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O TECER dos 13 anos do Blog TECITURAS (2010-2023)

30 out

por Gisele Miranda, Lia Mirror & Laila Lizmann

O Blog Tecituras nasceu nas paredes de um quarto – gestado e parido. As palavras foram esculpidas, ora na pena, ora com as unhas. O caos, a dor e a “solidão do porvir de poucos” atentou que a “consciência sobrevive a qualquer circunstância”. As incisivas palavras são do artista Gontran Guanaes Netto (1933-2017), amigo, professor e tutor.

Gontran Netto nos deu a honra de sua colaboração no Tecituras com suas obras e suas reflexões, seus escritos e interferências.

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A homenagem dos 13 anos do Tecituras vem de um conteúdo Histórico, Artístico, Crítico e Político. De conteúdo imaterial, inquietações do pensamento à escrita com o objetivo de compartilhar conhecimentos, experienciar e zelar pelos bens culturais, com colaboradores – com ou sem vínculos acadêmicos e com uma bagagem de textos não perecíveis ao tempo, atualizados, conscienciosos de sua necessidade, por isso, nossa justa homenagem a Gontran Guanaes Netto. Há inúmeros textos sobre sua arte, sua luta, além de tutelar um pequeno espaço tecido ao longo desses anos com pesquisas sobre as obras de Antonio Peticov, Emmanuel Nery, Paschoal Carlos Magno, entre outros temas.

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O conteúdo artístico faz uma grande diferença. O conteúdo crítico é uma filtro necessário frente a educação da exclusão. Dessa homenagem tecemos reverência ao ofício dos professores em situações de risco e pobreza.

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Nosso Brasil tão diverso, nascido de um histórico de pura violência, dos séculos de escravidão, da exclusão, dos preconceitos. Esses séculos não foram sanados, tão pouco, os 21 anos de violência da ditadura civil e militar no Brasil, porque não há consciência histórica.
As ditaduras devastaram toda a América Latina, torturaram, violentaram, reprimiram, subornaram, difamaram e mataram. Toda essa herança resiste cada vez mais, estratificada nos professores, na moral da violência e da submissão material, na baixa remuneração, na ausência dos livros, das leituras, do tempo, das escritas à “missão impossível”.
Entre a teoria, o discurso frio e confortável há o extremo da prática nada confortável. Entre as fases antagônicas existem mais falas sujas, oportunas e arrogantes. Sem dúvida, a figura opressora tem cúmplices entre os próprios oprimidos. (1)

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Entre os traumatizados há sobreviventes, independente da indexação, do conforto, da assepsia, da insensibilidade, do apodrecimento, dos muros onde os discursos, principalmente econômicos falam mais alto, não por acidente, mas por natureza.

(1)  BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo Vol 2: A Experiência Vivida, Difusão Européia do Livro, 1967. “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.

(2)  DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Ed. 34, 2010, p. 221. 

Série MANTOS I: Cultura Artística & Histórica – Teatro.

30 out

por Gisele Miranda

A Série MANTOS foi confeccionada à memória coletiva e à história da cultura brasileira, de 1989 até 2019, com espetáculos teatrais, filmes, exposições e shows na cidade de São Paulo.

Os bilhetes culturais e artísticos foram costurados no tecido e conjugados à pesquisa histórica. Embora não estejam todos os bilhetes, mas, os que estão remetem aos bilhetes da memória, através dos diretores, atores, autores a um amplo conteúdo ligado a literatura, música, dança, pintura, teatro, cinema, portanto, um conteúdo de uma geração, acessibilidade, valores e investimentos materiais e imateriais.

Os três Mantos da Série passaram por encontros teóricos e ficcionais com Arthur Bispo do Rosário (1909? -1989), na sagração e na fé dessa missão. Com Leonilson (1957-1993), nos bordados cruciais à critica. E com Hélio Oiticica (1937-1980), quando os Mantos tornaram-se Parangolés na realidade marginal e anti heroica.

O primeiro Manto tem 101 espetáculos costurados, entre peças de teatro, óperas e shows, dedicados à memoria do Culturalista Paschoal Carlos Magno*(1906 –1980). Paschoal ensinou que todos nós, poetas, temos nossos barcos no ar, na terra e no mar e que o teatro é educação, que a arte transforma e que cultura é essencial à vida.

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O Manto I começou em 4 de julho de 1989, em uma nítida despedida da cidade do Rio de Janeiro com RIGOLETTO, Ópera de Giuseppe Verdi (1813-1901), para adentrar, em meados dos anos de 1990, na cidade de São Paulo. Dos 101 espetáculos, 30 estão sem datas, criando vácuos na temporalidade**. São 33 espetáculos infantis que compartilhei com o meu filho, dos 3 aos 12 anos.

Ao lembrar do espetáculo Cacilda, homenagem que José Celso Martinez fez a Cacilda Becker, invariavelmente, lembro da potência da atriz Beth Coelho Esperando Godot, de Samuel Beckett. 

Quando costurei Vozes Dissonantes, de Denise Stoklos, imediatamente lembrei de sua Mary Stuart. Chorei por não ter guardado o bilhete do espetáculo Louise Bourgeois, pois foi naquele momento que me apaixonei pela obra de Bourgeois.

Ao tecer OTELO, de William Shakespeare com Norton Nascimento, no Teatro Municipal de São Paulo, veio a tona outro bilhete perdido, Orlando, com Fernanda Torres nua no palco do Teatro Municipal. Na costura da memória, a Fernandinha trouxe a dama Fernanda Montenegro em The Flash and Crash Days, de Gerald Thomas. A direção foi impressionante! Lembrar de Gerald Thomas é rever Ventriloquist, a trilogia Kafka, Esperando Beckett.

Também não encontrei o bilhete do Quadrante, com Paulo Autran, espetáculo que vi no Teatro Municipal de São Paulo. Nem da Família Addams, com Marisa Orth, no Teatro Renault. Quer dizer, estou encontrando todos na memória. A memória como dizia Umberto Eco, “tem que ser exercitada”. 

Quanto aos shows, vi muitas vezes Zizi Possi, Angela Rorô, Raul Seixas. Vi Renato Russo, no Pacaembu. Perdi Astor Piazzola, no Municipal de São Paulo. Vi Novos Baianos.

Alguns shows que assisti foram a trabalho (freelancer) na produção e como sempre, sentindo-me privilegiada com Elza Soares, Antonio Adolfo, Turíbio Santos, Marcos Valle, o grupo Azymuth, Carlos Lyra, Dulce Quental.

Olhar para trás é me sentir protegida daquele caos pandêmico e do atentado a humanidade personificado por um energúmeno negacionista apoioado por golpistas. Olhar para trás é ver construções com conteúdo artístico, o que faz muita diferença e acrescenta à pesquisa e à produção científica.

No mais, em meio aos alfinetes, agulhas, linhas, tecidos, papéis e sangue – há muita luta, arte, história, política, crítica e sobrevivência.

Abaixo, alguns bilhetes listados.

