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Série Gontran Netto e as parcerias com Historiadoras II: o encontro com Edna Prometheu

22 jan

por Gisele Miranda

A Edna é uma pernambucana séria e consequente! Absolutamente séria! A Edna tem autonomia política para me representar porque ela encontra todo mundo (…) ela também pinta. É autêntica… ela tem uma pintura ingênua. (Gontran Netto, áudiovisual 8 jan. 2003)

A historiadora Edna Prometheu sempre esteve na boa memória do artista Gontran Netto como uma mulher de luta que o representou e ao Grupo Denúncia ao expor o conjunto de pinturas Sala Escura da Tortura.*

Edna esteve no comando da Sala Escura da Tortura no Fórum Social em Porto Alegre em 2003 e 2005, posteriormente foi para o Museu do Ceará em Fortaleza, em seguida para o Memorial da Resistência de São Paulo (antigo DOPS) até acompanhar a Comissão Nacional da Verdade do Brasil (2011 a 2014). Sem contar as intervenções da potente Edna no meio político, sensibilizando, debatendo, educando através da História e da Arte.

A pintura abaixo é parte de Sala Escura da Tortura e mostra a violência às mulheres presas durante as ditaduras civis e militares da América Latina – seguido dos estupros: a mais antiga arma de guerra.

Figura 1: Sala Escura da Tortura – obra coletiva realizada em 1973, em Paris, pelo Grupo Denúncia, criado por quatro pintores antifascistas: o argentino Julio Le Parc (1928-), o  brasileiro Gontran Guanaes Netto (1933-2017), o uruguaio José Gamarra (1934) e o espanhol Alejandro Marcos (1937-).

Para que as exposições acontecessem, a historiadora precisou articular muito, cavar espaços e propor conteúdos. Ela também exerceu ações com o Movimento Sem Terra, o MST; em uma das vezes levou o amigo-artista Gontran Netto que doou uma pintura “anonimamente”. Durante as entrevistas com Gontran de 2002 a 2007 (e a convivência até 2016), ele ratificou a importância de Edna nas lutas atuais e emergenciais e que foram revertidas em temas para suas pinturas, tal como o mural  Populações, ressaltando a  importância do MST.

Figura 2: Gontran Guanaes Netto, Populações (detalhe), 2001-2003. Óleo sobre tela, 2m x 2m. Arquivo GGN/GM.

Edna enfrentou a misoginia, o machismo e ameaças aquém da ignorância atiçada pela política all right. Ela sempre foi uma combatente e não baixou a guarda nem para viver sua história de amor com o cantor e compositor Belchior (1946-2017). Os ataques vieram em julgamentos que a repudiaram como intelectual colocando-a em um patamar de ojeriza para ser a companheira de Belchior – como se o artista (filósofo) fosse uma marionete. Oras, “não preciso que me digam de que lado nasce o sol, porque bate lá meu coração” (Belchior, Comentários a respeito de John, 1979)

Figura 3: Edna Prometheu e Belchior. Imagem: Jarbas Oliveira/Folhapress s-d.

Edna foi alvejada de acusações, manipulações e doutrinações enquanto companheira de Belchior e após a morte dele.  A misoginia preponderou e armou uma cilada concomitante ao cenário político do golpe que tirou a presidenta Dilma Rousseff (2016). O coro de impropérios dilacerou duas grandes mulheres. Por mais que elas tenham resistido suas entranhas foram sendo carcomidas, mas regeneradas dia a dia pela Memória e pela História – embuidas de lutas em prol da civilização e cultura, tal como o mito de Prometheu. Não foi à toa que Edna Assunção de Araújo tornou-se Edna Prometheu, sobrenome artístico que cunhou ao longo de sua jornada à condena por emanar a liberdade e o amor visando as artes e as ciências.

Prometheu de Ésquilo, George Byron, Johann Schlegel, Beethoven ao “Prometheu mal acorrentado” de André Gide embalam na poética de Belchior:

(…) Anjo, herói, Prometheu, poeta e dançariano. A glória feminina existe e não se faz em vão! E se destina à vida, ao gozo, a mais do que a imaginação o louco que pensou a vida sem paixão… (Belchior, Primeira Grandeza, 1987.)

(*) Sobre a obra coletiva Sala Escura da Tortura: https://tecituras.wordpress.com/2023/11/01/sala-escura-da-tortura/ Em 2011, o conjunto de pinturas esteve sob curadorias de Lucia Alencar & Gontran Netto.

Santa Helena e Unilabor

18 nov

por Gisele Miranda

Geraldo de Barros (1923-1998) teve um elo importante com a fotografia, o  que o levou a vinculação com o Foto Cine Clube Bandeirantes desde sua criação, em 1952, momento em que esteve em contato com Thomaz Farkas (1924-2011) e German Lorca (1922- 2021).  

Geraldo de Barros, Fotoforma, c. 1949. Fotografia em papel de gelatina/prata (cópia a partir do negativo recortado, prensado entre duas placas de vidro) Foto Família Geraldo de Barros. https://www.geraldodebarros.com/main/

Na pintura, Geraldo esteve ligado a Clovis Graciano (1907-1988), Colette Pujol   (1913-1999), entre outros. Ele também criou a UNILABOR (Cooperativa de Móveis, 1954), em parceria com freis dominicanos para ser um local onde o artista tivesse uma  preocupação social.

Unilabor (detalhe) espaço de trabalho. Foto Família Geraldo de Barros. https://www.geraldodebarros.com/main/

Na Unilabor, Geraldo contou com a assistência do jovem pintor Gontran Netto (1933-2017), na época com 21 anos, autodidata, filho e neto de boias frias.

Uma fase importante da minha vida na UNILABOR (…) recebi a visita do frei dominicano João Baptista, recém chegado da França onde participou de experiências como padre operário. O frei me propôs participar de uma comunidade (ou cooperativa). Expôs o seguinte: -Temos informações sobre você (talvez passadas pelo professor Agostinho) e cremos que você seria a pessoa adequada para ajudar nesta tarefa. Sabemos de suas tendências comunistas e por isso teríamos alguém com tais atributos.’ (GGN, Relatos de uma Existência, 2010)

Na Cooperativa, Gontran teve o aval de Geraldo de Barros para ser assistente de Clóvis Graciano em um painel no Aeroporto de Congonhas, em 1954, para o IV Centenário da cidade de São Paulo. O painel Trabalhadores foi uma parceria de Clovis com Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976). Essa pintura é parte do acervo artístico do aeroporto de Congonhas e encontra-se no espaço “pavilhão das autoridades”. Esse painel esteve no abandono e foi restaurado, mas continua sob acesso restrito às visitações por agendamentos de acordo com cada mudança política.

Clóvis Graciano e Di Cavalcanti. Os Trabalhadores. 3,5 x 16 m, 1954. Pavilhão de autoridades, Aeroporto de Congonhas. SP. In: Portal de periódicos UDESC. Florianópolis.

Há um outro painel de Clovis Graciano mais acessível, Operários, de 1960, na Avenida Rubem Berta que quase foi destruído por uma ação política, em  2017. Felizmente, a política do apagamento foi embargada.

