo que minha obra não estaria inclusa neste Novo Museu. A surpresa maior foi ver o meu quadro com a designação “obra sem título”, o que tirou o significado irônico da obra: Nixon (Estados Unidos) e Pompidou (França), presidentes de duas potências durante a guerra do Vietnã (1959-1975, Vietnã X EUA)

A obra chama-se La Prière (A Oração). Tema escolhido para ironizar a atitude de ambos diante da história. Ambos implicados na guerra do Vietnã. Preocupado, revirei papéis antigos e a dar voltas com a minha consciência.

Seria válido estar presente em uma exposição no coração do sistema e movido ao preço de um equívoco histórico, sendo eu testemunha, vivido com ardor e entusiasmo, participando e assinando documentos que contrariam a atual apresentação do Museu?

O golpe do Chile consternou a Europa e, especialmente, a França que naquela época se preocupava com as perspectivas democráticas via eleições. As tendências de denúncia e resistência eram intensas.

Participei da exposição Viva Chile, na galeria Dragão, em Paris; com a venda dos quadros doados angariou-se fundos para retirar pessoas em situação de risco do Chile. Nós, os responsáveis pela iniciativa: Julio Cortázar, Le Parc, Cecília Ayala e eu, além da colaboração de Roberto Matta. No momento do golpe estávamos em Havana e assinamos o Manifesto Setembro 73, contra o golpe de Augusto Pinochet.

Fundamos a Brigada Internacional de Pintores Antifascistas quando recebemos o convite da Bienal de Veneza e apoiamos a greve de doqueiros venezianos que recusaram-se a carregar armamentos para o Chile de Pinochet. 

A Brigada era composta por quinze artistas de diversos países. Além de considerar-me partícipe com outros artistas na criação do Museu contra Apartheid, Museu da Palestina e Museu da Nicarágua. Isso não foi ou é utopia. Agora é história e memória.

Parte da obra coletiva Grupo Denúncia: Sala Escura da Tortura. Gontran Guanaes Netto (1933-2017), Jose Gamarra (1943-) Julio Le Parc (1928-) e Alejandro Marcos (1937-). A partir de relatos de Frei Tito de Alencar e outros torturados.  Obra de 1973. Óleo sobre tela, 2m x 2m.

Só me resta dizer:

Arafat não pertencia a sua família, senão ao povo palestino.

Salvador Allende pertence ao seu povo e sua morte representou um inequívoco ato de Resistência.

Eu vejo os Museus atuais desodorizados, esterilizados e protegidos de manifestações.

Meu único patrimônio ainda é a minha consciência: Ancien combatant, jamais.”

Referências:

GUANAES NETTO, Gontran. Manifesto. Manuscrito,  Itapecerica da Serra, outubro de 2007.

MOLINA, Camila. Preciosidades que chegam do Chile: Mostra reúne parte do Museu Salvador Allende, formado por doações de artistas do mundo todo. Jornal O Estado de S. Paulo, 19 de março de 2007, Caderno 2, D-3

Filme: 11 de Setembro (11’09”01), 2002 (França). Direção: Youssef Chahine (segmento Egito) , Amos Gitai (segmento Israel) , Alejandro González-Iñárritu (segmento México) , Shohei Imamura (segmento Japão) , Claude Lelouch (segmento França) , Ken Loach (segmento Reino Unido) , Samira Makhmalbaf (segmento Irã) , Mira Nair (segmento Índia), Idrissa Ouedraogo (segmento Burkina-Faso) , Sean Penn (segmento Estados Unidos) , Danis Tanovic (segmento Bósnia-Herzegovina). Onze diretores e onze curtas sobre 11 de Setembro; o inglês Ken Loach assinou o curta sobre o 11 de setembro de 1973 do Chile.

Exposição: “Sala Escura da Tortura”. Coletivo sobre as torturas na América Latina. Museu do Ceará, Fortaleza, 2005. Curadoria Edna Prometheu. Exposta a primeira vez no Museu de Arte Moderna de Paris, em 1973, seguindo para exposições na Itália, Suíça, Alemanha e Brasil.