  1. RIGOLETTO, Ópera de Giuseppe Verdi (Roncole verdi, Itália, 1813- Milão, Itália, 1901). Teatro Municipal do Rio de Janeiro, julho 1989.
  2. Dom Pasquale. Obra de Donizetti (Bérgamo, Itália, 1797 – idem, 1848), Teatro Municipal do Rio de Janeiro, julho de 1989.
  3. Fragmentos de um discurso amoroso. Texto de Roland Barthes. Adaptação Teresa de Almeida. Direção Ulisses Cruz. Música de André Abjamra. Cenografia e figurinos Ninette Van Vuchelen. Com Antonio Fagundes. Teatro Cultura Artística de São Paulo, 1989.
  4. Martha Graham Dance Company. Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Carlton Dance Festival, 1989.
  5. Jornada SESC  de Teatro (SESC dr. Vila Nova), São Paulo/SP. De 8 a 21 de julho de 1996.
  6. O Professor. Teatro Municipal de São Paulo, 26 janeiro 1997.
  7. O Feminino na Dança. Com palestras de Helena Katz, Christine Grener, Cássia Navas, e Fabiana Dutra Brito. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes. De 30 de abril a 1 de junho de 1997.
  8. A Quarta Estação, de Israel Horovitz. Direção Fauzi Arap com Juca de Oliveira e Denise Fraga, no Teatro Cultura Artística. Sala Rubens Sverner, 14 julho 1997.
  9. Otello, de Giuseppe Verdi. Regência Isaac karabtchevsky. Orquestra Municipal, Coral lirico e solistas. Teatro Municipal de São Paulo, 29 agosto 1997.
  10. O Masculino na Dança. Com Workshops de Sandro Boreli, Mário Nascimento, Edison Garcia, Sérgio Rocha. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes. De 3 a 21 de setembro de 1997.
  11. Cavalleria Rusticana I Pagliacci. Orquestra e coro do Teatro Municipal de São Paulo & artistas convidados, 23 setembro 1997.
  12. Antígone, de Sófocles. Direção Carlos Gardin. Teatro Tuca Arena, 26 setembro 1997.
  13. Bananas de pijamas vão ao teatro. Teatro Jardel Filho, 16 novembro 1997.
  14. O Diário de um Louco. De Gogol, adaptação livre de Luiz Conceição. Teatro Villa Lobos, Rio de Janeiro, RJ, novembro 1997.
  15. Uiva e vocifera, de Hamilton Vaz Pereira. Teatro Oficina, 10 abril 1998.
  16. Tio Vânia, de Anton Tchecov. Direção Elcio Nogueira. Teatro Brasileiro de Comédia, 24 abril 1998.
  17. Concerto Wagner – Strauss. Regente Gabor Otvos. Soprano Hildegard Behrens. Teatro Municipal de São Paulo, 4 maio 1998.
  18. Senninha e sua turma no teatro. Direção Renata Soffredini. Com Fernando Lyra Jr. Teatro Bibi Ferreira, 5 maio 1998.
  19. Porca Miséria. Comédia de Jandira Martini e Marcos Caruso. Direção geral Gianni Ratto. Teatro Sérgio Cardoso, 5 julho 1998.
  20. Em nome do Pai. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, 11 julho 1998.
  21. Exercício para Antígona. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, 15 julho 1998.
  22. O Pequeno príncipe. Teatro Ruth Escobar. Sala Mirian Muniz, 9 agosto 1998.
  23. Narrador. Centro Cultural São Paulo, piso 796, 16 agosto 1998.
  24. Doce lembrança. Centro Cultural São Paulo, piso 796, 18 agosto 1998.
  25. Dom Carlo, de Giuseppe Verdi. Direção Musical e Regência de Eduardo Muller. Direção Figurinos e Cenários de Hugo de Ana. Orquestra e coro do Teatro Municipal Solistas e Convidados. Teatro Municipal de São Paulo, 30 agosto 1998.
  26. Salomé, de Richard Strauss. Solistas convidados, Orquestra do Teatro Municipal de São Paulo, 30 setembro 1998.
  27. Branca de Neve e os sete anões. Ibirapuera, 17 outubro 1998.
  28. Ele é fogo! Texto e Direção Isser Korik. Teatro Ruth Escobar. Sala Dina Sfat, 25 outubro 1998.
  29. Romance. Teatro Crowne Plaza, 28 novembro 1998.
  30. Cacilda! Direção José Celso Martinez. Teatro Oficina Uzyna Uzona, novembro 1998.
  31. La Bohème, Ópera em quato Atos de Giacomo Puccini (1958-1924). Teatro Municipal de São Paulo, em 5 dezembro 1998.
  32. A História de Lampião Jr. e Maria Bonitinha. Teatro Paulo Autran, 21 fevereiro 1999.
  33. Palavra Cantada (Show). Paulo Tatit e outros. CD Canções Curiosas. SESC Fábrica Pompéia, 28 fevereiro 1999.
  34. As aventuras de Pinóquio. Teatro Paiol, 07 março 1999.
  35. A Bela e a Fera. Texto e Direção Tatyana Dantas, com Fernanda de Souza e Felipe Folgosi. Teatro Sergio Cardoso, 17 abril 1999.
  36. O violino mágico, de Júlio Fischer. Direção Christina Trevisan. Teatro Sérgio Cardoso, 2 maio 1999.
  37. The Addam´s. Texto de Edmundo de Novaes Gomes. Direção Carlos Gradim. Teatro Ruth Escobar, sala Gil Vicente, 22 maio 1999.
  38. Marcelo, marmelo, martelo. Teatro Jardel Filho, 8 agosto 1999.
  39. Hércules. Ibirapuera, 25 setembro 1999.
  40. O terror dos mares. Adaptação Ronaldo Ciambroni. Direção Cesar Pezzuoli. Teatro Imprensa, 2 outubro 1999.
  41. Fragmentos troianos. Direção Antunes Filho. Teatro SESC Anchieta, 04 março 2000.
  42. AMOR – uma ode ao universo feminino de Clarice Lispector. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes, 18 maio 2000.
  43. Filhos do Brasil. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, maio 2000.
  44. Cartas de Rodex. Centro Cultural São Paulo, espaço cênio Ademar Guerra, maio 2000.
  45. Raul fora da lei. Centro Cultural São Paulo. Sala Adoniram Barbosa, maio 2000.
  46. Semana de Dança. Centro Cultural são Paulo. Sala Jardel Filho, junho 2000.
  47. Anjo duro, de Luiz Valcazaras. Com Berta Zemel. Teatro Sergio Cardoso, 02 julho 2000.
  48. N X W Série Pocket Opera, de Gerald Thomas. Teatro SESC Ipiranga, 22 julho 2000.
  49. Angela Ro Ro (Show). Tom Brasil, 16 dezembro 2000.
  50. Deborah Colker – MIX – Teatro Sergio Cardoso, 26 setembro 2001.
  51. A Terra Prometida, de Samir Yazbek. Sesc Anchieta, 13 outubro 2001.
  52. Uma aventura mágica com o Monstro Brigueiro. Texto e direção Isser Korik. Teatro Folha, 5 janeiro 2002.
  53. Conferência Pierre Levy. Teatro Vila mariana, 29 agosto 2002.
  54. João e Maria  Ópera em 3 Atos. Baseado na história dos Irmãos Grimm.  Libreto de Adelheid Wette. Música de Engelbert Humperdinck. Tradução de Dante Pignatari e Jamil Maluf. Teatro Municipal de São Paulo, 19 dezembro de 2002, às 18hs.
  55. Funk como Le gusta (Show). Confraria Pompéia/ SESC, 15 fevereiro 2003.
  56. O Chapéu de palha de Florença, de Nino Rota (1911-1979). Teatro Municipal de São Paulo, temporada, março 2003.
  57. Bispo. Com João Miguel. Teatro Galpão, 20 abril 2003.
  58. Vozes Dissonantes, com Denise Stoklos. Teatro João Caetano, 6 agosto 2003.
  59. Gothan SP – Fórum Cultural. Cia teatral Ueinzz. Teatro Galpão, 27 junho 2004.
  60. A Entrevista, de Samir Yazbek. Direção Marcelo Lazzaratto. Com Ligia Cotêz e Marcelo Lazzaratto. Teatro Cultura Inglesa de Pinheiros, 5 março 2005.
  61. Semana de Dança. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, 24 maio 2005.
  62. Teatro Carlos Gomes, 04 julho 2007.
  63. Luiz Melodia. Premio Victor Civita – educador nota 10. Sala Cultural São Paulo, 15 outubro 2007.
  64. Nocaute. Teatro Folha, 23 abril 2008.
  65. OTTO. Sesc (ginásio de esportes), 25 novembro 2011.
  66. A Família Addms. Texto Marshall Brickman & Rick Elice. Música e letras de Andrew Lippa. Baseado nos personagens de Charles Addams. Versão brasileira de Claudio Botelho. Com Marisa Orth e Daniel Boaventura. Teatro Abril, março de 2002.
  67. A dama do mar. Texto de Susan Sontag, baseado na peça de Hendrik Ibsen. Direção Bob Wilson. Com Lígia Cortez, Ondina Castilho, Bete Coelho, entre outros. Teatro Sesc Pinheiros, 15 junho 2013.
  68. Do outro lado. Teatro Porto Seguro, 25 outubro 2017.
  69. Elza Soares. Comedoria Pompéia/ SESC, virada cultural, 08 maio 2019.
  70. Comum. Projeto Meta-Arquivo 1964-1985 Grupo Pandora de Teatro (SP) Texto e direção Lucas Vitorino. SESC Belenzinho, 08 setembro 2019, às 18:30.
  71. Olhos Recém-nascidos com Denise Stoklos. Teatro João Caetano SP, março, s/ano
  72. Turandot, de Giacomo Puccini. Teatro Denoy de Oliveira. 25 junho s/d.
  73. Dyário de um Louko. Centro Cultural São Paulo, centrinho cultura, s/d.
  74. Vô doidim e os velhos batutas. Teatro Denoy de Oliveira, s/d.
  75. RED FANG (Show). Inferno SP, 08 setembro s/d.
  76. Cassia Eller (Show) Directv, 3 outubro s/d.
  77. Chico Buarque. Palace, 18 abril s/d.
  78. A terra do povo da graça. Centro Cultural São Paulo, sala Jardel Filho, s/d.
  79. OTELO, de William Shakespeare. Adaptação Alexandre Montauri; Direção Janssen Hugo Lage, com Norton Nascimento. Teatro Municipal de São Paulo, 11 novembro s/ano.
  80. No reino das águas claras, de Monteiro Lobato. Adaptação Maisa Montresor. Direção geral Milton Neves; direção musical Cesar Pezzuoli. Teatro Imprensa, s/d.
  81. O senho dos sonhos. Centro Cultural São Paulo, sala Jardel Filho, s/d.
  82. Simão e o boi pintadinho. Centro Cultural São Paulo, sala Paulo Emílio Salles Gomes, s/d.
  83. Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues. Direção José Celso Martinez Correa. Teatro Oficina, s/d.
  84. O menino detrás das nuvens. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.
  85. Moço em estado de sítio. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.
  86. Rumos musicais: Miguel Briamonte. Instituto Cultural Itaú, Sala Azul, piso Paulista, 5 outubro s/d.
  87. Contra Igual, de Fernando Pessoa. Centro Cultural São Paulo, s/d.
  88. O Anti Shakespeare. Centro Cultural São Paulo, porão, s/d.
  89. Avoar, de Vladimir Capella. Direção Chiquinho Cabrera e Edu Silva Filho. Teatro Imprensa, s/d.
  90. O mágico de OZ. Adaptação Sônia Fonseca. Direção Léia Marone. Teatro Cultura Tutóia, s/d.
  91. Gatos e Cia. Adaptação Meire Tumura & Maria Duda. Direção Maria Duda. Supervisão geral Attílio Riccó. Teatro Itália, s/d.
  92. As sereias da River Gauche. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.
  93. Contos, cantos e acalantos. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes, s/d.
  94. Uma Professora muito Maluquinha, de Ziraldo. Direção Renata Soffredini, s/ referência do teatro, s/d.
  95. Casa de brinquedos, musical de Toquinho, Teatro Gazeta, s/d.
  96. Pedro e o lobo. Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio Salles Gomes, s/d.
  97. Um dia de Pic & Nic. Teatro Ruth Escobar, s/d
  98. PAI, de Cristina Mutarelli. Direção Paulo Autran, com Beth Coelho, Teatro Crowne Plaza, 13 fevereiro s/d
  99. Strip Tease com Ana Lívia. Instituto Cultural Itaú. Sala azul piso Paulista, s/d
  100. Corpo a Corpo. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.
  101. O feminino na dança. Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho, s/d.

(*) Série Paschoal Carlos Magno I: O Teatro de Paschoal Carlos Magno – O ofício em suas considerações

Oswald de Andrade: “O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo”[1]

30 out

por Gisele Miranda & Lia Mirror

Resgate histórico e artístico

Para dialogar historicamente com essa fase de Oswald de Andrade é necessário resgatar a base institucional e artística adaptada aos trópicos, ou seja, a importância do Neoclassicismo Francês no Brasil, perfilado por um Barroco endógeno e um percurso academicista cutucado pelo nacionalismo internacional da Primeira Guerra Mundial e dos Movimentos da Vanguarda europeia. Sabemos que toda essa história culminou na Semana de Arte de 1922.

Quando finda o Neoclássico na França, começa uma nova adaptação do Neoclássico no Brasil com a chegada da Missão Artística Francesa, em 1816. Em seguida, o Realismo francês assumiu uma importante função social até a entrada dos Movimentos de Vanguarda quando os valores estéticos, técnicas, aspirações são discutidas através de inúmeras possibilidades. No Brasil, a lingua francesa entranhou nos costumes no Império. A base da arte no Brasil derivou de um discurso monárquico que se desdobrou em um academicismo subserviente para os artistas nascidos aqui.  

No mais, o Barroco no Brasil não terminou no século 19, com a vinda dos Neoclassicistas franceses, segundo Eugenio D’Ors (Machado, 2003), o Barroco criou uma amálgama conceitual chamada EON (potência re-criadora), hoje encontrada nas igrejas neobarrocas.

