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30 anos da obra de Antonio Peticov -momento antropofágico.

30 out

por Gisele Miranda

        Tupy or not Tupy

(Oswald de Andrade, Revista Antropofágica, São Paulo, 1928).

&

A  operação metafísica que se liga ao rito antropofágico é a da transformação do tabu em totem… cabe ao homem totemizar o tabu (Augusto de Campos, São Paulo, 1975)

A obra de Antonio Peticov, Momento Antropofágico com Oswald de Andrade (1890 -1954), vem ratificar a importância do nosso Oswald, sua geração e o:

auto fé de um dos martins-pescadores da nossa crítica literária que tentava reduzir mecanicamente às matrizes do canibal Dada-futurista a antropofagia brasileira… conotação importante derivada do conceito de “antropofagia” Oswaldiano é a idéia da “devoração cultural” das técnicas e informações dos países superdesenvolvidos, para reelaborá-las com autonomia… (da mesma forma que o antropófago devora o inimigo para adquirir suas qualidades). (1)

Oswald teve educação privilegiada, recursos para viagens ao exterior e formação em Direito pela USP (1912); ele assumiu desde cedo um discurso vanguardista de conteúdo crítico literário. A cultura estrangeira foi o alimento ritualizado em seu Tupy or not Tupy, gestado e parido no Manifesto Antropofágico de 1928. A década de 1920 foi frutífera como autor de romances, de poemas aos Manifestos Pau Brasil (1925) e Antropofágico. Nos anos de 1930, o destaque para o Rei da Vela (1937), adentrando os anos de 1940, com mais romances e ensaios.

Oswald viveu até 1954, com dedicação exclusiva à Cultura Brasileira. Pouco antes de seu falecimento, mais um  texto para o teatro e suas memórias – O Homem sem profissão (1954). Além de textos em jornais e publicações póstumas.

Por toda a contribuição de Oswald de Andrade à nossa cultura, a justíssima homenagem de Antonio Peticov com O Mural/ instalação Anamórfico, 1990 (2) – uma Comilança geral, do qual Peticov colocou-se como prato principal.

Antonio Peticov (1946-), Momento Antropofágico com Oswald de Andrade, 1990. 16,40 m comprimento; 3,10 m de altura e 65 cm de profundidade. O Back-Light do teto tem 3,50 m x 7 m; o cilindro de aço do retrato de Oswald 191,59 cm x 30 cm diâmetro. O Pau-Brasil sobre o qual o cilindro está apoiado tem 1,20 m com diâmetro aproximado de 25 cm. Estação do metrô Praça da República, São Paulo.

Oswald de Andrade por Antonio Peticov

Em um conjunto de formas, além da Imagem de Oswald de Andrade como Totem Anamórfico, Peticov inseriu seu repertório artístico ao contexto histórico do homenageado. Diversos momentos da trajetória de Oswald foram resgatados por Peticov para compor um conteúdo necessário.

Do coletivo das almas perdidas (1918), Peticov resgatou um desenho de Ferrignac (3). De Tarsila do Amaral, Peticov resgatou seu Abaporu (1928) e o incorporou nos azulejos.

Oswald e Pagu foram resgatados na constância visual do “café Paraventi” associado ao casal Moderno, do jornal O Homem do Povo (4), periódico criado e mantido por ambos na militância política. Militância incomum a uma mulher naquela época, inúmeras vezes presa (em uma das vezes, por cinco anos), libertária no consciente papel da vanguarda, seja como jornalista e animadora cultural com firme trabalho no Teatro Amador de Santos, que lhe valeu a digna homenagem de Paschoal Carlos Magno na Aldeia de Arcozelo – “pátio Patrícia Galvão – Pagu” (5).


(1) Augusto de Campos, São Paulo, 1975, p. 6 e 7. In: Catálago Antonio Peticov, 1990.

(2) Anamorfose nas artes visuais “(do grego anamorphosis) Deformação de uma imagem formada por um sistema óptico cuja ampliação logitudinal é diferente da amapliação transversal.” In: Catálogo Antonio Peticov – Momento antropofágico, 1990. P. 4.

Link do Vídeo dos 30 anos do mural anamórfico com Oswald de Andrade, 28 de novembro de 2020. https://www.instagram.com/tv/CIMM477nNII/?utm_source=ig_web_copy_link

(3) Inácio da Costa Ferreira, o Ferrignac (1892-1958); formado em Direito, caricaturista, escritor, desenhista e partícipe da Semana de 22.