O painel é a forma mais democrática da pintura. O governo, se quisesse, poderia mandar pintar painéis em logradouros públicos, como estações, campos de esporte, etc. É uma forma de levar a arte ao povo, de imortalizar momentos históricos, de maneira a que todos tenham possibilidades de vê-los. A tela pertence a uma minoria. O painel a todos quantos queiram vê-lo. (Clóvis Graciano, 15 jan. 1969. In: São Paulo Antiga)

Graciano fez parte do grupo Santa Helena (1935), ou seja, um grupo de artistas envolvido em diversas atividades para o próprio sustento. Após o horário de expediente eles se encontravam para pintar, debater técnicas e criticar o grupo da Semana de Arte de 22 em sua ‘aristocracia’ e seu ‘intelectualismo’.

No Santa Helena, os artistas eram proletários, imigrantes ou filhos de imigrantes. Todos tinham um trabalho de subsistência, de pintores de paredes e frisos, mecânicos, bancários, professores, figurinistas, cenógrafos, para manterem seus encontros na pintura. Eram eles, Alfredo Volpi (1896-1988), Francisco Rebolo (1902-1980) e Mario Zanini (1907-1971), Aldo Bonadei (1906-1974), Manoel Martins (1911-1979), Alfredo Rizzotti (1909-1972), Humberto Rosa (1908-1948), Fulvio Pennacchi (1905-1972) e Clovis Graciano. As temáticas e as técnicas eram diversificadas, mas a luta diária, os uniu.

Gontran Netto depois de seus 70 anos reiterou inúmeras vezes a dificuldade de “ser um caipira intelectual”, como se um não permitisse o outro. No grupo Santa Helena também houve um conflito semelhante: “ser um proletário intelectual.” Vingou o melhor dos temperos, mas o conflito foi inevitável e necessário.

Bonadei foi, segundo o crítico de arte Jacob Klintowitz, “o mais intelectual do grupo (…) formação erudita e um dos primeiros da arte abstrata no Brasil.” (Grupo Santa Helena. In: Enciclopédia Itaú Cultural).

Bonadei, Composição com Garrafa, 1955. Óleo sobre tela,
72,50 cm x 59,50 cm. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra2120/composicao-com-garrafa

Julio Le Parc, o Alquimista

14 nov

por Gisele Miranda

Julio Le Parc (1928-) é um artista Cinético. Ele incorporou sua “alquimia” aos estudos de László Moholy-Nagy (1895-1946) e a teoria de Alfréd Kemény (1895-1945) e fertilizou a Arte Cinética, trinta e oito anos depois com a criação do GRAV – Groupe de Recherche d´Art Visuel, em 1960, dos quais foram membros: Horacio Garcia-Rossi (1929-2012), François Morellet (1926-2016), Francisco Sobrino Ochoa (1932-2014) e Jean Pierre Yvaral (1934-2002).

As experiências foram observadas em temporalidades e técnicas justapostas. Da importância do ‘ar’ através dos móbiles de Alexander Calder (1898-1976) nos anos de 1950, em meio a fabricação de brinquedos para resgatar o lúdico pela fonte de energia natural e com as cores de Piet Mondrian (1872-1944) e Joan Miró (1893-1983). Nessas metamorfoses foram criadas as intervenções vibratórias, a energia (seja natural ou não), do pictórico ao escultural de Jesús Rafael Soto (1923-2006), Carlos Cruz-Diez (1923-2019), Liliane Lijn (1939-), Martha Boto (1925-2004), entre outros, até Le Parc interferir com sua premissa da Luz – seus efeitos e as intervenções transformadas em parcerias anônimas de pessoas que vão ao seu encontro. Ou seja, uma parceria ativa de “forças que se desenvolvem por iniciativa própria” (STANGOS, 1981, p.153) até a abdicação do ego em prol dessa parceria.

São vieses que obviamente compõem leituras e questões associativas para a criação do conceito do GRAV, que primou pela interferência, conjugada a experiência do artista que cede o espaço para a criação em fluxos intensos e singulares – a imagem que surge com o movimento ou o movimento cria uma forma no espaço com as variantes inesperadas sob efeito da luz.

Le Parc não se eximiu de suas responsabilidades sobre as guerras do Vietnã e da Argélia. Ele viveu em Paris no auge de maio de 1968, em um momento histórico da França com as participações de intelectuais como Michel Foucault, Simone de Beauvoir, Jean Paul Sartre, Félix Guattari, Gilles Deleuze, entre outros – nas ruas, nas manifestações com os estudantes, exilados, operários e camponeses.

As premiações têm assinaturas importantes contra as ditaduras militares que assolaram a América Latina dos anos de 1960 a 1980. Contudo, ele foi percebendo que o GRAV, depois que conseguiu a consagração, não primou pelas causas necessárias que nunca abandonou.

Esse foi o momento em que Le Parc viu em Gontran Netto (1933-2017) uma parceria que se desdobrou no Grupo de Pintores Antifascistas e no Grupo Denúncia. O alquimista cinético quando precisou ser um Realista para retratar os torturados em Sala Escura da Tortura, o fez desde as fotos às pinturas sem ferir sua opção pela Arte Cinética ou sua essência geométrica e concretista.

Julio Le Parc prefere designar seus trabalhos de “Experiências ou Alquimias” e não, Obras. Suas Alquimias germinam na Arte Contemporânea e na Arte Conceitual, vindas de um processo desde jovem quando uma professora sugeriu para a sua mãe que o matriculasse em uma Escola de Artes.

O jovem argentino de Mendoza mudou para Buenos Aires, onde estudou e trabalhou para se manter. Pouco depois, entrou na Universidade de Artes em um período de grandes reformas do primeiro governo peronista, de 1946 a 1955. Os estudantes interferiram no processo educacional e mesmo sem recursos, chamaram artistas para implementarem uma nova estética no espaço acadêmico, assim como participaram do processo de seleção dos professores e a compor trabalhos com eles.

Lúcio Fontana teve um grande peso na formação de Le Parc como professor e amigo. Lúcio abriu espaços, além da pintura, através do geometrismo, do objeto e das cores. Depois, Le Parc fez experiências com eletricidade, montou e desmontou objetos até adquirir um olhar desde a Arte Concreta à Arte Cinética, a partir do coletivo GRAV.

Quando Le Parc consegui uma bolsa de estudos para se aperfeiçoar em Paris, logo se adaptou as movimentações da França frente às mudanças que reverberaram no início dos anos de 1960. Nessa época ele já havia se tornado um proeminente artista franco-argentino e a obter respeito que lhe valeu inúmeras exposições importantes e a premiação na 33α Bienal de Veneza, se sobrepondo, no auge da Pop Art, a Roy Lichtenstein, em 1966. (Julio Le Parc. In: 100 anos del Museo de la Cárcova, 21 set. 2021)

Vale lembrar que em 2016, Le Parc & Gontran Netto realizaram uma Conversa – do ateliê de Le Parc em Paris para alunos de Artes Visuais do Paraná (1), concomitante, a homenagem da Bienal de Curitiba 2015-2016 ao artista franco-argentino (2). Abaixo, duas intervenções nas alquimias de Le Parc.