Sobre obras brasileiras do Museu de Solidariedade Salvador Allende: Imprensa Oficial publica livro com obras brasileiras doadas para o Museu da Solidariedade Salvador Allende


[1] Paula Maturana, Coordinadora MSA – Museo de La Solidariedad Salvador Allende, em 26 de abril de 2006  – “Avaluo obra de Gontran Netto perteneciente al Museo de la Solidariedad Salvador Allende”

Série Retecituras IV: Guerras (parte III)

31 mar

por Gisèle Miranda

 

Desde o final da Guerra Fria (1945-1991), a Rússia está em guerra por questões étnicas, religiosas, cobiça de oleodutos, poderio de armamentos, assim como os EUA.

Marina Abramovic, The Family III, série LAOS, 2008

Os denominados terroristas da Tchetchênia ou os separatistas vem em regulares lutas, de 1994 a 2003, com cerca de 150 mil mortes. E quem são os culpados? Em 1999, o premiê Vladimir Putin (no poder até hoje) decretou uma ofensiva militar para controlar os estados que queriam independência.

A Rússia havia garantido a autonomia da Geórgia desde 1994, mas em 2008, o presidente georgiano, Mikhail Saakashvili (1) entrou em conflito com a Rússia, logo após o reconhecimento da independência da Ossétia do Sul. A Geórgia foi invadida pelos russos em pleno Jogos Olímpicos de Pequim, na China em 2008, transmitidos ao vivo

Entre a Rússia e a Sérvia, um dos estados independentes da ex Iuguslávia (Sérvia  e Montenegro, de 2003 a 2006,) há muito em comum além da região do Cáucaso, entre tchetchenos, georgianos e ossetianos do Sul e as independências/nacionalizações de estados procriaram uma limpeza étnica.

No início da década de 1990, entre sérvios e croatas foram mais de 20 mil mortos. No final da década, Kosovo (minoria sérvia e maioria albanesa) aumentou esse número estimativo, quando em 2008 se declarou independente da Sérvia.

Vale relembrar, entre outros, o filme de Jazmin Dizdar (Bósnio que naturalizou-se britânico): Beautiful People, de 1999. No filme são focadas 4 famílias na Grã Bretanha e suas relações com refugiados de guerra da Bósnia, ou seja, sérvios e croatas, outrora vizinhos e amigos e no exílio, inimigos étnicos sob olhares dos ´civilizados´ britânicos que os acolheram – nasceu então, Caos, o filho do estupro – crime como armas de guerras. (2)

Em 2000, Slobodan MILOSEVIC, ex presidente sérvio foi preso por crimes de guerra – limpeza étnica, proclamador do lema: ´você pode´. Ele morreu em 2006, sem nenhum sinal de arrependimento. Em 2008, Radovan Karadzic ou Dragan Dabic, outro líder sérvio, assassino em potencial foi encontrado na ativa da limpeza étnica. Estava seguro do funcionamento da limpeza: “Converta-se à minha nova fé, multidão/ Eu lhe ofereço o que nunca ninguém teve antes/Lhe ofereço inclemência e vinho…Povo, em minha fé nada é proibido/ Há amor e há bebida… E essa divindade não proíbe nada” KARADZIC.

A outra potência fruto da Guerra Fria, os EUA, vem seguidamente sendo bombardeados pelos ditos terroristas, em contrapartida se fazem reconhecer pela capacidade militar. (vide as guerras com o Afeganistão e com o Iraque).

Mas há vencedores inesperados, ainda diminutos, deslocados aqui e ali, via ´participação de populações por todo o mundo através de passeatas pela PAZ´. É pouco? É inesperado. Mas receio, tal como os historiadores  Eric Hobsbawm e Luiz Felipe Alencastro, entre outros, que as prerrogativas são aterrorizantes, visto que há uma elevação da direita política em alguns países, donde se imprime pouca ou irrisória participação no voto popular, e onde a participação popular tem se reduzido as lutas particulares, apesar da globalização. Oxalá, o inesperado venha com sua potência surpreender-nos, mais que o CAOS e os filhos que não retornaram e os filhos de estupros– ou seja, marcas de gerações da guerra e pós guerra.

(*) Marina Abramovic é Sérvia radicada nos EUA.


(1) Mikhail Saakashvili – neoliberal e pró estadununidense que enviou ao Iraque dois mil soldados para ajudar quem lhe apoiava como estado independente.