(4) Referência: O Homem do Povo, 1932. Patrícia Rehder Galvão, a Pagu.

(5) https://tecituras.wordpress.com/2010/07/11/paschoal-carlos-magno-teatro-duse-barcas-e-caravanas-da-cultura-aldeia-de-arcozelo-teatro-do-estudante-do-brasil/

O pote de riquezas do arco-íris: Séries de ANTONIO PETICOV

10 dez

por Gisele Miranda

 

O pote de riquezas do arco-íris é a materialização desse múltiplo e inquietante artista de notoriedade plástica construída pelo Modernismo Brasileiro, pela Vanguarda Tropicalista com interferências da Vanguarda Europeia.

Em sua Série Releituras, o gênero natureza-morta é representado por uma Cesta de Frutas de Caravaggio (1571-1610). Suas frutas são como as personagens: vivas, de uma violência gritante, para falar da dor e da luz sem piedade. Ele ousa com uma fruta podre – a maçã – e fundamenta sua crítica ao convívio religioso de sua época.

A pintura Caravaggio´s (1997) de Antonio Peticov é a releitura mais fiel. A pintura desse gênero foi muito mais comum no Barroco Laico e considerada gênero menor no Barroco Religioso. As cópias de pinturas são exercícios necessários. Courbet quando deixou o curso de Direito exerceu livremente seu ofício no Museu do Louvre e fez muitas cópias. Muitos fizeram e fazem como estudos.

Ademais, como Caravaggio, Peticov é admirador das mulheres artistas, as tão poucas da História da Arte. Até meados do século 20, as mulheres artistas não eram bem vistas como pintoras ou intelectuais. Em geral os pintores não apoiavam pintoras. O gênero menor natureza-morta foi o indicativo de pinturas para mulheres em atividades recreativas.

De Pablo Picasso, Peticov abraça seu lado mais Cubista (além do charme). A Série Professor dedicado ao mestre Picasso, destacou a mesa como elemento pictórico comum do movimento, atrelado ao perfil de Picasso e associado ao conhecido perfil de Alfred Hitchcock (1899-1980). Daí por diante surgiram outros perfis, dos mestres aos amigos.

Na série O Cérebro e a Mente há uma trama histórica e memorial, significados coletivos que convergem na complexidade humana e artística. Peticov propôs, através da reflexão plástica, o uso da maquinaria, provendo-a com sabedoria.

Em The Trip in the Moon, de 2019, Peticov viaja com as cores à lua com atitudes interiores, sob a inspiração fílmica de Viagem à Lua de Georges Meliès (1861-1938).

Em Nightfall , o dia potencializa o fluxo do rio de cor branca e que encontra o conteúdo imaterial do quadrado branco sobre o fundo branco de Malevich (1878-1935), ou seja, o transbordamento de possibilidades vivas. Nas curvas daquele rio, o curso delineado, a sublimação das cores no reverso. Noites neons, as conhecidas Torres e Escadas de Peticov, escaladas para o dia e para a noite.

Pouring à Pouring More – da tela à escultura, as cores brincam em um derramamento de cores. É a magia do pote encontrado e o encantamento natural do sol com a chuva, incorporado a noite pela imaginação, pelos pincéis, tintas, madeira, mármore, aço e neon.

A casa/ateliê de Peticov é educacional, as crianças de todas as idades são bem-vindas, pois a casa é feita de jogos, quebra-cabeças, esculturas, pinturas e desenhos. Nos tornamos personagens de Lewis Carroll e percorremos sua incrível estória com várias interpretações históricas, através de uma mesa/ instalação/escultura por releituras de Carroll.

 

 

Referências:

(*) Parte desse texto foi publicado no catálogo da Exposição A LUZ de ANTONIO PETICOV, 2019 por Gisele Miranda- GALERIA RICARDO VON BRUSKY. Texto ampliado.

ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. Tradução Denise Bottmann & Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

ARGAN, Giulio Carlo. Imagem e Persuasão: ensaios sobre o Barroco. Tradução Maurício Santana Dias. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

ARGAN, Giulio Carlo. Clássico Anticlássico: o Renascimento de Brunelleschi a Bruegel. Tradução Lorenzo Mammì. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

GOMBRICH, Ernst H. J. História da Arte. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão; Irene Ferreira & Suzana Ferreira Borges. 2 ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1992. (coleção Repertórios)

Sobre Antonio Peticov:

https://www.peticov.com.br/ site oficial do artista.