O processo histórico, cultural e artístico brasileiro de 1922 equiparou, não facilmente, as discussões sobre a Arte Moderna na Europa. Sabemos, muito claramente, a importância do Expressionismo de Anita Malfatti (de seus estudos na Alemanha e EUA), que lhe valeu a histórica crítica negativa de Monteiro Lobato, mas também, a histórica defesa de sua arte por Oswald de Andrade, entre outros. Sabemos da importância do Cubismo em Tarsila do Amaral (e seus estudos na França), do Surrealismo em Ismael Nery, enfim, tivemos representantes dos movimentos da vanguarda europeia, além de teóricos de nossas próprias manifestações com Oswald de Andrade e Mario de Andrade, antropofagicamente e de reconhecimento de nossa cultura.

Mas, e o Dadá no Brasil? As premissas do Dadá não foram fáceis de serem assimiladas, seja pelo discurso antiarte ou antiguerra. O Brasil esteve neutro em quase todo o período da guerra. E a elite cafeeira em processo de urbanização e industrialização, contudo, a política e a economia dependentes de países em guerra. Com características particulares essa elite, em 1914, apenas 26 anos da abolição da escravidão no Brasil -, aceitou o abandono dessa população, a limpeza social e fluxo migratório (branco) como mão de obra substituta.

Nossa segunda lingua era o francês e a nossa elite de ascendência estrangeira. Os filhos bem-educados, poliglotas estavam sempre antenados aos acontecimentos na França e, posteriormente, nos EUA.

Do ponto de vista artístico, o intelectual e escritor Oswald de Andrade, já em artigo de 1912, reclamaria características nacionais para a arte do país, reivindicando uma forma de expressão que não fosse a arte acadêmica consagrada na Europa. (AMARAL, 2004, p. 22)

Antes de ser um teórico da Semana de Arte de 1922, de criar o Manifesto Antropofágico, Oswald foi o Cozinheiro das Almas, em um reduto masculino, alimentado pela liberta DadaCyclope.

La femme Cyclope, uma história de amor

Alguns dos intelectuais da cidade de São Paulo foram acolhidos por Oswald de Andrade, em 1918, registrado em um diário de encontros do cozinheiro com as almas perdidas.  O anfitrião e seus convidados, em português ou em francês, debatiam ou escreviam, filosofavam, faziam críticas, desenhavam, colavam, nem sempre com sentido, pois experienciavam possibilidades, brincavam com seus codinomes, bebiam e comiam. O contexto artístico-literário desse momento tinha a “verve parnaso-a-cadêmica …nossa leviana e retardada belle èpoque.” (2)

O reduto intelectual masculino amalgamado pour la femme Cyclope quebrou protocolos, discursos da época e a quebra de seus pares frente à uma mulher que ia e voltava sem nada dizer ou dever. Não só, de inteligência impetuosa e poética.

Cyclope, um dos apelidos, tal como todos os reunidos. Mas o que se passou entre 1917 e 1919 transformou a todos, dolorosamente, com a morte da jovem poeta.

Oswald de Andrade e Maria de Lourdes, Ou, Miramar e Cyclope, c. 1917.

Eles vinham comparando-a com Dulcinéa, o amor de dom Quixote. Ela respondia na escrita: – Primeira receita – Nos casos de amor á Dulcinéa prefira-se a Dulce núa. Foram Inúmeros textos com derivações à Cyclope: A Cyclope é o grande vício desta vida (3). Até o último instante ela não parava de expressar.

Começo a prever que também já tenho meu coração de moça, e de menina, estrangulado por um sentir devotado e malígno, mordido pela volupia da vida incognita que me offerecem. (4)

Evidentemente, todos esses atributos mexeram com seus admiradores, mas no covil, ela era la femme de Oswald de Andrade. Fora do grupo, Cyclope amava em liberdade quem quisesse. Oswald sabia e a respeitava. Ela era o riso inteligente de uma boa conversa; era a volúpia diante dos valores morais da época. Desde cedo, uma poeta de lingua afiada. Viveu pouco, partiu como muitas mulheres, até hoje, decorrente de um aborto clandestino malsucedido. Sua poesia sumiu, perdeu-se no reduto masculino. Ela era “um embrião caótico”, “musa polifônica”, “musa palimpséstica” em ‘guerra’ com o universo masculino… ela era a novidade da estrutura aleatória e da forma ready-made para o Pré Modernista de 1922. (5)

Todos a amavam, até mesmo, os inicialmente reticentes. Outros explicitamente desejavam-na com total ciência de Oswald. Ela era o manifesto Dada em pessoa, em um núcleo intelectual elitista, em parte, conservador. Todos a respeitavam porque ela os enfrentava. Cyclope bailava entre eles; essa era a beleza que transbordava.

Por fim, a nota de falecimento de Cyclope e a referência do tempestuoso casamento com Oswald em seus últimos dias. Ela só tinha dezenove anos. Todos os manuscritos dela se perderam – Oswald, em um determinado momento da vida, assumiu a culpa da perda desses manuscritos, pois estavam com ele. Quanto a culpa pela morte anunciada, ao sabê-la moribunda, colocou-se responsável, casando-se com ela.

Dona Maria de Lourdes Castro de Andrade – falleceu, hontem, nesta capital, a exma. Sra. Maria de Lourdes…., ha dias casada como nosso distincto collega de imprensa e ex comoanheiro de redação, bacharelando Oswald de Andrade.  (…) A Dayse o teu pobre Oswald… (Agosto, 25, 1919. Colagem de recorte de jornal na última página do Diário Coletivo)

Nota de falecimento de Cyclope, 25 de Agosto de 1919. Colada na última página s/n do Diário Coletivo.

Referências:

AMARAL, A. A. Artes Plásticas na Semana de 22. São Paulo: Editora 34. 1998, segunda Reimpressão, 2004.

ANDRADE, Oswald de. O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo. Diário coletivo da garçonière de Oswald de Andrade. São Paulo, 1918.Edição fac-similar. Textos de Mário da Silva Brito & Haroldo de Campos. Transcrição tipográfica de Jorge Schwartz. Editora Ex Libris, 2015. (A Garconière era o codinome do apartamento).

MACHADO, Lourival. Barroco Mineiro. São Paulo: Perspectiva, 2003.

MICELI, S. Nacional Estrangeiro: História Social e Cultural do Modernismo Artístico em São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

WALKER, José Roberto. Neve na manhã de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.


(1) O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo: Diário coletivo da garçonière de Oswald de Andrade. Coletivo da garçonière de Oswald de Andrade. São Paulo, 1918. As citações mantêm a grafia original da época, assim como nesse texto.

(2) Réquiem para Miss Cyclope, musa dialógica da pré-História textual Oswaldiana, p XVI. IN: Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo, 1918. Outros nomes de Cyclope: Daisi (Dayse), Dasinha, Miss Terremoto, Tufãonzinho. Oswald era Miramar; Os adeptos se reuniram na rua Líbero Badaró, região central de São Paulo. Entre os  participantes estavam: Menotti del Picchia, Ricardo Gonçalves, Fer­rignac, Monteiro Lobato e Guilherme de Almeida.

(3) Idem, página 9.

(4) Idem, p. 18.

(5) Idem, p. XVI a XXII. Segundo Oswald, a decisão do aborto foi de Cyclope, porque ela não queria ter, ademais, não sabia quem era o pai. Ele a apoiou e esteve ao seu lado até o fim.

30 anos da obra de Antonio Peticov -momento antropofágico.

30 out

por Gisele Miranda

        Tupy or not Tupy

(Oswald de Andrade, Revista Antropofágica, São Paulo, 1928).

&

A  operação metafísica que se liga ao rito antropofágico é a da transformação do tabu em totem… cabe ao homem totemizar o tabu (Augusto de Campos, São Paulo, 1975)

A obra de Antonio Peticov, Momento Antropofágico com Oswald de Andrade (1890 -1954), vem ratificar a importância do nosso Oswald, sua geração e o:

auto fé de um dos martins-pescadores da nossa crítica literária que tentava reduzir mecanicamente às matrizes do canibal Dada-futurista a antropofagia brasileira… conotação importante derivada do conceito de “antropofagia” Oswaldiano é a idéia da “devoração cultural” das técnicas e informações dos países superdesenvolvidos, para reelaborá-las com autonomia… (da mesma forma que o antropófago devora o inimigo para adquirir suas qualidades). (1)

Oswald teve educação privilegiada, recursos para viagens ao exterior e formação em Direito pela USP (1912); ele assumiu desde cedo um discurso vanguardista de conteúdo crítico literário. A cultura estrangeira foi o alimento ritualizado em seu Tupy or not Tupy, gestado e parido no Manifesto Antropofágico de 1928. A década de 1920 foi frutífera como autor de romances, de poemas aos Manifestos Pau Brasil (1925) e Antropofágico. Nos anos de 1930, o destaque para o Rei da Vela (1937), adentrando os anos de 1940, com mais romances e ensaios.

Oswald viveu até 1954, com dedicação exclusiva à Cultura Brasileira. Pouco antes de seu falecimento, mais um  texto para o teatro e suas memórias – O Homem sem profissão (1954). Além de textos em jornais e publicações póstumas.

Por toda a contribuição de Oswald de Andrade à nossa cultura, a justíssima homenagem de Antonio Peticov com O Mural/ instalação Anamórfico, 1990 (2) – uma Comilança geral, do qual Peticov colocou-se como prato principal.

Antonio Peticov (1946-), Momento Antropofágico com Oswald de Andrade, 1990. 16,40 m comprimento; 3,10 m de altura e 65 cm de profundidade. O Back-Light do teto tem 3,50 m x 7 m; o cilindro de aço do retrato de Oswald 191,59 cm x 30 cm diâmetro. O Pau-Brasil sobre o qual o cilindro está apoiado tem 1,20 m com diâmetro aproximado de 25 cm. Estação do metrô Praça da República, São Paulo.

Oswald de Andrade por Antonio Peticov

Em um conjunto de formas, além da Imagem de Oswald de Andrade como Totem Anamórfico, Peticov inseriu seu repertório artístico ao contexto histórico do homenageado. Diversos momentos da trajetória de Oswald foram resgatados por Peticov para compor um conteúdo necessário.

Do coletivo das almas perdidas (1918), Peticov resgatou um desenho de Ferrignac (3). De Tarsila do Amaral, Peticov resgatou seu Abaporu (1928) e o incorporou nos azulejos.

Oswald e Pagu foram resgatados na constância visual do “café Paraventi” associado ao casal Moderno, do jornal O Homem do Povo (4), periódico criado e mantido por ambos na militância política. Militância incomum a uma mulher naquela época, inúmeras vezes presa (em uma das vezes, por cinco anos), libertária no consciente papel da vanguarda, seja como jornalista e animadora cultural com firme trabalho no Teatro Amador de Santos, que lhe valeu a digna homenagem de Paschoal Carlos Magno na Aldeia de Arcozelo – “pátio Patrícia Galvão – Pagu” (5).