(1) Em fevereiro de 2016, Julio Le Parc & Gontran Netto nos deram a honra de uma “Conversa” na UEM – Universidade Estadual de Maringá. A proposta previa a interação dos alunos de Artes Visuais, Arquitetura, Moda, Design, História e Artes Cênicas da UEM. Mas infelizmente não nos foi concedido um espaço para tanto, reduzido para dez pessoas, além dos difíceis recursos tecnológicos adaptados ao ateliê de Julio Le Parc, em Paris (programa NEAD da UEM). Um dia antes da “Conversa”, o estúdio cancelou o nosso encontro, que seria em dezembro de 2015. Remarcamos, por fim, aconteceu em janeiro de 2016. No final, o responsável pelo estúdio “esqueceu de ligar a câmera”.

(2) Bienal Internacional de Curitiba  3/10/2015 a 14/02/2016 no Museu Oscar Niemeyer – Julio Le Parc foi o artista homenageado Bienal Luz do Mundo, curadoria geral de Teixeira Coelho.

Gontran Netto & Julio Le Parc: amizade, parceria artística e política

14 nov

por Gisele Miranda

LE PARC, meu mais fiel e melhor amigo. Ele é o maior inimigo dos meus defeitos e dos meus fantasmas (…) Nós estávamos com a pretensão de poder um dia ver o mundo mudar em benefício dos deserdados. Algumas vezes nós conseguimos alguns resultados e deixamos a nossa marca sobre coisas concretas como o Museu da Palestina, Museu da Nicarágua, Museu Contra o apartheid, Museu Salvador Allende e etc. (GGN, áudio visual, 7 jan. 2005)

O pintor Gontran Guanaes Netto (1933-2017) e o amigo alquímico Julio Le Parc (1928) tiveram uma parceria por quase meio século, de 1970 a 2017. Seus trabalhos são distintos, mas suas cores se encontraram na luta antifascista e anticolonialista.

Fig. 1: Julio Le Parc e Gontran Guanaes Netto, Paris, década de 1970.

De 1970 a 1985, estiveram diariamente em Coletivos de Pintores Antifascitas e em inúmeras viagens para exposições coletivas em outros países: exposições com caráter estético-político. Destaque para as ações de protestos na Bienal de Veneza, em 1972-1973: Fundamos, a convite da Bienal de Veneza, a Brigada Internacional de Pintores Antifascistas. (GGN, manuscrito, 2010) O ano de 1973, foi de consternação pelos golpes militares no Uruguai e em seguida no Chile.

Quando Gontran retornou ao Brasil, em 1985, na abertura democrática brasileira, não houve estremecimento na amizade porque a maturidade foi construída – eles ficaram sete anos distantes  Mas, por que Gontran voltou ao Brasil no auge de sua carreira na França? Voltou “para impor – pela  força de um ato de testemunho” (NEGRI, 2001: 17) O retorno ao Brasil teve a coerência das ações políticas em parceria com Le Parc.

Le Parc saiu de Paris e por um dia que esteve em São  Paulo foi direto para o meu ateliê… Le Parc é um argentino irônico, cético e racional, mas quando se abalava dava lugar a um lado sensível. Eu era mais sensível e intuitivo, mas sempre utilizando argumentos e exemplos concretos… às vezes, a obra se empalidecia  para justificar os dogmas aleatórios, mesmo com toda a capacidade de trabalho. (GGN, áudio visual, 7 jan. 2005)

O reeencontro se deu em 1992, depois eles não se permitiram mais o distanciamento. Mantiveram-se em contato através de ligações e algumas viagens entre o Brasil e a França. Também, muitas reminiscências ratificando o laço forte dessa amizade.  Em 2002, o amigo argentino dedicou-lhe o poema Cores:

As cores da Esperança

Quando o ser humano vem a ser cores, Quando a cor vem a ser forma humana, Quando o ser humano este ligado à terra,

Quando o camponês da terra faz brotar seus frutos, Quando estes frutos são usurpados,

Quando esta usurpação gera a miséria, Quando esta miséria gera revolta, Quando esta revolta é reprimida,

Quando esta repressão obedece a uma ordem, Quando esta ordem é a ordem dos outros,

Quando estes outros acreditam ser proprietários do mundo, Quando este mundo se mundializa em detrimentos da maioria,

Quando esta maioria, eles os camponeses, vem a ser os ‘Damnés de la Terre’.

Quando Netto (Le Parc) com sua caixa de cores está presente,

Quando eles ‘ Les Damnés de la Terre’, estes camponeses (desaparecidos) brasileiros (argentinos), mesmo na pior situação, carregam neles, extremamente e internamente suas cores,

Quando suas cores são aquelas da dignidade, Quando suas cores são aquelas da luta, Quando suas cores são aquelas da esperança,

Quando suas cores são aquelas da alegria que não se deve apagar, Quando na caixa de cores de Netto (Le Parc) passa a ser ativa,

Quando suas cores passam a ser militantes, mas autônomos, elas fazem sua revolta, Quando esta revolta em cores vai ao encontro da justa revolta ‘ Damnés’,

Quando a mesma não passa pelo miserabilismo, nem pela obscura e sombria derrota, nem pela prostração e aniquilamento, mas sim

Pelo desejo e o direito à vida – As cores estão presentes,

Quando estas cores estão presentes no olhar de Netto (Le Parc), no seu coração, na sua primeira sensibilidade, na sua cabeça

Que põem em ordem, as cores passam a ser forma e fé no homem,

Quando tudo que está ancorado no mais profundo de seus ‘ Domnés de la Terre’ e no Netto- Le Parc, Pintor – homem, é evidente que venha a ser figuração,

Quando estão pela intermediação de Netto-Le Parc, com esta forte presença – cor, nós não podemos nos esquivar e nós somos também fortemente envolvidos,

Quando esperança não desaparece, quando a esperança cresce os quadros de Netto-Le Parc permanecem.

Ao ler o poema em voz alta, os olhos de Gontran que já eram grandes ficaram ainda maiores. Riu e lacrimejou ao rememorar o amigo que o chamava de “brésilien, mangeur de banane”. Em seguida lembrou de outra intervenção de Le Parc ao pedir-lhe que escrevesse um texto para uma publicação e respondendo ao seu próprio pedido com a seguinte ironia:

Se você estiver muito velho, sem condições de escrever eu sugiro o texto que eu fiz sobre você {O poema Cores}. A gente troca onde está escrito ‘para Netto’, você coloca ‘para Le Parc’.

Fig. 2: Gontran Guanaes Netto. Os donos da terra (homenagem a Julio Le Parc) Série de doze pinturas, 20022011. Óleo sobre tela, 100 x 100 cm.
Fig. 3: Julio Le Parc. Série 14-5E. Acrylico sobre lienzo 171 x 171 Cm, 1970.

Veja Gisele, pelo texto e a significação do texto é um dos maiores elogios que eu já tive, porque mostra que o texto serve parar mim e para ele.” (GGN, áudio visual, 7 jan. 2005)

Fig. 4: Julio Le Parc e Gontran Guanaes Netto. Ao fundo uma serigrafia de Le Parc baseada em uma pintura de Gontran Netto. França, 2014.