 

Antonio Peticov: alquimia dos mestres!

1 fev

por Gisele Miranda

Eu tenho cada vez menos tempo, embora tenha cada vez mais coisas para dizer. E o que eu tenho para dizer é, mais e mais, algo que se move para a frente, junto ao movimento de meu pensar.

Eu sou como um rio que continua a correr…

Pablo PICASSO (1881-1973)

ANTONIO PETICOV nasceu em Assis, SP, Brasil, em 1946. Filho de um imigrante búlgaro que chegou no Brasil na década de 1920, pressionado pela guerra dos Balcãs e pela Primeira Guerra Mundial, consequentemente, absorvido por uma das etapas migratórias pós escravidão do Brasil, sob pesadas condições e adversidades.

Autodidata, Peticov traçou uma formação artística alicerçada de boas leituras em, contrapartida, a construção crítica à educação Batista do pilar teológico paterno.

Desde os doze anos idade, Peticov vem exercendo sua inesgotável fonte criativa, e hoje, aos 77 anos, extasia a todos com a consolidação de sua obra na História da Arte. Além de exercer diariamente a dimensão da memória em proporcionalidade a imaginação.

A notoriedade plástica construída está aliada a vanguarda tropicalista dos anos de 1960; com interferências do Surrealismo, Pop Art e experimentalismos musicais e processos psicodélicos – de Hendrix a Mutantes, o que fatalmente o levou a prisões. Por sobrevivência, exilou-se na Inglaterra, Itália e Estados Unidos.

Entre o final da década de 1980 e início de 1990, quando retornou ao Brasil, esteve ligado a projetos ambientais e diversos outros trabalhos, entre os quais, o resgate do Modernismo Brasileiro e sua vertente antropofágica, em parte revertido para o acervo artístico do metrô de São Paulo.

Antonio Peticov tornou-se o mestre das cores, o alquimista da virtualidade aberta, o representante da escada cósmica, o Dédalo labiríntico, o maestro de partituras da fauna e da flora Brasileira. O artista do diálogo com o tempo e releituras de grandes mestres como Rembrandt, Velazquez, Constable, Millet, Picasso, Magritte, entre outros.

Peticov é o porta voz do pincel, o corpóreo de Fibonacci. A máquina ambulante da ciência em comunhão. O pote de riquezas do arco íris é a materialização da obra desse múltiplo, inquietante e fascinante artista.

Série Antonio PETICOV IV: Cérebro Full Circle

3 jun

Por Gisèle Miranda

Na imagem Full Circle é perceptível a realização de uma secção para que fosse possível ver o lobo da ínsula (a ilha). Embora, sem a representação dos lobos parietal e frontal, é possível ver parte do lobo occiptal – lobo responsável pela absorção dos impulsos advindos da retina.

Antonio Peticov (Assis, SP, 1946-), Full Circle, 1996.

A secção também foi realizada na cavidade na aparente forma de vulcão, para aguçar a percepção visual. A primeira redoma que abraça a imagem central (o vulcão), vislumbra-se a perspectiva apenas de um lado.

O córtex cerebral se apresenta como uma lâmina que recobre todo o cérebro (o entorno) e se diferencia na sua arquitetura, assim como em suas funções. Sua estrutura é fundamental, pois capta os estímulos internos e externos onde todos os sentidos estão presentes. Pela medição do córtex cerebral, o indivíduo passa a ter conhecimento da temperatura, da dor.

Peticov privilegia, mesmo que em parte, o lobo occiptal (visão). Portanto, a dimensão procurada na imagem do córtex cerebral é da totalidade de absorção e interpretação dos sentidos, direcionando-os a sua plena capacitação.

A circunferência concentra o poderio revolucionário das sensações. Unidos por esses sentidos, o amarelamento do tempo e do experienciar adquiridos. A profundidade que a coloração amarela se propõe vai de encontro à secção da imagem central, em um tom que, segundo Kandinsky, reflete a beleza interior e uma potencialidade moderadora. (Do Espiritual na Arte, 1990, 92)

Caso as sensações não fossem canalizadas e interpretadas teríamos apenas sinais vazios. O prazer e o desprazer são reconhecidos e assim, injetados em todo o nosso corpo através de atrações e repulsas.