(2) Série Retecituras II: marcas – mãe e armas de guerras https://tecituras.wordpress.com/2010/03/08/marcas-mae-mulher-prostituta-e-armas-de-guerra/

Série Retecituras IV: Guerras (Parte II)

18 mar

Por Gisèle Miranda

O sionismo dos EUA já expôs que a culpa ocidental pelo antissemitismo esteja cegando o discernimento no conflito entre israelenses e palestinos. Que outrora as vítimas tornaram-se algozes, ou seja, os palestinos são, como dizia o intelectual Edward Said,  “vítimas das vítimas”.

Portanto, a ‘segregação’ de expropriados palestinos em 1948 (aproximadamente 750 mil), em 1967,  transformou-se de fato, em apartheid, e vigora aos olhos no mundo.

Marina Abramovic, Balkan Baroque, 1997

O cineasta israelense Amos Gitaï em seus esforços, vem se opondo a omissão. Com Kedma, Amos Gitai venceu o prêmio da crítica na 26ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2002. Kedma é o nome do cargueiro que transportou, em 1948, os sobreviventes do Holocausto até a Palestina (alguns dias antes da criação do Estado de Israel).

Cabe destaque do personagem sobrevivente judeu, professor de história que quando pensou ter chegado à terra prometida, se viu cercado por soldados ingleses; ele fugiu em grupo e encontrou outros pequenos grupos e se viu novamente lutando para sobreviver, desta vez contra os ciganos e depois de árabes.

Na estrada de terra sobreviventes cruzam com sobreviventes inimigos, fugindo uns dos outros, não mais com a força bruta, mas com a força da palavra. É a trégua obrigatória. Trégua também quando um velho palestino ‘escreve’ pela palavra gritada e levanta o seu cajado pelo futuro de seus descendentes: a certeza de que seus filhos, seus netos, seus bisnetos jamais deixariam àquela terra que lhes pertencem.

Volta à cena, o professor de história. Ele está na sujeira, no vazio da fome, foragido dos nazistas alemães, dos ingleses, dos árabes, e na incerteza, ele grita, espuma a baba dos insanos, de quem não entende mais nada. Ou seja, Gitaï em ‘seu ato de coragem´ e na ´voz dissonante contra o consenso da guerra´.

De lá para cá, Israel tornou-se uma potência nuclear e os palestinos com pedras e cajados, com bombas caseiras acopladas em seus próprios corpos: homens, mulheres, adolescentes, crianças continuam lutando por sua identidade – seu Estado de Direito.

São gerações que compartilhamos hoje, em frequências virtuais. Gerações de famílias, lastros territoriais, culturais; um vínculo globalizado que não pode ser ignorado.

São gerações que rebelam às nossas gerações e que vigoram no exercício do presente e recorrem, rememoram, reescrevem.

Marina Abramovic – Self portrait with skeleton, 2003

 

(*) Referências complementares (Sobre a bibliografia dessa Série, V. parte I) :

SAID, Edward W. Cultura e política. Tradução Luiz Bernardo Pericás. São Paulo: Boitempo, 2003.

V. Tb. http://ning.it/9J4dqJ, por Luiz Felipe Alencastro.

Filmografia:

BALKAN Baroque (filme/ performance de Marina Abravovic). Direção Pierre Coulibeuf. França/Holanda: Regards Production, 1998. 61 min., color., son., leg. Português. DVD.

DIA DO PERDÃO, O (filme). Direção Amos Gitaï. Israel/França, 2001, min., color., son., leg. português, VHS.

KEDMA (filme). Direção Amos Gitaï. Israel/França, 2002, 94 min., color., son., leg. português, VHS.

Série Retecituras IV: Guerras (Parte I)

15 mar

Por Gisèle Miranda

A temática adentra histórias de combatentes, libertadores, despóticos ou comuns; por motivos religiosos, políticos, econômicos, familiares ou banais; entre passado, presente e perspectivas futuras.

Marina Abramovic, The Family I (from the series of works the quiet in the Land), Laos, 2008

Esse múltiplo midiático e tecnológico que às vezes abunda em lixo, também germina em possibilidades contemporâneas para lidar com o passado. Nós podemos filtrar, não é censurar!  Filtrar no melhor das textualidades do historiador Peter Burke,  sobre ‘empréstimos culturais’ e os ‘inevitáveis empréstimos culturais’, ou seja, diz respeito a utilização e a reutilização, reciclagem e lixo. É por esse elo que chamo à escrita a reflexão sobre as guerras atuais.