De 1985 a 2010,  Gontran viveu no Brasil. Às vesperas de seus 78 anos ele decidiu voltar a França, também para estar ao lado do amigo Le Parc. Pouco antes de sua partida escreveu “autobiografia de um artista bem sucedido”:

A proximidade dos meus 80 anos e na circunstância do meu retorno a França, sinto- me obrigado a remover a Casa da Memória (*) para outro local. Foi necessário dar uma nova ordem a apresentação dos quadros. Eles marcaram tomadas de posições sobre acontecimentos diversos, tais como: o neocolonialismo 1970-1973, Chile, Vietnã, imperialismo, Palestina, racismo, etc. (…) Ao mesmo tempo me vejo retornando a França com entusiasmo redobrado e com a pretensão de continuar oferecendo novas perspectivas e enriquecer os mesmos objetivos. (GGN, São Paulo, 15 de outubro de 2010)

Em 2017, aos 84 anos. Gontran Guanaes Netto faleceu em Cachan, França.

(*) Gontran abriu a sua Casa-Ateliê aos jovens estudantes de 2007 a 2010, transformando-a em Casa da Memória Coletiva, entre 2007-2008.

O último Poema

2 nov

por Gisele Miranda

Por causa do estupro cometido pelos torturadores, eu fiquei grávida e abortei na cadeia. Sofri choques elétricos, fui pendurada, posta no pau de arara, “submarinos” [ameaça de afogamento], simulação de fuzilamento, queimaduras com charutos (…) sofri estupro e assédio sexual com cães, a introdução de ratos vivos pela vagina e todo o corpo.

&

Obrigaram-me a ter relações sexuais com meu pai e irmão que estavam detidos. Também a ver e escutar as torturas de meu irmão e pai. Puseram-me na churrasqueira, fizeram cortes com facão na minha barriga. Eu tinha 25 anos.

(Relatos à Comissão da Verdade do Chile, 1990-1991/2004-2005: apuração dos crimes cometidos de 1973 a 1990. El País, Santiago, 11 set. 2019.)

Pouco antes do golpe militar no Chile, em 1973, o Museu de Arte Moderna foi pensado entre 1971-72, pelo então presidente Allende (1908-1973), a partir dos proponentes intelectuais e artísticos de vários países sob a liderança de Mario Pedrosa (1900-1981). No entanto, o Museu tomou um rumo diferente após o golpe militar, passando a ser um Museu de Resistência e Solidariedade. Gontran Netto (1933-2017) colaborou com a doação de “La Prière” (1), em 1973, concomitante, pintou “Chile 1973”

Gontran Guanaes Netto. “Chile 1973″. Óleo sobre tela 70 x 140 cm. Acervo da família/ Arquivo GGN/GM.

Com a morte de Allende, em 1973, o ditador Augusto Pinochet alinhou-se a um domínio sul-americano de muitas mortes. De 1973 a 1990, Pinochet manteve-se com um discurso neoliberal de privatizações e da educação controlada coadunada à visão do golpe; paralelamente, manteve estreitos laços com a Colonia Dignidad (fundada em 1961), comandada por um ex. suboficial nazista, Paul Schäfer. No local, praticavam-se estupros em crianças e mulheres. Os jovens presos políticos transferidos à Colonia tornavam-se cobaias para experimentos.

Os relatos de torturas são também calcados na experiência ditatorial do Brasil, desde 1964. Podemos incluir o Paraguai de 1954-1989, Bolívia de 1964-1982, o Peru de 1968-1980 e o Uruguai de 1973- 1985, três meses antes do Chile.

O artista Víctor Jara (1932-1973), professor de artes cênicas, poeta, músico tornou-se uma referência histórica e memorial sobre a violência durante a ditadura militar de Pinochet. Víctor foi um dos professores, junto com os alunos a ocupar a Universidade Técnica do Estado (UTE). Com um violão, ele cantou até ser detido e levado ao famoso campo de concentração do regime, o Estadio Chile, que em 2003, passou a se chamar Estadio Víctor Jara – marco de resistência contra o período da ditadura militar.

Testemunhas que estiveram com Víctor Jara no dia 16 de setembro de 1973, relataram à Comissão da Verdade que antes dele ser assassinado a tiros, os algozes  destruíram as suas mãos e lhe deram um violão para tocar.

Horas antes do ocorrido, Víctor conseguiu um papel e uma caneta com um amigo também detido no Estádio. Víctor Jara escreveu seu último poema.

Somos cinco mil

nesta pequena parte da cidade. Somos cinco mil.

Quantos seremos no total, nas cidades e em todo o país?

Somente aqui, dez mil mãos que semeiam e fazem andar as fábricas.

(…) Seis de nós se perderam

no espaço das estrelas.

Um morto, um espancado como jamais imaginei que se pudesse espancar um ser humano.

(…) Que espanto causa o rosto do fascismo! Colocam em prática seus planos com precisão arteira, sem que nada lhes importe.

O sangue, para eles, são medalhas. A matança é ato de heroísmo.

(…) O sangue do companheiro Presidente golpeia mais forte que bombas e metralhadoras. Assim golpeará nosso punho novamente.

Como me sai mal o canto

quando tenho que cantar o espanto! (…) O que vejo nunca vi,

o que tenho sentido e o que sinto fará brotar o momento (…)”

(Victor Jara, Estádio de Chile, 16 setembro de 1973). (2)

O último poema de Víctor Jara se transformou no Festival anual Víctor Jara, ou seja, cultura, educação, arte, história e memória do Chile Livre.

No mais, há de se debruçar sobre o tempo de apuração e os testemunhos. No Chile a Comissão da Verdade se deu no final da Ditadura Militar. No Brasil, a Comissão da Verdade se deu após vinte e sete anos após o término da ditadura.

Em 1991, um ano após a saída de Pinochet, a Comissão da Verdade do Chile apurou 3.065 mortes de jovens e 40 mil pessoas torturadas. Foram 17 anos de lavagens de dinheiro público e tráfico de cocaína no Exército. Pinochet manteve-se intocável até ser preso, aos 82 anos, em Londres enquanto tratava de problemas de saúde. Ele ficou em cárcere  domiciliar por crimes contra a humanidade. Em 2018, por decisão da justiça chilena, a família de Pinochet devolveu parte do dinheiro roubado dos cofres públicos do Chile.