(1) Augusto de Campos, São Paulo, 1975, p. 6 e 7. In: Catálago Antonio Peticov, 1990.

(2) Anamorfose nas artes visuais “(do grego anamorphosis) Deformação de uma imagem formada por um sistema óptico cuja ampliação logitudinal é diferente da amapliação transversal.” In: Catálogo Antonio Peticov – Momento antropofágico, 1990. P. 4.

Link do Vídeo dos 30 anos do mural anamórfico com Oswald de Andrade, 28 de novembro de 2020. https://www.instagram.com/tv/CIMM477nNII/?utm_source=ig_web_copy_link

(3) Inácio da Costa Ferreira, o Ferrignac (1892-1958); formado em Direito, caricaturista, escritor, desenhista e partícipe da Semana de 22.

(4) Referência: O Homem do Povo, 1932. Patrícia Rehder Galvão, a Pagu.

(5) https://tecituras.wordpress.com/2010/07/11/paschoal-carlos-magno-teatro-duse-barcas-e-caravanas-da-cultura-aldeia-de-arcozelo-teatro-do-estudante-do-brasil/

A Fé de Clarice

21 jan

por Gisele Miranda & Lia Mirror

“Andar com fé eu vou

que que a fé não costuma faiá

A fé tá na maré (…)

A fé também tá pra morrer

Oh oh

Triste na solidão…”

Gilberto GIL (1942-), Andar com Fé, 1982.

Tristes mares dessa escrita que rasga e insurge das profundezas. Onde a Fé oscilou, Gilberto Gil cantou e fez Kofi Annan (1938-2018), tocar e dançar no encontro de culturas irmãs (brasileira e ganesa), numa ação que moveu os representantes humanitários do mundo, onde todos se levantaram para aplaudir, dançar e entender um pouco da História do Brasil e da África. Na época, Kofi Annan era secretário geral da ONU (de 1997 a 2006) e vencedor do Nobel da Paz em 2001; e Gilberto Gil, Ministro da Cultura do Brasil e embaixador da Onu para a agricultura e alimentaçõa  (de 2003 a 2008).

E pensar que Gil e muitos, de 1964 a1985, foram presos, muitos torturados, alguns sobreviveram com sequelas, outros morreram ou desapareceram.  Os vinte e um anos de Ditadura Militar no Brasil foram resgatados pela Comissão da Verdade, que nasceu em 2011. O grande passo nos aproximou dos nossos irmãos Argentinos através da luta e reconhecimento das Avós da Praça de Maio (desde 1977); dos Uruguaios, pelo reconhecimento da luta política de Pepe Mujica (1935 -). É uma lição, saber do duro isolamento e da resistência de Mujica, que nos remete também a prisão de Nelson Mandela (1918- 2013) – e uma história que também é nossa.

As Fakenews acionaram seus canais de esgotos e fizeram da nossa Comissão da Verdade “uma paz sem voz, que não é paz é medo”. (1) A violência endógena de nossa História do Brasil abriu as feridas de séculos. Um país em que os professores apanham do Estado, tornou-se um marco histórico de 29 de abril de 2015, em Curitiba. Depois disso, tivemos um presidente que cuspiu no tributo da família Rubens Paiva, insultou a mulher que todas nós somos, Maria do Rosário e Maria da Penha. A virulência personificada atiçou a misoginia desse país recalcado pelo ‘coronelismo’, visto e ouvido em rede nacional, em plenos jogos olímpicos, em 2016, em um coral que até hoje dói, reverbera e que abriga o alto índice de feminicídio.  Através de um coro misógino tiraram uma grande mulher presidente, violentada e difamada duas vezes na História do Brasil.

Quem mandou matar MARIELLE FRANCO (1979-2018)? Somado a isso, uma pandemia mundial frente ao negacionismo presidencial: – “E dai?”, pergunta o genocida do Brasil aliado ao estadunidense Trump – os dois negacionistas são responsáveis pelas duas primeiras colocações no ranking de mortos.

Os EUA se livraram do genocida deles. No Brasil, a República sobreviveu ao golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e a tentativa de golpe dos fanáticos que ignoram as feridas crônicas de nossa História e que querem mais sangue, mais mortes, mais armas, mais torturas.

Quem são os humanos que podem ser chamados de humanos? “Vidas negras importam”, lá nos EUA, aqui e em todo mundo humano. Tudo nos afeta, sem afeto, sem memória, sem história e “uma classe média” mais violenta do que nunca, que ora se esconde e ora mata – mata o filho da empregada, alimentado pelo colonialismo, pelo racismo, enfim, tudo calcado em um neofascismo.

Esse neofascismo (em sua terceira fase) tem a raiz conceitual no salazarismo, no franquismo, no ‘varguismo’ e no pós Segunda Guerra Mundial, deu origem ao neonazismo. Contudo sua temporalidade é outra, seus personagens e valores históricos são outros. Podemos pensar o conceito e ampliarmos à virtualidade fascista de 2020-2023 e os novos núcleos de combate. O neofascismo pertence as sociedades democráticas e capitalistas, algumas frágeis e em  processos democráticos.

Quais os movimentos atuais que são alvos e resistem? Por que resistem? – Resistem as mortes. A quem resistem?  – a quem MANDOU MATAR!

A política alt-right vem promovendo: “o racismo e a supremacia branca; a misoginia, o sexismo e condutas LGBTQfóbicas; o autoritarismo, a recuperação idealizada de uma ordem passada e discursos genocidas” (2). Essa política é a face do neofascismo. E quando tudo isso vem agregado às ‘rachadinhas’ ou do assalto histórico do Estado? As lutas foram divididas em grupos específicos, mas os neofascistas não dividiram suas bandeiras.

Estamos em guerra (fria). No meio do discurso da política de segurança nacional há superencarceramento. Na política antiterrorista há xenofobia. Já não respiramos porque a polícia mata, a milícia mata. O vírus mata e o político manda matar.

Quem deve morrer? Quem pode viver? As respostas tem muito do devir negro no mundo. No Brasil o devir negro é a resposta para quem morre, porque existe a política colonizadora. Como uma sociedade Democrática se comporta com tanta desumanidade histórica? -“o levante antirracista e antipolícia, nada mais é do que uma autodefesa em meio à necropolítica securitária…” (3) Vidas indígenas importam. Vidas negras importam.

Subnotificações são descartes da vida em regiões periféricas; os desempregados tem status de emprego informal para não contabilizar o altíssimo desemprego. As famílias estão morando nas ruas. Nas ruas e nos transportes públicos as pessoas clamam por comida. Pessoas oferecendo seus CVs e vendendo balas em coro: “por favor, me ajudem!” Nós choramos e escrevemos; as aulas tem sido nas ruas, nos trens, no repente necessário porque as vozes não podem calar.

Somado a tudo isso, a tragédia dos refugiados, 80 milhões de pessoas perseguidas por questões políticas, religiosas e étnicas. Entre as nações que mais geraram refugiados, está a Venezuela. A Turquia, outrora negacionista do massacre Armênio, tornou-se o país que mais acolhe refugiados. A Alemanha, outrora genocida nazista, “tem aberto o país para o acolhimento de refugiados e busca inserí-los na sociedade alemã.” (4)

O mundo está uma loucura. Nossas resistências tem sido um devir Clarice Lispector (Chechelnyk, Ucrânia, 1920- Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1977), pois estamos “atrás do que fica atrás do pensamento” (5)… tecendo a vida com a própria coragem e com A fé de Clarice: porque ela sabe quanto importa o outro, ela sabe pedir, ela sabe rezar. (6)

Gordon Matta-Clark (NY, EUA, 1943-Idem, 1978) Veículo de transportar Oxigênio, 1972.


(1) Rappa, Minha Alma (A paz que não quero), 1999. Alexandre Menezes, Lauro de Farias, Marcelo Lobato, Marcelo Falcão, Marcelo Nascimento Vi Santana. https://www.youtube.com/watch?v=dixEvTzhlaY&ab_channel=ORappa; Sobre a violência aos professores em 29 de abril de 2015 https://tecituras.wordpress.com/2015/06/24/da-31a-bienal-de-sao-paulo-como-coisas-que-nao-existem-a-29-de-abril-de-2015/

(2) Acácio Augusto. Cem anos depois, um novo fascismo. In: CULT, Ano 24, janeiro 2021, p. 9.

(3) Camila Jourdan. Quando vidas são descartáveis, nenhuma vida é um valor em si. In: CULT, Ano 24, janeiro 2021, p. 15.

[4] Alex Ricciard. “onde está meu irmão sem irmã, meu filho sem pai ? In: Revista Aventuras na História – A crise dos Refugiados, Dezembro de 2020, p. 36. 

(5) Evando Nascimento. O humano e o não humano, p. 27. In: Cult Clarice Lispector, ano 23, dezembro 2020, edição 264. Edição primorosa coordenada por Daysi Bregantini.

(6) Marcela Lordy. Por que amamos Clarice, p. 51. In: Cult Clarice Lispector, ano 23, dezembro 2020, edição 264.

Série Movimentos de Vanguarda III: BAUHAUS, a Casa Construída (parte II)

25 jun

por Gisele Miranda

A Bauhaus, “síntese casa-escola-oficina” ou “escola fábrica” teve o ícone-vértice da Arquitetura Moderna: Walter Gropius (1883-1969). Com ele proliferaram as experiências artísticas em coletividade. Seu fazer arquitetura era essencialmente alimentado, exercido com todos os aportes da arte: explicando e sensibilizando em meio a intensa crise da sociedade.

Gropius formou-se em arquitetura em 1907. Foi assistente do arquiteto e designer Peter Behrens (1868-1940). De 1914 a 1918 foi um combatente na Primeira Guerra Mundial. Entre a guerra e a criação da Bauhaus, ele viveu uma história de amor com Alma Mahler (1879-1964), viúva do musicista Gustav Mahler (1860-1911). Alma e Gropius foram casados por cinco anos; Gropius viveu o amor com uma mulher intensa e de brilhantismo intelectual, além da guerra, do front, da perda e da dor às vésperas da criação da Bauhaus (1919).

Gropius está internado em algum hospital militar do front. (jan, 1915). Há mais de um ano estamos casados… não temos um ao outro, e às vezes tenho medo de que nos tornemos estranhos. Meu sentimento por ele deu lugar a um sentimento conjugal entediante…. Não se pode manter um casamento a distância.” (out. 1916) (In: Alma Mahler, Minha Vida, 1988, p.65; 76)

Com o término da guerra, Alma teve uma paixão pelo pintor Oskar Kokoschka (1886-1980), mas acabou casando com o poeta Franz Werfel (1890-1945). Walter Gropius se casou com Ise Frank, homenageada pelo Instituto Goethe de Brasília, em 2019, na primeira série sobre as Mulheres da Bauhaus.