Que tal pensarmos nos EUA, Afeganistão, Iraque, Israel e Palestinos?  O continente Africano em guerrilhas de diversas naturezas, enfim, toda essa constante que vem ´esbofetear´ a História Contemporânea com questões de difícil entendimento pela proximidade e fugacidade das informações. No entanto, reconheço nas artes uma boa temperatura para pensarmos a respeito – dado seu caráter experimental e de subjetividades inerentes.

Então, quais as razões para a guerra? Ou, como viver junto? Claro que cada área há de se interrogar e pensar na melhor resposta dentro dos limítrofes informacionais e de tempo à reflexão.

A resposta dada a segunda questão foi vertida na 27ª Bienal de Artes de São Paulo, sob curadoria de Lisette Lagnado. (1)

Foram artistas de várias partes do mundo com problemáticas diversas que se encontraram numa experimentação e numa tentativa de responder a indagação de ambas as perguntas e tantas outras insurgentes.

EUA, Afeganistão e Iraque

Em 2001, reuni três crianças entre 7 e 8 anos que montaram um roteiro para um vídeo caseiro, sob minha supervisão, para refletirmos sobre as guerras através de alguns entrevistados, pessoas que de alguma forma viveram a guerra ou sofreram indiretamente.

A ideia surgiu por conta da confusão informacional da guerra entre EUA e Afeganistão. As imagens de TV, o nome Osama Bin Laden, religiões, americanos, explosões, pareciam parte de jogos eletrônicos. Seria, então, um filme de ficção da indústria cinematográfica estadunidense ? O que era tudo aquilo?

Registrei de forma amadora, um interessante bate-papo entre as crianças com um jornalista e cientista político. (correspondente internacional)

O encarte da Folha de S. Paulo – Folhinha, sobre o episódio de 11 de Setembro 2001, partiu para as perguntas das crianças: -“Por que jogam bombas e comidas?”; “Por que matam crianças e pessoas que não querem a guerra?”

Em 2004, o título da Folhinha era uma pergunta: ‘Que mundo é esse?’ É um mundo que reage cada vez mais jovem. Que venham essas inquietações! E que elas sejam cada vez mais, para contrapor a falta de ‘reação’ dos mais velhos, sobre os lugares em guerras, com fome, sede, miséria e doenças.

Marina Abramovic, The Family X (from the series of works the quiet in the Land), Laos, 2008

Uma das três crianças entrevistadoras é meu filho, hoje com 29 anos. A guerra no Afeganistão continua pelo trauma e posteriores conflitos internos. Em paralelo, a guerra no Iraque estourou.

– “Por quê?” (2)

[1] Bienal pioneira: pela primeira vez eleita uma mulher; A 27 Bienal extrapolou o usual espaço projetado por Oscar Niemayer, deslocando algumas obras para espaços públicos (ruas, praças), facilitando o acesso para pessoas que jamais puderam comparecer em uma Bienal de Artes, independente de ser gratuita.

(2) Questionamento que o geógrafo Wagner Costa Ribeiro (USP) quando perguntado pelos alunos. No caso específico sobre EUA e Iraque, o geógrafo termina seu texto optando por reconhecer que o objetivo desta guerra é mostrar a capacidade militar dos EUA. No entanto, há nesse texto vencedores inesperados In: AGB Nacional, 7/4/2003: Entre a barbárie e a civilização.

Referências:

Folha de S. Paulo, 15 mar. 2003. Em dias decisivos para a solução do conflito entre Iraque e Estados Unidos, crianças que vivem e viveram em áreas de combate questionam a guerra e pedem paz. Folhinha, F1-6.

Folha de S. Paulo, 30 mar. 2003. Crianças no fogo cruzado: conflito do Iraque invade o mundo de meninos de até 4 anos e provoca dúvida, angústia e o temor de ver uma bomba cair no quarto. Cad. Mundo, A23.

Folha de S. Paulo, 20 jan. 2003. Arte do diálogo: exposição pela paz reúne palestinos e israelenses. Cad. Ilustrada, E8.

Folha de S. Paulo, 16 fev. 2003. Milhões vão às ruas contra a guerra/ Maior protesto da história pede paz. Cad. Mundo, A-15 a A21.

Folha de S. Paulo, 25 mar. 2003. Batalha por Bagdá. Cad. Especial: Ataque do Império, A13 a A22.