(1) Sobre “La Prière” ou “A Oração” V. Série Retecituras V: Gontran Guanaes Netto e o seu manifesto pelo Chile https://tecituras.wordpress.com/2010/08/17/serie-retecituras-v-gontran-guanaes-netto-e-o-seu-manifesto-pelo-chile/

(2) “Somos cinco mil aquí. En esta pequeña parte de la ciudad. Somos cinco mil. ¿Cuántos somos en total
en las ciudades y en todo el país? Somos aquí diez mil manos
que siembran y hacen andar las fábricas. ¡Cuánta humanidad
con hambre, frío, pánico, dolor,
presión moral, terror y locura! Seis de los nuestros se perdieron
en el espacio de las estrellas. Un muerto, un golpeado como jamás creí
se podría golpear a un ser humano. Los otros cuatro quisieron quitarse todos los temores,
uno saltando al vacío,
otro golpeándose la cabeza contra el muro,
pero todos con la mirada fija de la muerte. ¡Qué espanto causa el rostro del fascismo! Llevan a cabo sus planes con precisión artera sin importarles nada.
La sangre para ellos son medallas.
La matanza es acto de heroísmo. ¿Es éste el mundo que creaste, Dios mío?
¿Para esto tus siete días de asombro y trabajo? En estas cuatro murallas sólo existe un número que no progresa.
Que lentamente querrá la muerte. Pero de pronto me golpea la consciencia
y veo esta marea sin latido
y veo el pulso de las máquinas
y los militares mostrando su rostro de matrona lleno de dulzura.¿Y Méjico, Cuba, y el mundo?
¡Qué griten esta ignominia! Somos diez mil manos que no producen.
¿Cuántos somos en toda la patria? La sangre del Compañero Presidente
golpea más fuerte que bombas y metrallas. Así golpeará nuestro puño nuevamente.
Canto, que mal me sales
cuando tengo que cantar espanto. Espanto como el que vivo, como el que muero, espanto. De verme entre tantos y tantos momentos del infinito
en que el silencio y el grito son las metas de este canto. Lo que nunca vi, lo que he sentido y lo que siento
hará brotar el momento.”

A Catedral do Povo

31 out

por Gisele Miranda

É o jogo da bola  e o povo enfrenta (…) os guardas pela frente

o pau quebrando (e a Fiel comparece)

o povo paga sempre… Coringão, Coringão.

(PALLOTTINI, Renata. Onze contra onze. 1973)

Em 1990, o artista Gontran Guanaes Netto (1933-2017) recebeu um convite do Metrô de São Paulo para pintar sua segunda estação, a Corinthians-Itaquera. Durante o tempo em que esteve trabalhando residiu em um apartamento da Cohab no entorno da estação para interagir como os moradores da região e elaborar símbolos reconhecíveis e corroborados através das cores.

A estação tornou-se símbolo da Democracia e dos pés descalços. Gontran fez a bola como o sol, a lua cheia, um enrolado de meias sem pares e de pura imaginação.

A Catedral do Povo fez bater novamente o coração do artista corinthiano adormecido no exílio (1969 a 1985), vindo à tona pela força da Democracia Corinthiana bandeira do dr. Sócrates Brasileiro de Oliveira (1954-2011), Casagrande (1963-), entre outros, desde 1980.

Gontran Guanaes Netto, Catedral do povo, 1990, painel 1, estação Corinthians-Itaquera/SP. 2m x 13m. Acervo Artístico do Metrô de São Paulo.

Após o término dos painéis, Gontran deixou um Caderno para comentários. A frase mais repetida: “Todo o artista tem que ir aonde o povo está”, trecho da música, Os bailes da vida, de Milton Nascimento e Fernando Brant, de 1981, uma das músicas mais cantadas durante as manifestações pelas Diretas Já (1983-1984).

As diversas escritas de apoio ao artista e sua arte atingiram vários aspectos, a tônica da sensibilidade, da beleza, do sentimento de brasilidade, de pertencimento e da comunicação poética. Entre as frases, alguns destaques:

a) Apesar dessa humanidade desumana, apesar desta correria do dia a dia, apesar desta crise do país. podemos olhar para os quadros e sonhar com um paraíso, criado por você.” (Gabriela, 19 fev. 1990, p. 17. Arquivo GGN/GM)

b) No meio desta cidade louca, aqui é como se fosse a varanda de um lugar gostoso, Que devo atravessar para chegar no meu canto. (Julis, 20 fev. 1990, p. 20. Arquivo GGN/GM)

c) Ao pintor: Sou um passageiro. Tenho fome, sinto raiva, medo e frio. Não tenho paredes, o que seria fundamental para se ter quadros. Mesmo assim, como fomos possivelmente parecidos, vejo na sua arte a minha cara. (Rinaldo Campos, 10 fev. 1990, p. 2. Arquivo GGN/GM)

Por fim, o destaque da face de “Deus” aliada ao trabalho do artista. Gontran refletiu sobre essa questão pelo prisma histórico:

A pintura pela associação das paredes, das igrejas, das catedrais… para o povo tem um caráter mágico ou místico ou move… como eu acredito na pintura ancestral desde os homines sapiens, na caverna quando pintavam para caçar o bisonte para ter coragem de matar o bisonte… para sobreviver… para compartilhar. A pintura venceu o medo. (Gontran Netto, áudio, 1 mai. 2003. Arquivo GGN/GM)

O TECER dos 13 anos do Blog TECITURAS (2010-2023)

30 out

por Gisele Miranda, Lia Mirror & Laila Lizmann

O Blog Tecituras nasceu nas paredes de um quarto – gestado e parido. As palavras foram esculpidas, ora na pena, ora com as unhas. O caos, a dor e a “solidão do porvir de poucos” atentou que a “consciência sobrevive a qualquer circunstância”. As incisivas palavras são do artista Gontran Guanaes Netto (1933-2017), amigo, professor e tutor.

Gontran Netto nos deu a honra de sua colaboração no Tecituras com suas obras e suas reflexões, seus escritos e interferências.

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A homenagem dos 13 anos do Tecituras vem de um conteúdo Histórico, Artístico, Crítico e Político. De conteúdo imaterial, inquietações do pensamento à escrita com o objetivo de compartilhar conhecimentos, experienciar e zelar pelos bens culturais, com colaboradores – com ou sem vínculos acadêmicos e com uma bagagem de textos não perecíveis ao tempo, atualizados, conscienciosos de sua necessidade, por isso, nossa justa homenagem a Gontran Guanaes Netto. Há inúmeros textos sobre sua arte, sua luta, além de tutelar um pequeno espaço tecido ao longo desses anos com pesquisas sobre as obras de Antonio Peticov, Emmanuel Nery, Paschoal Carlos Magno, entre outros temas.

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O conteúdo artístico faz uma grande diferença. O conteúdo crítico é uma filtro necessário frente a educação da exclusão. Dessa homenagem tecemos reverência ao ofício dos professores em situações de risco e pobreza.

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Nosso Brasil tão diverso, nascido de um histórico de pura violência, dos séculos de escravidão, da exclusão, dos preconceitos. Esses séculos não foram sanados, tão pouco, os 21 anos de violência da ditadura civil e militar no Brasil, porque não há consciência histórica.
As ditaduras devastaram toda a América Latina, torturaram, violentaram, reprimiram, subornaram, difamaram e mataram. Toda essa herança resiste cada vez mais, estratificada nos professores, na moral da violência e da submissão material, na baixa remuneração, na ausência dos livros, das leituras, do tempo, das escritas à “missão impossível”.
Entre a teoria, o discurso frio e confortável há o extremo da prática nada confortável. Entre as fases antagônicas existem mais falas sujas, oportunas e arrogantes. Sem dúvida, a figura opressora tem cúmplices entre os próprios oprimidos. (1)

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Entre os traumatizados há sobreviventes, independente da indexação, do conforto, da assepsia, da insensibilidade, do apodrecimento, dos muros onde os discursos, principalmente econômicos falam mais alto, não por acidente, mas por natureza.