De 1934 a 1937, Gropius se refugiou na Inglaterra. Em 1937 o casal foi para os EUA, onde o arquiteto trabalhou em Harvard até 1953; nesse mesmo ano recebeu o Grande Prêmio Internacional de Arquitetura, em São Paulo, Brasil.

Gropius regressou a Alemanha quase 30 anos depois de seu exílio para a realização de um projeto. Ele faleceu em Boston, EUA, em 5 de julho de 1969.

Gropius e a Bauhaus: algumas experiências artísticas

O vértice: o arquiteto Walter Gropius ou a representação da Arquitetura Moderna da Bauhaus alinhavou diversas expressões artísticas, além da importância do Design e do próprio fazer arquitetura. O Teatro Total adentrou a Bauhaus como parte do Centro de Educação Coletiva, onde:

A arquitetura transpôs o limite além do qual uma realidade e uma ilusão, uma matéria e um símbolo, não são separáveis… (…) arquitetura em movimento… que faz o espaço… (…) Do palco circular, nascido da arena agonística. In: Argan, 2005, p. 130; 131.

O Teatro Total nasceu da crise na consciência moderna. A comicidade sobressaiu como uma incontrolável dificuldade de lidar com os dramas do pós-guerra e com a falta de diálogo com uma burguesia vertida ao fascismo. A dramaticidade foi a dificuldade de lidar com um mundo físico e a moral em um processo irreversível. A Bauhaus trabalhou os conflitos com uma cenotécnica criada por Oskar Schlemmer (1888-1943) – a interação com os espectadores foi vital para desenvolver a luz, as cores, os sons, figurinos em bombardeios de sensações. (Argan, 2005:74) Schlemmer desenvolveu a Teoria do Compressionismo:

As pinturas murais em estuque… com superfícies capazes de compensar ou preencher o vazio… estabelecer identidade entre o cheio e o vazio, entre o espaço real e o espaço figurado” (Argan, 2005: 68)

As experiências dos movimentos de vanguarda da Europa foram referências para os mecanismos dessa arquitetura. As esculturas de Pevsner (1902-1983) e Gabo (1890-1977) transformaram o espaço da terceira para a quarta dimensão; O suprematismo de Malevich (1879-1935) interferiu para no princípio abstrato com a realidade concreta da ´coisa que se move´… a superação da forma geométrica como forma a priori…” (Argan, 2005: 138; 140).

Na tecelagem sob a orientação de Gunta Stöl (1889-1973), as pinturas adentraram o tecido. No mobiliário, Marcel Breuer (1902-1981), priorizou o metal. Em 1925:

A cadeira de tubo metálico que substitui por um conjunto de linhas tensas e curvas elásticas, que visam a secundar os movimentos espontâneos do corpo humano. (Argan, 2005: 65)

Anni Albers (Berlim, Alemanha,1899- Orange, Connectcut, EUA, 1994), Foto de Nancy Newhall, 1947; Gertrud Arndt (Racibórz, Polônia, 1903- Darmstadt, Alemanha, 2000) foto Otti Berger c. 1930;  Gunta Stölzl, (Munique, Alemanha, 1897- Zurique, Suíça, 1983. Foto s/d.

1. Anni Albers (Berlim, Alemanha,1899- Orange, Connectcut, EUA, 1994), Foto de Nancy Newhall, 1947; 2. Gertrud Arndt (Racibórz, Polônia, 1903- Darmstadt, Alemanha, 2000) foto Otti Berger c. 1930 com uma construção da Bauhaus; 3. Gunta Stölzl, (Munique, Alemanha, 1897- Zurique, Suíça, 1983. Foto s/d. (*)

Paul Klee (1879-1940) procurou nas primeiras formas do Construtivismo, as reverberações infantis, as forças ativas e passivas das linhas ao remontar a origem das formas. Kandinsky (1866-1944) teorizou sobre as cores – atração e repulsão das linhas e das cores. Josef Albers (1888-1976) e Moholy-Nagy (1895-1946) utilizaram os recursos de collage e do readymade para reconhecer a matéria original da arte nas coisas de uso corrente, além de Moholy-Nagy destacar o aço cromado, alumínio e níquel para objetos de iluminação. (Argan, 2005: 61; 66).

Referências:

Alma Mahler. Minha Vida. São Paulo: Martins Fontes, 1988. Coleção Uma Mulher. (publicado em 1960 a partir dos diários de Alma Mahler)

ARGAN, Giulio Carlo. Walter Gropius e a Bauhaus. Tradução Joana Angélica d´Avila Melo; posfácio de Bruno Contardi. Rio de Janeiro: José Olympio, 2005.

ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. Tradução Denise Bottmann & Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

GOMBRICH, Ernst H. J. História da Arte. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.

SCHAPIRO, Meyer: A Arte Moderna séculos XIX e XX. Tradução Luiz R. M Gonçalves. São Paulo: Edusp, 1996.

STANGOS, Nikos (Org.) Conceitos da Arte Moderna. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.

TASSINARI, Alberto. O Espaço Moderno. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.

Catálogo Bauhaus.foto.filme: ideias que se encontram. Sesc Pinheiros, 2013.

https://goethebrasilia.org.br/blog/ise-gropius-frau-bauhaus/ em 23/06/2019.

Mulheres na Bauhaus – os mestres subestimados

Imagens de mulheres: Os artistas esquecidos na Bauhaus

(*) Notas:

  1. Anni Albers: Foi aluna e professora da Bauhaus em Tecelagem e Design; exilada nos EUA com o marido Josef Albers, também professor da Bauhaus.
  2. Gertrud Arndt: foi aluna da Bauhaus em Fotografia.
  3. Gunta Stölzl: professora da Bauhaus em Tecelagem/ oficina têxtil.

Série Movimentos de Vanguarda II: Expressionismo e Cubismo

6 maio

por Gisele Miranda

O Expressionismo nasceu por volta de 1905, com um subjetivismo antinaturalista e obviamente com atritos pelo contexto técnico e temático do Impressionismo. Tanto que, na Alemanha, o Impressionismo não floresceu, mas foi terreno fértil do Expressionismo Alemão – nomeado também a partir de um comentário crítico e de uma fusão literária, teatral, musical, da arquitetura e das pinturas.

O Expressionismo resgatou Paul Gauguin (1848-1903,) com seu Expressionismo Primitivo encarnado na Polinésia francesa; Vincent Van Gogh (1853-1890), pelo ardor da cor associado ao seu tormento e Paul Cezánne (1839-1906), com suas máscaras africanas.

O Fauvismo, mesmo sem manifesto, influenciou sobremaneira o Expressionismo. A iminência da guerra (1914-1918) e as emoções inflamadas tomaram curso nas cores intensas e com texturas. Na Alemanha eclodiram dois grupos importantes: A Ponte (Die Brücke, 1905-1913) e o Cavaleiro Azul (Der Blaue Reiter, 1911-1919).

A Ponte foi fundada por Erich Heckel (1883-1970), artista e estudante de arquitetura. Parte de sua obra foi destruída na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), assim como de outros artistas.

Erich Heckel (Dobeln, Alemanha, 1883- Radolzell, Alemanha, 1970), Menina deitada (nu no sofá), 1909. Óleo sobre tela 96,5 x 121,2 cm.  The Pinakothek Museum of Modern Art (Pinakothek der Moderne Munich, Alemanha).

Erich Heckel (1883-1970), Menina deitada (nu no sofá), 1909. Óleo sobre tela 96,5 x 121,2 cm. The Pinakothek Museum of Modern Art (Pinakothek der Moderne Munich, Alemanha).

Edvard Munch (1863-1944) esteve ligado A Ponte; Munch sofreu com a morte da mãe, irmãs e incompatibilidades com pai. Sua obra Expressionista reflete todo o desassossego familiar, depressão e internações.

Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938) também foi integrante do grupo A Ponte. Em 1906 discursou:

Estão conosco todos aqueles que, diretamente e sem dissimulação, expressam aquilo que os impele ao criar. (Stangos, 1991: 28).

Kirchner foi ferido na guerra e incorporou todos os traumas do pós-guerra que o levou ao suicídio. Na Ponte, também estiveram Emil Nolde (1867-1956), Otto Mueller (1874-1930), Max Pechstein (1881-1955), Karl Schmidt-Rottluff (1884-1976), entre outros.

Ernst Ludwig Kirchner (Aschafemburgo, Alemanha, 1880 - Davos, Suíça, 1938) Autorretrato como soldado, 1915. Óleo sobre tela, 69, x 61 cm. Allen Memorial Art Museum, Oberlin College

Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938) Autorretrato como soldado, 1915. Óleo sobre tela, 69, x 61 cm. Allen Memorial Art Museum, Oberlin College

O Cavaleiro Azul teve autoria de Kandinsky, um artista intelectual que integrou o quadro docente da Bauhaus (de 1922 a 1933) e tornou-se um importante teórico. Ele acreditou que a pintura e a música exprimiam a vida interior e que a arte eclode da espiritualidade. Assim nasceu Do Espiritual na Arte, escrito em 1910; publicado em 1912. São outras possibilidades de pensar as cores e, em parte, a sustentação teórica da Arte Abstrata.

Franz Marc (1880-1916) participou do grupo de Kandinsky. Foi a óbito aos 36 anos, ferido em combate no final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Também estiveram no Cavaleiro Azul, Paul Klee (1879-1940), Lyonel Feininger (1871-1956), Alfred Kubin (1877-1959), entre outros.

Franz Marc (Munique, Alemanha, 1880- Braque, França, 1916) O Destino dos Animais, 1913. Óleo sobre tela, 1,96 x 2,66 cm. Kuntmuseum, Basileia, Suíça.

Franz Marc (1880-1916) O Destino dos Animais, 1913. Óleo sobre tela, 1,96 x 2,66 cm. Kuntmuseum, Basileia, Suíça.

Oscar Kokoschka (1886-1980) foi um Expressionista mais independente e teve vínculo com o teatro. Em seus trabalhos reforçou a barbárie da vida e o sofrimento amoroso. Vindo do Império Austro-Húngaro, ferido na guerra com uma bala na cabeça e o corpo rasgado por uma baioneta.

Kokoschka viveu uma história de amor com Alma Mahler (1879-1964), uma fantástica mulher de inteligência múltipla que também arrastou os corações do compositor e maestro Gustav Mahler (1860-1911), do arquiteto e criador da Bauhaus Walter Gropius (1883-1969), e do poeta Franz Werfel (1890-1945).