Folha de S. Paulo, 27 mar. 2003. Massacre em Bagdá. Cad. Especial: Ataque do Império, A13 a A24.

Folha de S. Paulo, 31 mar. 2003. Iraque anuncia que tem 4.000 mártires. Cad. Especial: Ataque do Império, A11 a A20.

Folha de S. Paulo, 31 mar. 2003. Homens na mira: jovens em Bagdá contam como é viver em uma cidade sob bombardeio. Folhateen.

Folha de S. Paulo, 25 mai. 2003. ‘Nós, o povo’, somos o verdadeiro inimigo (por Gore Vidal). Cad. Mundo: A24.

Folha de S. Paulo, 14 set. 2003. Arquiteturas da destruição: Em amém de Costa-Gravas mistura ficção e história para culpar, conscientizar e entreter (por Inácio Araújo). Cad. Ilustrada: E12.

Folha de S. Paulo, 4 set. 2004. Seqüestro na Rússia acaba em massacre de mais de 2000. Cad. Mundo, A13-16.

Folha de S. Paulo, 4 set. 2004. Traços da tristeza: Mostra em SP exibe desenhos de crianças prisioneiras durante a Segunda Guerra Mundial. Folhinha, F-3.

Folha de S. Paulo,11 set. 2004. Que mundo é este? Crianças de várias partes do planeta opinam sobre o terror, no terceiro aniversário dos ataques de 11 de setembro. Folhinha, F4-7.

Folha de S. Paulo, 28 ago. 2004. Futebol com as mãos: o pebolim foi inventado durante a Guerra Civil Espanhola para que as crianças feridas se divertissem. Folhinha, F4.

Folha de S. Paulo, 20 jan. 2006. Chega de exotismo no Oriente Médio, diz Gitaï. Cad. Ilustrada: E-8.

Folha de S. Paulo, 16 out. 2006. Ser moderno no século 21 é olhar para o passado: crítico e curador francês Nicolas Bourriaud fala à Folha sobre o conceito de “como viver junto”, tema da Bienal de SP. Cad. Ilustrada, E8.

Folha de S. Paulo, 22 fev. 2008. Sérvios queimam a Embaixada dos EUA: grupo de radicais tentam destruir edifício em resposta ao reconhecimento de Washington à independência de Kosovo. Cad. Mundo: A12.

O Estado de S. Paulo, 19 mar. 2008. Preciosidades que chegam do Chile: Mostra reúne parte do acervo do Museu da Solidariedade Salvador Allende, formado por doações de artistas do mundo todo. Cad. 2 – D3.

Folha de S. Paulo, 27 jul. 2008. O Mutante (por Slavoj Zizek). Cad. Mais! p.10.

Folha de S. Paulo, 17 ago. 2008. Por trás da miniguerra no Cáucaso, o xadrez geopolítico (por Immanuel Wallerstein). Cad. Mundo, A22.

Folha de S. Paulo, 24 ago. 2008.Um mundo desregrado: conflito entre Rússia e Geórgia marca a ascensão de relações multipolares perigosas, em que as potências testam umas as outras (por Slavoj zizek). Cad. Mais! p. 12.

Folha de S. Paulo, 17 set. 2008. Fundação Bienal diz apoiar curador. Cad. Ilustrada, E5.

Folha de S. Paulo, 27 set. 2008. Artista descobre relações de sua obra com favela. Cad. Ilustrada, E3.

Folha de S. Paulo, 28 set. 2008. Quase sem memória (por Peter Burke). Cad. Mais! p. 3.

Revista BRAVO! A arte à sombra do mal: Leni Riefenstahl. São Paulo: Editora Abril, 2001. Ano 4, n. 44, p. 26-37. (maio)

Revista BRAVO! GOYA. São Paulo: Editora Abril, 2007. Ano 10, n. 116, p. 26-37 (abril

Exposições:

“Arte e Sociedade: uma relação polêmica. São Paulo: Instituto Itaú Cultural, abr. a jun. 2003.

“Israel e Palestina: dois estados para dois povos”. São Paulo: SESC Pompéia – galpão, jul. e ago. 2003.

“Napoleão”. São Paulo: Museu de Arte Brasileira e Salão Cultural (MAB): Fundação Armando Alvares Penteado, ago. a nov. 2003.

“O desenho das crianças de Terezin”. São Paulo: Centro de Cultura Judaica, ago. a out. 2004.