(1)  BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo Vol 2: A Experiência Vivida, Difusão Européia do Livro, 1967. “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.

(2)  DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Ed. 34, 2010, p. 221. 

Movimento Realista, parte I

10 jan

O Movimento Realista na França tem seu enfoque histórico na primeira metade do século 19, movido pelas grandes revoluções do século 18, valorizado em parte pelo Romantismo Histórico (*) que floresceu através da literatura, música, pintura e do teatro. Também foi fruto da crise do Neoclassicismo nas primeiras décadas do século 19, findando com as perdas do movimento operário à entrada dos movimentos de vanguarda.

O século 19 foi positivista nos territórios de controle jurídico e médico, inseriu o Romantismo Histórico de Victor Hugo (1802-1885), Dostoiévski (1821-1881), entre outros, e interferiu no Realismo de Delacroix (1798-1863) e Courbet (1819-1877) ao resgatarem os populares e a presença de mulheres nos processos de lutas e transformações. Vide a famosa Marianne na obra de Delacroix, A Liberdade guiando o povo, de 1830, reinventada no Realismo Político do pintor brasileiro Gontran Guanaes Netto, em 1989, nos 200 anos da Revolução Francesa.

Delacroix, a liberdade guiando o povo, 1830
Eugéne Delacroix (Saint-Maurice, França,1798 – Paris, França,1863) Óleo sobre tela, 2,60 m x 3,25 m. Louvre, França.

A mulher partícipe dos Direitos Humanos, a partir de 1789, vem das ruas, do povo, do público e não dos retratos de nobres. Mesmo não sendo obras pintadas por mulheres há destaque de suas participações.

Gontran-Guanaes-Netto, 1989 A liberdade guianando o povo, 1989.
Gontran Netto (1933-2017) A Liberdade guia o Povo, 1989. Óleo sobre madeira, 2,0 x 2,0 painel I – Marianne. Metrô São Paulo, estação Marechal Deodoro.

No Brasil, o Romantismo foi disseminado em meados do século 19, na literatura e no teatro de renomados à uma clandestinidade própria da cultura popular. No âmbito do teatro, a mudança dos atores negros escravizados que se mascaravam de brancos, por ser um ofício pouco valorizado. Vieram companhias importantes como de Sarah Bernhardt (1844-1923) e Eleonora Duse (1858-1924) que se apresentaram em francês e Italiano nas altas rodas da Monarquia à República, ou seja, apresentações quase particulares. Quando aberto ao grande público:

Um grande teatro… murmúrios ininterruptos na platéia e nos camarotes, do princípio ao fim da peça… sem falar nas dificuldades da lingua italiana, ao lado dêsse português tão rude, e do brasileiro ainda pior… (Eleonora Duse. IN:Abreu, 1958, 14)

De meados do século 19, às duas primeiras décadas do século 20, houve a transformação de alunos Neoclassicistas e do Academicismo histórico, para os caipiras, os violeiros e os picadores de fumo; seguido por uma virada vanguardista conhecida como a Semana de Arte de 1922, em que o Movimento Modernista assumiu elementos dos movimentos da vanguarda europeia e agregou aos valores culturais brasileiros, o nacional (antropofágico) e o internacional vanguardista.

O Realismo ligado ao movimento operário no Brasil ecoou na década de 1930, através de Di Cavalcanti (1933), embora o nome de Lívio Abramo, anteceda com suas gravuras de militância e preocupação social:

É ele o primeiro artista, ao que se saiba, a transpor para xilo o tema da luta de classe: o operário na fábrica, o operário coletivamente em protesto, a velha fábrica de tecidos com o seu perfil recortado, grades e chaminés erectas como uma infantaria em face do inimigo e em volta… o casario operário, em grupos…como troços emboscados de assaltantes (guerrilheiros)… (Amaral, 2003, 33; 38)** 

Logo, Portinari despontou em meio aos operários, camponeses e antifascistas aglutinados na Aliança Libertadora Nacional de 1935, tornando-se o pintor histórico do Brasil do século 20. (Amaral, 2003, 60). No México, o Muralismo (Realismo) de Rivera, Orozco e Siqueiros.

(*)Final do século 18 e início do século 19, o Romantismo histórico abarcou a pintura e a ressurreição Gótica ou Neogótico (verticalização das igrejas; a primeira fase Gótica se deu entre os séculos 13 e 15). O Romantismo deu sinais de seu esgotamento em meados do século 19.

Romantismo tem uma face demasiadamente histórico-filosófico via tese de doutorado de Walter Benjamin (1917-1919) – a partir dos pensadores Novalis e os irmãos Schelegel. Com eles, a discussão sobre ´cartografia dos conceitos´, através do Romantismo Alemão, tais como: “aura, modernidade, reminiscência, reflexão” (via conexão e não continuidade), entre outros. A primeira fase desse Romantismo: entre ´a religião e a revolução´, ´crítica e crítico´, ´ideia e ideal´, ´prosa e poesia´. Tb. – ´obra inacabada´-, ou seja, ´ o devir´; conceito conduzido com traquejo pelos filósofos Deleuze & Guattari.

Na perspectiva histórica do Romantismo encontram-se também: autonomia das nações; povos com suas realidades geográficas, históricas, religiosas e linguísticas; experiência vivida e a genialidade artística. No Brasil dos 1800, há forte influência dos trabalhos de Goya, Delacroix, Turner, Rodin sobre a arte de Araújo Porto Alegre, Rugendas e August Miller.

Cabe a sugestão fílmica: François Truffaut, ´A história de Adèle H´ (1975), sobre a vida e a morte – o amor que vagueia na insanidade. Adèle era a filha mais nova de literato Romântico Victor Hugo. Truffaut, brilhantemente roteirizou, a partir do diário de Adèle e dirigiu essa película, desde a sua concepção artística literária até a composição cenográfica da época (1863). Adèle Hugo é vivida pela atriz francesa Isabelle Adjani.

V. também: NAPOLEÃO (filme/ IV partes/ produção HBO), sob direção de Yves Simoneau. França, 2002, 369 min. Atores de primeira linha: Christian Clavier, notável Napoleão; Isabella Rossellini como Josephinnne, além de Gerard DepardieuJohn Malkovich.

Dos séculos antecedentes ao Romantismo Histórico, ou seja, 17 e 18, ARGAN 1992: as divisões dos conceitos Clássico X Romântico. Também, Romântico no Medievo, do Românico ao Gótico e no Barroco- em oposição ao Clássico e Neoclássico.

(**) Sugestão da Exposição: Livio Abramo, Insurgência e Lirismo na Biblioteca Mário de Andrade/SP de 7 dezembro 2016 à 12 março 2017. Curadoria e Pequeno Guia de Leitura por Paulo Herkenhoff (Org.) e Leno Veras.

Referências:

AMARAL, Aracy. Arte para que? São Paulo: Nobel/ Itaú Cultural, 2003

ABREU, B. Eleonora Duse no Rio de Janeiro (1885-1907) Rio de Janeiro: MEC, SNT, 1958.

BURKE, Peter. (Org.) A Escrita da história: novas perspectivas. Tradução Magda Lopes. São Paulo: Editora da Universidade Paulista, 1992.