Oskar Kokoschka (Pölchrn, Áustria, 1886 - Montreaux, Suíça,1980), Pietà cartaz assassino, esperança das mulheres, 1909. Litografia. (MOMA)

Oskar Kokoschka (1886-1980), Pietà assassino, esperança das mulheres, 1909. Litografia. Cartaz para uma peça de teatro. MOMA/ NY, EUA.

Quando Alma Mahler deixou Kokoschka, ele passou a andar com uma boneca inflável chamada Alma Mahler e sem pudores saía às ruas e frequentava os cafés com ela. Kokoschka deixou registrado essa relação em desenhos e pinturas tais como Retrato de Kokoschka e Alma Mahler (1912/13), Noiva do Vento (1913) e Amantes (1913).

Oskar Kokoschka (Pölchrn, Áustria, 1886 - Montreaux, Suíça,1980) Retrato de Kokoschka e Alma Mahler, 1912/13. Óleo sobre tela 100 x 90 cm. Essen Museun Folkwang.

Oskar Kokoschka (1886-1980) Retrato de Kokoschka e Alma Mahler, 1912/13. Óleo sobre tela 100 x 90 cm. Essen Museun Folkwang.

Em meio ao Expressionismo, surgiu o Manifesto Futurista (Itália, 1909), além de exposições de Cubistas (na França) que movimentaram as discussões sobre a arte e política, arquitetura e funcionalidade, pintura e música.

Marc Chagall (1887-1985) se destacou no Expressionismo, no Cubismo e no Surrealismo. Vale lembrar que em 1957, a 4ª Bienal de São Paulo dedicou uma sala especial às obras de Chagall.

Modigliani (1884-1920) com suas personagens longilíneas também se valeu das máscaras africanas. O MASP – Museu de Arte Moderna de São Paulo – possui cinco retratos com essas características, realizados entre 1915 e 1919. A vida de Modigliani foi marcada por problemas de saúde, bebidas e drogas. Quando Modigliani faleceu sua esposa desesperada se atirou pela janela, grávida de cinco meses.

Pablo Picasso (1881-1973) vivenciou o Fauvismo, Expressionismo, Cubismo e andou por outros tantos movimentos. Em Les Demoiselles d’Avignon de 1907*, Picasso sem dúvida bebeu da fonte de Matisse (1869-1954) em Luxe (1904) e Joie de Vivre (1906). Por sua vez, Matisse fez A dança (1910), como uma junção divina de Picasso.

Pablo Picasso (Málaga, Espanha 1881- Mougins, França,1973)   Les  Demoiselles d'Avignon, 1907.Óleo sobre tela 243,9 x 233,7 cm. MOMA/NY.

Pablo Picasso (1881-1973) Les Demoiselles d’Avignon, 1907. Óleo sobre tela 243,9 x 233,7 cm. MOMA/NY, EUA.

O Cubismo vem da fusão da obra de Cézanne e sua relação com os negros às máscaras africanas pelos rastros de Gauguin e do Fauvismo. A pintura de Cézanne abre elementos à teórica:

Como superar o limite histórico da pintura de Cézanne? Não havia qualquer sentido em acolher os entalhadores negros de máscaras e fetiches no paraíso da arte universal; o necessário era resolver dialeticamente a contradição pela qual soluções opostas por uma ´civilidade extrema´ e por uma ´barbárie extrema´… apenas assim o elemento ´barbárie poderia atuar como elemento de ruptura de um limite histórico como fator revolucionário… Argan, 1992, p. 126

Às vésperas do Cubismo ou no processo de criação estavam Picasso e Georges Braque (1882-1963) como aliados experimentais e teóricos pela arte.

{Picasso e Braque} Resolveram o problema da terceira dimensão por meio de linhas obliquas (já indicativas da profundidade) e curvas (já indicativas do volume) trazendo para o plano o que se apresenta como profundidade ou relevo. In: Argan, 1992, p. 427.

Braque veio do Fauvismo. Trabalhou com Picasso de 1907 a 1914. Segundo Giulio Carlo Argan, Braque tinha o rigor do método, pois o Cubismo se definia com a base intelectual instigando uma passagem para a colagem. Em 1915, Georges Braque sobreviveu a um tiro na cabeça durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Georges Braque (Argenteuil, França, 1882- Paris, França, 1963), La Tasse, 1911 Óleo sobre tela 24,1 x 33 cm. Coleção particular.

Georges Braque (Argenteuil, França, 1882- Paris, França, 1963), la Tasse, 1911. Óleo sobre tela 24,1 x 33 cm. Coleção particular.

A aliança de trabalho de Picasso (a força da ruptura) com Braque deu-se de forma tranquila e encontraram caminhos dentro do Cubismo que se integraram: o volume de Picasso e a cor de Braque. Surgem as naturezas-mortas e a ordenação analítica dos objetos conhecidos, para pensar as coisas e o espaço.

Pablo Picasso (Málaga,Espanha 1881-Mougins, França,1973), Natureza morta espanhola, 1912; tela oval de 0,46 x 0,33m. Coleção particular.

Pablo Picasso (1881-1973), Natureza morta espanhola, 1912; tela oval de 0,46 x 0,33m. Coleção particular.

Assim, outros grandes Cubistas surgiram nessa atmosfera mental como Marcel Duchamp (1887-1968), Juan Gris (1887-1927), Fernand Léger (1881-1955) e o escultor Henry Laurens (1885-1957).

Com Juan Gris, a profundidade deixou de existir e os objetos encontraram-se no plano. O quadro passa ser o objeto e não a representação. Gris é quem dá a espacialidade da arquitetura de Le Corbusier, segundo Argan.

juan grisJuan Gris (Madri, Espanha, 1887- Boulogne-Billancourt, França, 1927), Fruta em uma toalha de mesa quadriculada, 1917. Óleo sobre madeira 80,6 x 53,9 cm. Solomon R. Guggenheim Museum, New York.

Juan Gris (1887-1927), Fruta em uma toalha de mesa quadriculada, 1917. Óleo sobre madeira 80,6 x 53,9 cm. Solomon R. Guggenheim Museum, New York.

Houve também, o denominado Cubismo Órfico de Robert Delaunay (1885-1941), batizado assim por Guillerme Apollinaire (1800–1918). O Cubismo Órfico não é analítico nem sintético, indo ao encontro do Futurismo (1909), principalmente quando as cidades se projetam às alturas, uma destruição com ritmo onde a luz consegue deformar. Mas o tema da velocidade do Futurismo destoa.

torre eiffel

Robert Delaunay (1885 -1941) Torre Eiffel, 1911. Óleo sobre tela 1,98 x 1,36 m. Solomon R. Guggenheim Museum, New York.

Quando Delaunay realizou a Série dos Discos e das Formas Circulares Cósmicas (1912), fixou de súbito em sinais simbólicos que logo foram associados às discussões de Kandinsky sobre O Espiritual através das cores, revelando algo significativo para a História da Arte europeia: as primeiras pinturas não-figurativas. (Argan, 1992, p. 433).

Apollinaire foi o mestre de cerimônias do Cubismo. Pensador e poeta visual, adentrou o Dadaísmo e o Surrealismo como poeta in memoriam. Antes pensou o Cubismo em seus diferentes processos. Assim percebeu em F. Kupka (1871-1957), a importância dos discos de Newton (1912) como de uma pintura abstrata “pura” do Cubismo Órfico com a força vital e mitificadora.

Kupka, F. (Opocno, República Checa, 1871 – Puteaux, França, 1957), Discos de Newton, 1911-12. Óleo sobre tela, 100 x 73 cm.

Kupka, F. (1871–1957), Discos de Newton, 1911-12. Óleo sobre tela, 100 x 73 cm.

Com Fernand Léger, Apollinaire ressaltou o Cubismo dinâmico da vida moderna. Viés absorvido por sua aluna Tarsila do Amaral (1886-1973). Diferentemente, Francis Picabia (1879–1953) se destacou no Cubismo do dinamismo psíquico. (Stangos, p. 64)

Fernand Léger (Argentan, França,1881-, Gif-sur-Yvette, França, 1955),   La Ville ( Cidade ), óleo sobre tela, 231,1 x 298,4 cm. Museu de Arte da Filadéfia.

Fernand Léger (1881-1955), La Ville ( Cidade ), óleo sobre tela, 231,1 x 298,4 cm. Philadelphia Museum of Art, EUA.

Marcel Duchamp passou pelo Cubismo analítico com críticas, pois se ateve ao elemento cinético do Cubismo. Ele rejeitou a pintura de tradição indo pelo caminho do puro ato estético, ou seja, para o Dadaísmo. Duchamp foi um crítico da sociedade moderna, além de um grande intelectual.

Marcel Duchamp (Blainville-Crevon, França, 1887 – Neuilly-sur-Seine, França, 1968). Nu descendo a escada, 1912. Óleo sobre tela 147 x 89,2 cm. Philadelphia Museum of Art, EUA.

Marcel Duchamp (1887–1968). Nu descendo a escada, 1912. Óleo sobre tela 147 x 89,2 cm. Philadelphia Museum of Art, EUA.

(*) Les Demoiselles d’Avignon, título inventado pelo poeta André Salmon (1881-1969), anos mais tarde. Argan, 1992, p.422.

(**) A Fundação em Memória a Oskar Kokoschka foi criada em 1988, pela viúva do artista, Olda Kokoschka. Em 2012, foi anexada ao Museu Jenisch de Vevey – Fundação Oskar Kokoschka. Consulta em 6/5/2019. São 489 pinturas catalogadas.

Referências:

ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. Tradução Denise Bottmann & Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

ARGAN, Giulio Carlo. Walter Gropius e a Bauhaus. Tradução Joana Angélica d´Avila Melo. Rio de Janeiro: Jos.

FERRREIRA, Glória; COTRIM, Cecilia (Org.) Clemente Greenberg e o debate crítico. (Tradução Maria Luiza X. de A. Borges). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

GIROUD, Françoise. Alma Mahler ou a arte de ser amada. Tradução Ana Maria Chabloz-Scherer. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1989.

GOMBRICH, Ernst H. J. História da Arte. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão; Irene Ferreira & Suzana Ferreira Borges. 2ª ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1992. (coleção Repertórios)

SCHAPIRO, Meyer: A Arte Moderna séculos XIX e XX. Tradução Luiz R. M Gonçalves. São Paulo: Edusp, 1996.

STANGOS, Nikos (Org.) Conceitos da Arte Moderna. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.

TASSINARI, Alberto. O Espaço Moderno. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.

Série Movimentos de Vanguarda I: Impressionismo, Neoimpressionismo e Fauvismo.

5 maio

por Gisele Miranda

O conceito de Arte Moderna a ser apresentado situa-se nos escritos literários de Charles Baudelaire (1867-1921) e no turbilhão artístico ocorrido em final do século 19, até meados do século 20.