“Sala Escura da Tortura”. Coletivo sobre as torturas na América Latina. Museu do Ceará, Fortaleza, 2005. Curadoria Edna Prometeu. Exposto a primeira vez no Museu de Arte Moderna de Paris, em 1973, com o nome “Sala Negra da Tortura”, seguindo para exposições na Itália, Suíça, Alemanha e Brasil. Veja neste Blog https://tecituras.wordpress.com/2010/09/19/historia-e-memoria-sob-tortura-%E2%80%9Csala-escura-da-tortura%E2%80%9D/

“Estéticas, sonhos e utopias dos artistas do mundo pela liberdade”. Parte do acervo do Museu da Solidariedade Salvador Allende”. São Paulo: Galeria de Arte do SESI (FIESP), mar. a jun. 2007. Curadoria de Emanuel Araújo.

“Marina Abramovic: Transitory object for human use”. São Paulo: Galeria Brito Cimino, jun. e jul. 2008. (Sobre Marina Abramovic: Considerada a melhor performer em atividade, ela nasceu em Belgrado (Sérvia), ex-Iugoslávia, em 1946. Seu trabalho “explora a relação entre artista e público, os limites do corpo, as possibilidades da mente” – questões latentes da política internacional.)

“José de Quadros: Jogos de armar”. São Paulo: Museu Lasar Segall, ago. a nov. 2008.

Série Retecituras II: Marcas – mulher, mãe como armas de guerra

8 mar

Por Gisèle Miranda

(À memória de Sabine Spielrein)

 

“… o pensamento é uma espécie de cartografia conceitual cuja matéria-prima são as marcas e que funciona como universo de referência dos modos de existência que vamos criando, figuras de um devir. (…) escrever é traçar um devir. Escrever é esculpir com palavras a matéria-prima do tempo…(…) a escrita enquanto instrumento do pensamento, tem o poder de penetrar nestas marcas, anular seu veneno, e nos fazer recuperar nossa potência. ” ROLNIK, Suely, 1993.

 

E. Nery para Gisèle Miranda, “Quadros no Museu”, 1988.

Teodora em 527 d.C ao casar com Justiniano tornou-se Imperatriz e deixou de vez a prostituição. Em cerimônia pós morte recebeu o título de Santidade pela igreja Ortodoxa.

A Pop Art de Andy Warhol perpetuou o ícone de Marilyn Monroe by wold, aquém do ‘happy birthday to you president’.

Mulheres que oscilaram entre o limbo ao luxo. Do luxo a morte. Outras são contemporâneas à nossa existência, são anônimas marcadas entre o silêncio e o medo.

O documentário de Lisa Jackson de 2007, The greatest silence: rape in the Congo, expõe marcas; as próprias e as de outras mulheres.

Lisa há uns 20 anos foi estuprada por três homens na saída de seu trabalho. O antídoto que encontrou para tratar o seu veneno foi –  falar – e fazer com que outras vítimas falassem com apoio terapêutico. As marcas de todas elas são mostradas à consciência de quem assiste: o que é ser mulher em pleno século 21?

O que há na República Democrática do Congo que os soldados estupradores de Ruanda tanto almejam? E sob comando de quem?  O ouro, a prata, o petróleo são velhas cobiças. E as mulheres?

Em 1880, foram os belgas os donos da extração. De 1960 até os anos de 1990, anos de ditadura da etnia Mobutu. Posteriormente, as guerrilhas no comando alternado. Há no Congo, 80% das reservas de Coltan – mineral usado para celulares e laptops.

Por contingências das guerras foram registrados mais de 200 mil casos de estupros – 30% com contágio de HIV. São resultados de parcerias de um hospital e grupos independentes. O hospital foi criado em 1999, com verbas humanitárias. Desde então, o hospital sobrevive com lotação máxima de casos sérios de mutilações, ou seja, estupros seguidos de mutilações. Casos de escravização com crianças de 4 a 9 anos de idade e que passaram por violência sexual. As crianças em sua grande maioria são filhos de estupros. 80% das mulheres não têm escolarização.

Pátrias famílias, religiões e preconceitos…” (1) de idade, credo, opção sexual, formação intelectual, que transpôs o século 19, com tantos literatos, poetas, filósofos que reinaram no Positivismo (aquém do Romantismo): em geral  sob a delimitação da potência da mulher. Ao longo dos tempos, os movimentos dos mais variados focaram uma ascensão e uma atenção à mulher.