GONTRAN Guanaes Netto (entrevistas-vídeo a Gisele Miranda): 04, 11 e 18/12/2002; 12/02/2003; 15/01/2003; 15/03/2003; 07/01/2005; 24/04/2005; 08/06/2006.

HOBSBAWM, Eric J. (1917-) Sobre história. Tradução Cid Knipel Moreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão; Irene Ferreira & Suzana Ferreira Borges. 2 ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1992. (coleção Repertórios)

Grito do Silêncio

24 ago

Por Gontran Guanes Netto

Nesta sala obscura e silenciosa, os gritos repercutem na consciência.

Ao penetrarmos em uma caverna pré-histórica, uma grande emoção nos invade diante das pinturas, marca indelével de humanidade. Outras marcas, através dos tempos, deixaram testemunhos diversos da presença humana. A capela Sistina nos energiza de calor humano. Através da pintura Guernica são eternizadas as testemunhas da violência exterminadora.

Ao realizarmos a Sala Escura pensamos em dar uma modesta contribuição em uma exposição limitada. Hoje, nos sentimos surpresos diante do fato de nosso impulso coletivo ter se transformado em símbolo das realidades de uma época de violências arbitrarias, movidos pelo poder do Estado.

Sala Escura da Tortura, trabalho coletivo: Gontran Guanaes Netto, Julio Le Parc, Alejandro Marco, Jose Gamarra, 1973

Atualmente, nada nos move ao apropriarmos essa Sala, mas estamos convencidos do que ela representa a apropriação de todas as consciências não omissas, motivando- as, a uma contribuição concreta para que seja admitida a necessidade de punição exemplar e definitivamente extirpar este vírus maligno.

Não podemos de nenhuma forma aceitar omissões, justificativas que isentem responsáveis das aberrações cometidas. Esta Sala silenciosa será símbolo permanente da cobrança de justiça e pesa como memória silenciosa e duradoura.

http://salaescuradatortura.com.br/

Provocativas e “Quem tem medo de Simone de Beauvoir?”

6 out

Provocativas

por Gisele Miranda

O texto Quem tem medo de Simone de Beauvoir?fez-se – em meio a provocativas, proposta de parceria do Tecituras que varia conforme a necessidade, ou seja, questões do pensamento vertendo à escrita numa plasticidade gestada (na fabricação do próprio mel – palavras, signos, paisagens… com as folhas do campo e das ervas daninhas, reverbrando Le Goff). No exercício diário do experienciar, de encontro aos muros, de verter obras e pensamentos para uma própria e necessária escrita. Não numa linguagem verborrágica, maledicente sob uma privilegiada educação, que faz da escrita um discurso fatalista do incorreto/correto, a pouca valorização do pensamento. Afinal, mais do que desigualdades, a educação convulsiona no esfarelado do patrimônio.

O verborrágico sem a temporalidade necessária incorre nas muitas impossibilidades merecedoras de criações, no entanto, desviam no conglomerado de citações rumo ao vazio, o que não deixa de ser um caminho. Ora contemporâneos e de difícil compreensão pela falta de distanciamento reflexivo, ora pelo pegajoso da facilidade; ora ou outra, o personagem asséptico ecoando uma ordenada leitura num silêncio impermeável ao diálogo, logo, no conforto e na assepsia.

Talvez, a simplicidade das palavras esteja em falta, assim como o trabalho do pensamento – lento, que desvenda e desaponta, desestabiliza porque há uma consciência encarnada num corpo humano (Merleau-Ponty), mesmo hoje, em meio à desmaterialização do espaço (por Pierre Levy) ou que o sujeito neurótico seja substituído pela falta de identidade (o esquizo de Deleuze).

Afinal, que tempo ou pensamento é esse? Tempo em que Sartre em sua irreversível velhice dizia que jamais se sentiu velho. Ele morreu em 1980, aos 74 anos, assumindo posições e reiterando que o silêncio é reacionário.

Sartre criticou o comunismo assassino de Stalin, por um Humanismo que o vitimou em estado de utopia. Em tempo de domínio marxista propôs a anarquia dos jovens ao conceito. Pela utopia criticou com veemência o papel do intelectual clássico (e asséptico), que tem seus encantos na boa escrita; mas para criticar precisou dos longos e pacientes 16 anos para o inacabado L´idiot de la famille, sobre o intelectual Flaubert, pela dificuldade de falar de Bovary, pois tinha ao seu lado, em carne e osso, Simone de Beauvoir.

Ao longo das vidas de Sartre e Beauvoir muitos nomes circularam sob críticas, embates de egos aos infortúnios; viver numa guerra é sem dúvida aterrorizador. Há os que não resistiram as guerras, como Marc Bloch, mas sua escrita subterrânea sobreviveu; assim como há os que escaparam, dificilmente sem danos por força das circunstâncias como Sartre.

Se Sartre parecia mais sensível e popularizado – o que certamente seus críticos mais ferrenhos adoram diagnosticar como melindre burguês e populista – talvez devêssemos nos deter “a sensibilidade e a inteligência não estão separadas… sensibilidade produz inteligência”. (Sartre, In: Beauvoir, 1981, p. 411)

Inteligência para discutir, atritar, conviver, enfim, trabalhar o pensamento em seus vários momentos, mas percebê-los necessários e maturados, assim com a vida de seus contemporâneos, Merleau-Ponty, Camus, Foucault, Althusser, Deleuze, entre tantos; e sensibilidade de partilhar seus dividendos para suprir necessidades de amigos, conhecidos, grupos e propostas utópicas.

Quando Sartre e Beauvoir estiveram no Brasil, em Araraquara, 1960, houve uma conhecida foto da platéia: Ruth Cardoso, Bento Prado Jr. e Fernando Henrique Cardoso.

Prato cheio para o olhar conservador (de hoje) falar do lado burguês de Sartre, o que ressoaria uma posição centro-esquerda a centro. Afinal, qual era o público de Sartre e Beauvoir? Como se não estivéssemos à beira de uma ditadura militar por longos 21 anos! Nessa mesma platéia estava o jovem pintor autodidata Gontran Guanaes Netto, filho de um boia-fria, que logo se tornaria um militante de pseudônimo André, exilado político na França, humanista e colaborador do Tecituras.

Plateia da conferência de Jean-Paul Sartre, 1960, Araraquara/SP: Gontran Guanaes Netto é o terceiro na segunda fila; primeira fila Ruth, FHC, Bento Prado Jr.

“Uns gatos mijaram em mim”, relato de Simone de Beauvoir do humano Sartre sobre sua incontinência urinária. Simone vocifera na escrita: “É terrível assistir à agonia de uma esperança”. E para fechar essa parceria Sartre e Beauvoir  atual, e por que não dizer, humana e utópica, cabe o destaque a pergunta de Beauvoir a Sartre: “Quando perdeu essa ideia estúpida de que moças que se deitam livremente são mais ou menos putas?” Sartre respondeu que aos dezoito anos caiu em si. (Beauvoir, 1981, p. 93; 406)

No mais, deixo aos leitores o exercício do pensamento de Beauvoiriana, com a licença de relembrar o seu I am not a woman writer “… sou uma pessoa que ocupa na sociedade uma posição qualquer, independente de meu gênero.”