Nesse breve período surgiram os Movimentos de Vanguarda. Alguns com manifestos, outros, sem. Essa Modernidade é amparada historicamente pela Idade Moderna – mas são conceitos distintos.

Essa modernidade é ditada por mudanças de fases e processos de depuração. A perspectiva foi desaparecendo e a Arte Abstrata alçou pilar próprio e conquistou espaço paralelo ao figurativo. A colagem ganhou o ápice do Op antinaturalismo, ou seja, o espaço moderno.

O que o artista moderno procura… Ele procura algo que nós nos permitimos chamar modernidade… o eterno no transitório. (Baudelaire,1995: 694).

O Impressionismo

Alguns pensadores não creditam no Impressionismo como um movimento de experimentação se comparado aos que surgiram posteriormente. O Impressionismo perto do Fauvismo, Expressionismo ou Cubismo tornou-se mais de retaguarda do que de vanguarda. Mas em relação aos movimentos anteriores essa visão de retaguarda desaparece.

A primeira exposição Impressionista ocorreu em 1874. O grande público e os críticos ficaram chocados com o que viram, pois estavam calcados em uma longa história do figurativo Clássico, Neoclássico e do Realismo.

O Impressionismo abriu o espaço público para a pintura fora dos estúdios, utilizando a luz solar, os primeiros raios do sol, o entardecer, os movimentos das nuvens, o vento no vestido, no cabelo, na embarcação à vela, nas ondas do mar, na fumaça dos trens.

A bandeira do Impressionismo foi levantada por Claude Monet (1840-1926), unanimidade dos teóricos. Só ele capturou o caráter aéreo em turbilhões de fumaça branca e azul. Entre os jovens artistas da época, o Impressionismo foi bem recebido e incorporado.

Claude Monet (Paris, França, 1840 - Giverny, França, 1926), A Estação Saint-Lazare, 1877.  Óleo sobre tela, 74,9 x 100,3 cm. Museu d’Orsay, Paris.

Claude Monet (Paris, França, 1840 – Giverny, França, 1926), A Estação Saint-Lazare, 1877. Óleo sobre tela, 74,9 x 100,3 cm. Museu d’Orsay, Paris.

Édouard Manet (1832-1883) era bem estabelecido no mercado de arte e vindo de trabalhos ligados ao Realismo. Manet aplaudiu, aderiu, renovou e tornou-se também um Impressionista.

O movimento foi batizado ironicamente por um crítico ao ver a tela Impressões, nascer do sol de Monet. Chamando-a de impressões, de borrõesUm papel de parede é mais elaborado que esta cena marinha. (1)

Claude Monet (Paris, França, 1840 - Giverny, França, 1926), Impressão, nascer do sol, 1872. Óleo sobre tela 48 x 63 cm. Museu Marmottan Monet, Paris.

Claude Monet (1840 -1926), Impressão, nascer do sol, 1872. Óleo sobre tela 48 x 63 cm. Museu Marmottan Monet, Paris.

Nomes como Camille Pissarro (1830-1903), Edgar Degas (1834-1917), Alfred Sisley (1839-1899), Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), Vincent van Gogh (1853-1890) e Berthe Morisot (1841-1895), uma das raras mulheres da História da Arte em um mundo totalmente masculino e muito reticente com a presença da mulher como artista. Morisot casou com o irmão de Manet e foi aluna dos pintores Realistas Jean-Baptiste Corot (1796-1875) e Jean-François Millet (1814-1975).

Berthe Morisot (Bourges, França, 1841 - Paris, França, 1895), O Berço, 1872. Óleo sobre tela, 56 x 46 cm. Museu d’Orsay, Paris.

Berthe Morisot (1841-1895), O Berço, 1872. Óleo sobre tela, 56 x 46 cm. Museu d’Orsay, Paris.

O Impressionismo passou por uma divisão com relação a técnica criada pelo pontilhismo ou Neoimpressionismo com Georges Seurat (1859-1891), Maximilien Luce, (1858-1951) Paul Signac (1863-1935), entre outros.

Georges Seurat (Paris, França, 1859- Paris, França, 1891), Tarde de Domingo na Ilha de Grande Jatte, 1884 – 1886. Óleo sobre tela 2017,5 x 308,1 cm. Art Institute of Chicago.

Georges Seurat (1859-1891), Tarde de Domingo na Ilha de Grande Jatte, 1884 – 1886. Óleo sobre tela 2017,5 x 308,1 cm. Art Institute of Chicago.

Henri Matisse (1869-1954) fez nus simplificados com o pontilhismo que o marcou no Neoimpressionismo, assim como sua tridimensionalidade através das fortes manchas.

Henri Matisse (Le Cateau-Cambrésis, França, 1869- Nice, França, 1954), Luxe, Calme et Vulupté, 1904. Óleo sobre tela, 98,5 x 118,5 cm. Museu d’Orsay, Paris.

Henri Matisse (1869-1954), Luxe, Calme et Vulupté, 1904. Óleo sobre tela, 98,5 x 118,5 cm. Museu d’Orsay, Paris.

Matisse era conhecido e respeitado, mesmo assim sofreu com as críticas, principalmente com a forma para representar o corpo feminino e como deixava suas modelos feias em sua fase Fauvista (1904-1907)

O retrato de sua mulher usando um enorme chapéu foi interpretado como sendo de um inexplicável mau gosto, uma caricatura da feminilidade. (Stangos, p. 17)

Matisse (Le Cateau-Cambrésis, França, 1869- Nice, França, 1954), Mulher com Chapéu, 1905. Óleo sobre tela 80,6 x 59,7 cm. Coleção particular.

Henri Matisse (1869-1954), Mulher com Chapéu, 1905. Óleo sobre tela 80,6 x 59,7 cm. Coleção particular.

O irmão da escritora Gertrude Stein (1874-1946) adquiriu o Retrato de Madame Matisse. Leo Stein deixou registrado: Era o mais nojento borrão de tinta que jamais vi. (Stangos, p.17)

(Le Cateau-Cambrésis, França, 1869- Nice, França, 1954) Madame Matisse, 1905. Óleo sobre tela, 40,.5 cm × 32,5 cm. Statens Museum for Kunst

Henri Matisse (1869-1954) Madame Matisse, 1905. Óleo sobre tela, 40,.5 cm × 32,5 cm. Statens Museum for Kunst

Matisse passou pelo Fauvismo, Expressionismo e Cubismo. O Fauvismo foi um movimento de cores puras, exageradas e com o contraste das cores complementares, do qual Maurice de Vlaminck (1876-1958), com seu espírito livre, tornou-se um expoente; além de oponente, veementemente, do pontilhismo dos Neoimpressionistas.

Maurice de Vlaminck (Paris, França, 1876 – Rueil-la-Gadelière, França, 1958), Hauses at Chateau, c.1905. Óleo sobre tela 81,3 x 101,6 cm. Art Institute of Chicago

Maurice de Vlaminck (1876 –1958), Hauses at Chateau, c.1905. Óleo sobre tela 81,3 x 101,6 cm. Art Institute of Chicago

Vlaminck, Matisse e Picasso (1881-1973) tornaram-se grandes colecionadores de esculturas africanas, a principal fonte para a primeira fase Cubista, pelas interferências da cultura africana com suas máscaras.

Matisse apadrinhou André Derain (1880-1954) no Fauvismo e no Cubismo, a ponto de interceder junto aos pais de Derain, para o importante ofício e a qualidade da obra do filho artista. Eles se tornaram os Les Fauves – os feras, os selvagens para falar das cores. Outros artistas foram agregando ao grupo, tais como Georges Braque (1882-1963), Raoul Dufy (1877-1953), Georges Rouault (1871-1958), Albert Marquet (1875-1947), Jean Puy (1876-1960), e sempre Picasso por perto, entre outros.

André Derain (Chatou, França, 1880 - Garches, França, 1954), Henri Matisse, 1905. Óleo sobre tela 46 x 34 cm. Tate Modern, London

André Derain (1880-1954), Henri Matisse, 1905. Óleo sobre tela 46 x 34 cm. Tate Modern, London

Para alguns artistas como Matisse, Derain e Picasso, as passagens de Movimentos, de fato, tornaram-se depurativas. Também Vincent van Gogh e Paul Gauguin (1848-1903) na fase Expressionista.

Houve sobreposição de movimentos, não como rupturas, mas como fases, experimentações e, obviamente, a relação vanguardista com o momento histórico da guerra Franco-Prussiana (1870-1871) e as duas Guerras Mundiais (1914-1918 e 1939-1945). Essa relação artista/soldado esteve presente na estética dos feridos, dos sobreviventes aos traumas e mortes.

(1) Exposição Impressionismo: Paris e Modernidade, Obras-Primas do Acervo do Museu d’Orsay de Paris, França. CCBB SP, 2016. Obra roubada em 1985, mas, recuperada em 1990.

Referências:

ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. Tradução Denise Bottmann & Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

BAUDELAIRE, Charles. As Flores do mal. Edição bilíngue. Tradução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

FERRREIRA, Glória; COTRIM, Cecilia (Org.) Clemente Greenberg e o debate crítico. (Tradução Maria Luiza X. de A. Borges). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

GOMBRICH, Ernst H. J. História da Arte. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão; Irene Ferreira & Suzana Ferreira Borges. 2ª ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1992. (coleção Repertórios)

SCHAPIRO, Meyer: A Arte Moderna séculos XIX e XX. Tradução Luiz R. M Gonçalves. São Paulo: Edusp, 1996.

SCHAPIRO, Meyer. Impressionismo: percepções e reflexões. Tradução de Ana Luiza Dantas Borges. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.

STANGOS, Nikos (Org.) Conceitos da Arte Moderna. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.

TASSINARI, Alberto. O Espaço Moderno. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.

(*) Texto foi realizado no Instituto de Arte e Cultura Antonio Peticov.

Série Releituras Visuais e Breves Comentários II: O Barroco Laico de REMBRANDT e a Releitura de Antonio Peticov

1 maio

por Gisele Miranda

O Barroco laico tem três pilares associados a Frans Hals (1580-1660), a Rembrandt (1606-1669) e a Vermeer (1632-1675).

Rembrandt foi um bom articulador de seu próprio nome, por isso, alçou em vida um nome importante, inclusive com recursos provenientes de seu casamento. Mas como Rembrandt morreu pobre, endividado? Filho de um moleiro calvinista, casou bem e adquiriu notoriedade em seu ofício. Administrar os próprios recursos não foi uma tarefa simples para Rembrandt se contabilizados gastos com processos: a esposa, a amante, o filho, o sócio. Os Países Baixos (mercantil e burguês) sempre priorizaram a área do Direito. Não é à toa que Haia tornou-se sede das Conferências de Paz, atualmente, sede da Justiça Internacional.