Freud quando criou a psicanálise rompeu com uma gama de preceitos para lidar e tratar a psiquê. Entre os seus discípulos esteve Carl Jung que tempos depois rompeu com alguns dos conceitos e práticas de análise. Seu ponto era contrapor o cerne de Freud, ou seja, a sexualidade como referência básica. (2)

Jung tratou entre muitos pacientes, uma mulher, judia e sem critérios lúcidos para o diálogo. Ele a tratou. Ela saiu de sua longa internação, estudou medicina e especializou-se em psiquiatria, aplicando em seu exercício de trabalho técnicas para suas atividades terapêuticas em sua clínica para crianças, a ‘Creche Branca’ (3)

Freud sugeriu o fim desse amor. Afinal, Jung era casado e sua amante era ex paciente e sua futura colega de profissão. Ela não deixou de escrever a Jung. Ele envelheceu e deixou uma obra sobre suas atividades. Ela, em tempos stalinista acabou sendo entregue à milícia nazista e foi assassinada.

As marcas são diferentes e há crepúsculos geracionais. Tempos marcados sendo mulher.

Eu, que os enveredei às minhas palavras, às minhas tentativas de criar antídotos aos venenos de minhas marcas, e de não deixar adoecer minha consciência, não vou esquiva-los de saber quem sou. Uma mulher. A mulher dos “Quadros no Museu”.

“No pedante espaço

do salão sem fim,

Quadros e Quadros

penduravam-se isolados

pelo imenso espaço solene.

Perdidos, expostos,

longe dos seus colóquios,

de tempos juntos, no aconchêgo familiar

do estúdio que os pariu.

Ficaram sós, nús, frágeis.

E, então,

uma Mulher chegou.

Quieta, anônima, pequena,

sensível, grande, vibrante.

E, na sua emocionalidade,

Ela os aconchegou,

com o calor de sua emocionalidade,

do seu humanismo sensível.

Os Quadros tranquilizaram.

Gisele os reuniu.

Porque os sentiu.”

(E. Nery, MASP, 1988.)

E. Nery para Gisele Miranda, “Quadros no Museu”, 1988.

Notas:

(1) “Pátrias famílias, religiões e preconceitos…” letra da música de Antonio Cícero e Marina Lima.  Ela canta que Pátrias famílias, religiões e preconceitos quebraram…” – apesar de gostar muito da letra, não acredito que os preconceitos foram quebrados.

(2) JUNG, C.G. (1875-1961) Memórias, sonhos, reflexões. Compilação e prefácio de Aniela Jaffé. (prefácio à edição brasileira de León Bonaventure). Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1975. 1a Ed. Inglesa 1961. Apenas um exemplo: “No que concerne o conteúdo do recalque eu não concordava com Freud…. ele apontava o trauma sexual, e eu achava isso insatisfatório… ele não quis admitir como causa qualquer outro fator que não fosse a sexualidade…” p. 134. “Tenho ainda uma viva lembrança de Freud me dizendo: ‘Meu caro Jung, prometa-me nunca abandonar a teoria sexual… olha, devemos fazer dela um dogma, um baluarte inabalável…”  p. 136.

(3) Sabine Spielrein foi a primeira paciente de Jung. Sugestão fílmica que conta essa história verídica: Jornada da Alma. Dir. Robero Faenza. Itália/França/Inglaterra, 2003. color., son., leg. em português. V. Tb. Um Método Perigoso. Dir. David Cronenberg. Reino Unido, Alemanha, Canadá, Suiça, 20111. http://www.youtube.com/watch?v=SmU0oL0Iswc

(*) Sobre o artista E. Nery (1931-2003): Emmanuel Nery – filho de Aldalgisa e Ismael Nery. Foi aluno de Candido Portinari, Alberto Guignard, De Chirico, Salvador Dalí, Diego Rivera, Clemente Orozco, Frida Kahlo e Norman Rochwell.

Sobre o desenho e o texto de Emmanuel Nery acima: ambos realizados no MASP e no livro: NERY, Emmanuel. Forças Contrastantes. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974.

Sugestão:

NERY, Emmanuel. Couraça da Alma. Rio de Janeiro: Editora Expressão e Cultura, 1996.