Quem tem medo de Simone de Beauvoir? (*) por Beauvoiriana

Recentemente, tenho lido e ouvido muitos julgamentos, de teor e tom questionáveis, a Simone de Beauvoir que suscitam uma pergunta: por que sua figura e seu pensamento incomodam tanto? Sua bissexualidade, amantes, a recusa do casamento e da maternidade, a liberdade e independência em um mundo cada vez mais conservador.

Simone de Beauvoir nasceu há 113 anos. Suas obras mais influentes foram escritas entre os anos 1940 e meados dos anos 1970. O Segundo Sexo, seu livro mais importante, foi publicado em 1949. Lá se vão mais de 60 anos. Ainda hoje, muitas pessoas se recusam a ler Simone de Beauvoir porque ela era “uma libertina”. E repetem-se afirmações forjadas para atribuir a ela tudo aquilo contra o que ela lutou no plano das ideias e no plano da ação. Acusam-na de submissão, de dependência, de pregar o feminismo para as outras mulheres e não praticá-lo.

Essa resistência a Simone de Beauvoir esbarra em questões mais profundas sobre nossa sociedade: a condição da mulher, especificamente a mulher intelectual; a relação entre a experiência vivida e a escrita da memória com a subjetividade; as expectativas que recaem sobre os intelectuais. Tentarei abordar brevemente, e de forma não sistemática, alguns desses temas tendo como referência a figura de Simone de Beauvoir.

Simone de Beauvoir em seu quarto no Hotel Louisiane, Paris, 1946. Foto: Fonds Photographique Denise Bellon.

Os intelectuais vivem, obviamente transformando-se. É pouco racional ignorar que esse trabalho exige esforço.

Há quem queira invalidar o pensamento libertário e antissexista de Simone de Beauvoir baseado em sua relação com Sartre.

Simone de Beauvoir e Sartre tinham 20 e poucos anos quando firmaram um pacto que previa um relacionamento aberto. Quem propôs este pacto foi Sartre. E Simone de Beauvoir o aceitou. Logo depois, eles foram nomeados para lecionar em cidades diferentes da França. O que unia a ambos: o relacionamento sexual, amoroso, e uma afinidade intelectual que provavelmente nenhum de seus críticos ou seguidores jamais experimentou. Sartre propôs casamento a Simone. Ela recusou.

O amor necessário entre ambos sempre superou os amores contingentes. Com o escritor Nelson Algren, envolveu-se no amor romantizado e “tradicional” para sua época. Ele a pediu em casamento. Ela recusou.

Simone de Beauvoir escreveu milhares de páginas em romances, ensaios, memórias abordando esses e outros fatos. Considerada uma das maiores memorialistas do século 20.

Em cada página das memórias, a honestidade de Simone é invejável. Ela reconhece, por exemplo, as críticas mal-informadas que ela e Sartre fizeram a Freud, os enganos que cometeram em algumas avaliações a respeito de personagens e colegas durante a guerra, o fato de que, durante muito tempo, ela e Sartre, embora lutando contra os ideais burgueses, se submeteram totalmente e sem sequer perceber ao estilo de vida que abominavam.

Simone de Beauvoir acreditava que a matéria-prima do intelectual, além da capacidade de compreender e criticar as teorias – é a própria experiência. A partir daí, pensava construir nossa relação com o mundo, talhar subjetividades e, assim, produzir uma obra intelectual, nos anos 1930, época que, uma mulher desacompanhada nem sempre era aceita em um café; ela optava por estar só. A solidão era a chave de sua abertura para o mundo.

Outra crítica comum a Simone de Beauvoir é de que ela era feminista em seus livros, mas não era feminista em seu relacionamento com Sartre. Dizem que ela pregava o feminismo para outras mulheres e não o praticava.

Em suas memórias, Simone de Beauvoir afirma que jamais foi feminista e que O Segundo Sexo, publicado em 1949, nunca foi concebido como um livro feminista. Por isso, quem cobra dela uma postura feminista em todos os episódios de sua vida age de má-fé. Simone de Beauvoir só se alinha ao feminismo nos anos 1970.

Eles não podiam viver a juventude de acordo com algo que ela só reconheceu e valorizou na velhice. Sim, os intelectuais mudam e se transformam ao longo do tempo, e isso não invalida seu pensamento.

O julgamento que ataca Simone de Beauvoir não é apenas aquele forjado no sexismo. Há um outro substrato nas acusações levianas que enumerei aqui e em outras que não há espaço para detalhar. Esse substrato é a necessidade de fazer de intelectuais verdadeiros deuses, modelos de comportamento, pessoas infalíveis que têm soluções infalíveis e que não podem ser questionadas.

Simone e Sartre construíram um sistema de pensamento que enfatiza: todos somos livres e a liberdade nos confronta a cada segundo com a angústia de fazer escolhas e com o sofrimento de nos responsabilizarmos por elas. Viver na insegurança, na incerteza e em constante contato com sua própria falibilidade e a ambiguidade.

Há quem Busque desqualificar o pensamento libertário, radical, transformador que, por definição, se constrói com base na exploração de visões de mundo, atitudes e comportamentos fora dos padrões e na diversidade de ideias e de ação. Nesse sentido, criticar Simone de Beauvoir (e Sartre) é muito mais construir empecilhos para que os intelectuais de hoje se inspirem ou busquem referências em suas ideias e possam pensar algo novo e tão transformador como eles pensaram em suas épocas.

Quem resiste a pensadores como Simone de Beauvoir e Sartre teme que alguém possa continuar a trilhar os caminhos que eles abriram. Teme palavras como liberdade, ambiguidade, imperfeição, descoberta, independência e, principalmente, responsabilidade e consciência. Talvez possam encontrar algo assim em alguma religião. Jamais encontrarão isso em pensadores livres e, felizmente, imperfeitos.

Sartre e Beauvoir. Foto: Antanas Sutkus, 1965

Apontamentos e sugestões:

(*) Quem tem medo de Simone de Beauvoir? publicado na íntegra no portal O Pensador Selvagem.

(**) Sobre Gontran Guanaes Netto . Dados biográficos de Gontran Guanaes Netto por Gisèle Miranda https://tecituras.wordpress.com/2010/01/11/brava-luta/

https://tecituras.wordpress.com/2010/10/25/a-atualidade-de-simone-de-beauvoir/

https://tecituras.wordpress.com/2010/10/18/i-am-not-a-woman-writer/

BEAUVOIR, Simone de. Por uma moral da ambigüidade. Rio de janeiro, Nova Fronteira, 2005.

BEAUVOIR, Simone de. A cerimônia do adeus. Seguido de entrevistas com Jean-Paul Sartre (ago/set 1974). Tradução de Rita Braga. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão; Irene Ferreira & Suzana Ferreira Borges. 2 ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1992. (coleção Repertórios)

SARTRE, Jean-Paul. Sartre no Brasil: a conferencia de Araraquara. Filosofia marxista e ideologia existencialista. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenologia. 3. ed. Petropolis: Vozes, 1997.