Rembrandt viveu 63 anos e se autorretratou da juventude a velhice, nesse processo, o que menos importava era a vaidade e sim os estudos, as expressões visíveis do tempo, ou seja, suportes para a estética do Barroco Laico: os melhores Retratos do claro-escuro, os detalhes veementes do gênero Retrato-Autorretrato, sobrancelhas, pintas, rugas no visível processo de envelhecimento.

Na obra O artista em seu estúdio, de 1629, Rembrandt estava com 40 anos. Seu ateliê é o ambiente do autorretratado com sua bela vestimenta à moda holandesa. Mas onde estão os pincéis, as tintas? Onde estão as telas, outras pinturas?

Rembrandt Harmenszoon Van Rijn (Leida, Países Baixos,1606 - Amsterdã, Países Baixos 1669) O Artista em seu Estúdio, 1629. Óleo sobre madeira 25,1 x 31,9 cm. Museu de Boston, EUA.

Rembrandt Harmenszoon Van Rijn (Leida, Países Baixos,1606 – Amsterdã, Países Baixos 1669) O Artista em seu Estúdio, 1629. Óleo sobre madeira 25,1 x 31,9 cm. Museu de Boston, EUA.

Rembrandt realizou O Artista em seu Estúdio com um visível objeto escatológico, uma mesa e a sensação de vazio. Reveses da vida material que ao longo dos séculos foram imortalizado pelos Românticos e Realistas do século 19.

A Releitura que Antonio Peticov fez de Rembrandt:  é um autorretrato em cores sobrepostas, é o espectro gestual e irregular do arco íris até o pote de riquezas  do acervo memorial, do acúmulo de documentos, fotos, desenhos, pinturas, objetos culturais que ao longo de sua trajetória resultaram nas lutas e nas oscilações financeiras. Como manter o Instituto de Arte e Cultura Antonio Peticov?

Antonio Peticov optou pelas cores do espectro em seu autorretrato. É um confronto com a arte na fusão do ambiente de Rembrandt – o estúdio e a necessidade do trabalho diário.

Antonio Peticov (Assis, Brasil, 1945-) O Pintor Holandês, 2017. Acrílica sobre tela, 100 x 120 cm.

Antonio Peticov (Assis, Brasil, 1945-) O Pintor Holandês, 2017. Acrílica sobre tela, 100 x 120 cm. Série Releituras.

(*) Instituto de Arte e Cultura Antonio Peticov https://www.peticov.com.br/

Referências:

ARGAN, Giulio Carlo. Imagem e Persuasão: ensaios sobre o Barroco. Tradução Maurício Santana Dias. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

ARGAN, Giulio Carlo. Clássico Anticlássico: o Renascimento de Brunelleschi a Bruegel. Tradução Lorenzo Mammì. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

GOMBRICH, Ernst H. J. História da Arte. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.

TIRAPELI, Percival (Org.) ARTE Sacra Colonial: Barroco Memória Viva. São Paulo: Imprensa Oficial de São Paulo; Editora UNESP, 2005.

Da 31ª Bienal de São Paulo: “Como (…) coisas que não existem” a “29 de abril de 2015”

24 jun

por Gisele Miranda

O tema da 31ª Bienal de São Paulo (2014-2015) “Como (pegar, nomear, viver, pensar…) coisas que não existem” – com os verbos no infinitivo e com reticências “ é uma invocação poética do potencial da arte e de sua capacidade de agir e intervir em locais e comunidades onde ela se manifesta”. Então, como existir no silêncio, no tropeço, nas camuflagens da ignorância, no esquecimento?

O escocês Charles Esche assinou uma curadoria que não agradou muito ao público brasileiro ao propor: pensar… nomear, imaginar, viver, lutar, recordar, conhecer, refletir. Houve associação crítica com o Dadaísmo (1916) sobre a estética da Bienal, mas, em vista que a história não se repete, diria que a inspiração Dadaísta partiu do confronto, outrora, a arte questionando valores de uma burguesia fascista e em guerra, hoje, arte, memória e história com uma classe média (brasileira), digna de ser nomeada como “uma abominação política, porque é fascista, é uma abominação ética porque é violenta, e é uma abominação cognitiva porque é ignorante.” (Marilena Chauí, 2013. Cult, p.10)

O Brasil da classe média ataca a mulher de maneira machista e misógina e pede intervenção militar quando desconhece a violência o que resulta na Educação com as cenas de horror de “29 de abril de 2015”. Os professores, a grande maioria professoras, em manifestação pacífica foram alvos de policiais, balas e bombas. É claro que o passado ignorado tornou-se um monstro em diferentes esferas numa catarse de escombros.

29 de abril de 2015 no Centro Cívico, Curitiba, Paraná, Brasil, sob o governo de Beto Richa.

29 de abril de 2015 no Centro Cívico, Curitiba, Paraná, Brasil.

Há questões que precisam ser nomeadas a partir de uma discussão sobre o passado. O que Esche mostrou na 31ª Bienal foi o passo da virada contemporânea em diálogo com o passado ignorado seguido do ” 29 de abril de 2015″.

Juan Carlos Romero, Violência, 1973-1977 (impressão sobre papel)

Juan Carlos Romero, Violência, 1973-1977 (impressão sobre papel)

Palmas para Esche por esse elo tecido pela história e pelas memórias coletivas entre a 1ª Bienal de Veneza (1895) à 1ª Bienal de São Paulo (1951), em suas edições instigantes e necessárias.

Concomitante a Bienal de Esche, a 56ª Bienal de Veneza, sob curadoria do nigeriano Okwui Enwezor (1963- 2019), tematizou “Todos os futuros do mundo”, sobre a desigualdade de oportunidades. Enwezor foi o primeiro negro a assumir a Bienal de Veneza. Cabe lembrar que a Nigéria, recentemente, criminalizou a “mutilação genital feminina”, prática que segundo a UNICEF atingiu 125 milhões de meninas em quase 30 países do continente africano.

Alguns temas e obras discutidos na 31ª Bienal

AfroUFO (2014), de Tiago Borges e Yonamine. Um óvni de um futuro incerto que pousou no Brasil todo pichado ou do “pixo”. O contato estético e a intervenção no espaço interno nos reporta a uma “história colonial comum”. Nossa relação vital com o continente Africano sob séculos de escravidão à uma liberdade que contempla o discurso sobre a redução da maioridade penal e o perfil das super lotações nos presídios.

Tiago Borges e Yonamine: AfroUFO, 2014.  (local interno da nave)

Éder Oliveira com suas pinturas enormes de “jovens delinquentes” ou apenas garotos, menores de idade que estão à margem da sociedade. O perfil desses jovens tem muito da nossa história de séculos de violência e de abandono “caboclos com traços de índios e negros” (Guia 31ª Bienal, p. 147). Aliás, a temática violência aparece em um todo da Bienal, mortes prematuras de crianças por esquadrões da morte, ditaduras militares que assassinaram jovens manifestantes aos desaparecimentos. Violência impregnada nas ruas, nas canções, nos vídeos como do turco Halil Altindere como o seu Wondeland (2013), dos cartazes do argentino Juan Carlos Romero com Violência (1973-1977).

Éder Oliveira, sem título - intervenção urbana, 2013.

Apelo (2014), de Clara Ianni e Débora Maria da Silva. O Vídeo “convoca ao vivos para recordar os mortos… confrontando o esquecimento”. O local da discussão é o Cemitério Dom Bosco, “criado em 1971 pelo governo militar para receber cadáveres de vítimas do regime repressor…”. O mesmo local, absorve as “vítimas das ações conduzidas pelos esquadrões da morte da Polícia Militar de São Paulo”. Débora Maria da Silva é uma das mães que “perderam seus filhos devido a violência policial” (Guia 31ª Bienal, p. 40-41). Associado a isso está a luta contra a redução da maioridade penal.

Clara Iannni e Débora Maria da Silva, Apelo, 2014. Estudo para filme.

Coletivo Mujeres Creando, “fundado em La Paz em 1992… constituindo por prostitutas, poetas, jornalistas, vendedoras, trabalhadoras domésticas, artistas, costureiras, professoras…” O coletivo é atuante em performance, instalações propiciando debate público na “ditadura do patriarcado sobre o corpo da mulher… porque não há nada mais parecido com um machista de direita que um machista de esquerda” (Catálogo 31ª Bienal, p. 35) Atrelada às discussões da autonomia do próprio corpo estão índices altíssimos de problemas decorrentes de abortos realizados na clandestinidade. O “sexismo e o patriarcado institucionalizado” vem aumentando o número de casos de estupros nas grandes cidades. O silêncio, a vergonha e o medo não são computados, embora o índice seja crescente.

Mujeres Creando - útero ilegal, 2014. (série 13 horas de rebelión) Instalação de escultura e vídeo.

Também com Giuseppe Campuzano (1969-2013) quando em 2004, criou o Museo Travesti del Peru; Sergio Zevallos e suas discussões sobre andrógenos, transgêneros e travestis “um conjunto de corpos no qual ´há´ privação de sua condição humana, não por registro e vigilância, mas pelo silêncio e apagamento de seus rastros.” (Catálogo 31ª Bienal, p. 242)

Giuseppe Campuzano, Carnet, 2011. Fotografias para documento de identidade.

Entre tantas obras e tantos coletivos, o artista argentino León Ferrari (1920-2012) e sua parceria de quinze anos com o coletivo Etcétera, criado em 1997. A obra de León “Palavras Alheias: conversas de Deus com alguns homens e de alguns homens com alguns homens e com Deus”, de 1967, vem do combatente artista ateu que empunhou suas mãos à criação de obras que denunciassem responsabilidades, principalmente da igreja católica durante a ditadura militar da Argentina. Seu filho, Ariel, faz parte da lista dos 30 mil desaparecidos desse período. O elo entre o artista renomado e o coletivo vem do conhecimento do passado à obra contemporânea Errar de Dios, no corpo objeto da violência

León Ferrari e Coletivo Etcétera, 2014.

Referências:

31ª Bienal (Catálogo e Guia), Como (…) coisas que não existem, 2014.

Blog do IMS, por Carla Rodrigues http://www.blogdoims.com.br/ims/profissao-professor-proanacao-carla-rodrigues

Paraná 247, por Mário Sérgio Cortella http://migre.me/qqRR7

Revista CULT junho 2015, n. 202, ano 18. O Terrorismo poético, Peter Pál Pelbart por Heitor Ferraz, p. 10-15.

Revista CULT, agosto 2013, ano 16, n. 182. Pela responsabilidade intelectual e política, Marilena Chauí por Juvenal Savian Filho.

Por que o 29 de abril de 2015 “não terminou” para os professores do Paraná

Quatro anos do massacre dos professores do Paraná