Série Retecituras I: José De Quadros

6 mar

Por Gisele Miranda 

Kreuzottern (víboras), 54 x 45 cm Jornal: Völkischer Beobachter, 25 de agosto de 1938. Manchete: ´O almirante von Horthy em Berlim´ (esse almirante foi o grande líder do fascismo húngaro)

Tem eco! Dor insuportável! Seis milhões de pessoas abatidas. Os pestilentos eram os algozes, pragas dizimadoras, ávidos de terror no Terceiro Reich.

José de Quadros em Jogos de Armar tira o leitor de agora de sua confortável passagem. Há um convite à “uma mesa de dissecação, um gabinete de taxidermia ou uma aula de ontomologia do Führer” (catálogo); mexe com as estruturas, instiga a reflexão, remete um tempo que precisa sempre ser lembrado numa plasticidade necessária.

Jogos de Armar é um herdeiro documental do pré-nazismo à Segunda Guerra Mundial. Os jornais de 1932 a 1944, foram ditados e manipulados na cultuação nazista. Os jornais sobreviveram ao incêndio criminoso no ateliê do artista, em Kassel, na Alemanha. Por isso, vai sempre ser um tema recorrente e retecido para partimos do conceito de humanidade.

Além dos jornais, resistiram as traças. Sobreviventes e alastrantes, elas foram minuciosamente incorporadas por José de Quadros `a uma consciência das tragédias causadas pela intolerância’. ‘tratados’ pelo artista com resina acrílica e os desenhos foram feitos de sépia e sangüínea.

A exposição nos joga às arm(a)ções de mortes, intervindo artística e politicamente sobre os documentos históricos, tratados pelo artista com resina acrílica. Os desenhos foram realizados com sépia e sanguinea.

O trabalho de José de Quadros  – com seus vermes, pragas, ou seja, o seu acervo documental, transformou-se em marca artística contra os crimes da humanidade. As pragas existem, subliminar e criminosamente em pleno século 21.

Goldläuferkäfer (escaravelhos dourados), 54 x 45 cm Jornal: Völkischer Beobachter, 28 de setembro de 1937. Manchete: ´Berlim presta homenagem ao Duce e ao Führer – o desfile triunfal na capital do reich em festa.´

Tema que recorre. Tema que corrói. Tema de Le Chagrin e La pieté, de Marcel Olphüs, de 1969. Um documentário que resgatou a década de 1940, o período da ocupação alemã na França. Em Shoah, de Claude Lanzmann, de 1985, a morte é anunciada na estação de Treblinka, parada rápida antes do pouco tempo de vida no campo de extermínio. O gesto pontuado do maquinista é a ‘degola’ seguido do sorriso insano, ao sorriso antissemita.

A voz do menino que cantava foi historicizada. Ele foi poupado da morte anunciada, serviu de deleite aos nazistas e as lembranças dos que o ouviam, do outro lado do rio, na Polônia.  Já adulto, a voz refez o caminho cantando. A face infantilizada, sorriso ruborizado – ele – independente da temporalidade gritante, ainda era o mesmo menino.

Hirschkäfer, 54 x 89,8 cm Jornal: Jornal: Völkischer Beobachter, 29 de setembro de 1937. Manchete: ´O Duce no Karinhall. O Duce e o Führer falam ao mundo. ´

* Os jornais de época foram ‘tratados’ pelo artista com resina acrílica e os desenhos foram feitos de sépia e sangüínea.

Referências:

Exposição José de Quadros – ‘Jogos de Armar’ esteve no Museu Lasar Segall, Curadoria de Jorge Schwartz e Marcelo Monzani de 23 ago. a 23 nov. 2008, e de 28 nov. 2008 a 18 fev. 2009, no Museu de Arte de Ribeirão Preto.

Sobre o artista José de Quadros: http://www.josedequadros.com

Curso de cinema ministrado pelo prof. Dr. Eduardo Victorio Morettin (ECA/USP) na Cinemateca Brasileira (nov./dez. 2008): Marcel Olphüs, Na era das catástrofes – do nazismo e Shoah (documentário), 1969 e 1985.

No Brasil, o Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero da USP (2012) vem discutindo sobre os estupros seguidos de morte durante a Segunda Guerra Mundial – “no sofrimento das mulheres durante o Holocausto” (cerca de dois milhões), até então tema ocultado no genocídio de judeus.