Considerações finais

Através da série Cérebros de Antonio Peticov foi possível absorver uma trama histórica a partir do arcabouço científico. Dessa froma, foram encontrados significados coletivos, de leituras diversas que convergiram na complexidade humana e artística. O armazenamento plástico do artista possibilitou a saída dos limites físicos de nosso corpo para estar interposta como uma extensão da memória à maquina e à vida. (Le Goff, História e Memória, 1992, 425-426)

A memória é o centro de armazenamento das histórias, em temporalidades passado/presente/futuro – tendo em seu bojo, a liberdade para que a servidão não impere pelo esquecimento. Pelo mesmo ângulo, Peticov propôs, através da reflexão plástica, o uso da maquinaria provendo-a com sabedoria e evitando a servil estagnação.

Série Antonio PETICOV III: Cérebro O Sonho de Xamã

2 jun

Por Gisele Miranda

Em o sonho de Xamã, Peticov reverencia as práticas ritualísticas e primitivas de evocações e exorcismos dos Xamãs (feiticeiros originários dos povos da Mongólia e Sibéria Oriental). Embora conhecido como prática ritualística, o Xamanismo é tido como religião para alguns povos. A complexidade da memória primitiva está no peso de um passado a ser controlado por eleitos, ou seja, homens-memórias ou genealogistas.

A imagem nos remete a peculiaridade mítica e a questão disjuntiva e conjuntiva em relação ao presente. Graças ao ritual, o passado disjunto do mito articula-se, por um lado, a periodicidade biológica e sazonal, e por outro, com o passado conjunto que, ao longo das gerações, une os mortos e vivos. (Le Goff, 1992, 210)

Na representação do artista, a imagem de uma árvore (em seu corte ao meio), corresponde ao tálamo, situado na base do cérebro e tendo por designação o acasalamento de funções e de delegar atividades a locais específicos.

Antonio Peticov (Assis, SP, 1946-), O Sonho de Xamã, 1996

No tálamo há ramificações de retransmissões cooptadas pelos núcleos (1) em suas funções de motricidade, memória e vigília. Cabe ressaltar que a densidade de uma lesão depende muito da região, ou seja, ter uma grande lesão e nada ocasionar ou ter uma minúscula lesão e ser fatal.

A cor branca insufla uma aura ao redor das fibras do tálamo que pode ser identificada como Xamata (manto sagrado). Partindo desse prisma, torna-se possível inferir sobre a intencionalidade do artista em constatar diferenciações de condutas, práticas culturais elaborados pela maquinaria humana.


(1) Núcleos: agrupamento de neurônios localizados dentro do Sistema Nervoso Central. Fora desse Sistema, chama-se Gânglio.

Série Antonio PETICOV II: Cérebro Duck Dreams

1 jun

Por Gisele Miranda 

Duck Drems foi a primeira imagem criada por Peticov para a série cérebros – o cérebro cortado ao meio verticalmente.

Antonio Peticov (Assis, SP, 1946-), Duck Dreams, 1996.

A predominância da cor verde no telencéfalo denota repouso. Quando generalizado pode tornar-se enfadonho pela imobilidade e ausência de desejos. Na brejeirice do azul, em tom mais forte, a representação do septo pelúcido. O vermelho, adicionado pelo amarelo resulta no laranja que irradia a seriedade de alguém seguro de sua força… soa como o sino de ângelus, tem a força de uma poderosa voz de contralto. (Kandinsky, 1992, 93)

No local onde se dividem os lobos – aqui visualizado o meio exato do lobo temporal – estão a audição e a fala. Também, detectado o tálamo, responsável pela ansiedade que instiga a fome e a sede.  No hipotálamo (abaixo do tálamo), encontram-se o corpo caloso e o septo pelúcido.

Os acidentes anatômicos tem sua estrutura interna no crânio com divisões fossais, podendo ser observado, o denominado lobo temporal na fossa posterior. Também, visualiza-se o cerebelo na regência dos movimentos com dinamismo e leveza.

Onde há a representação de um pato, no meio exato do corte, atribui-se a imaginação, a fantasia e os devaneios. Em sua concepção anatômica, dir-se-ia que estão presentes, o tálamo, o hipotálamo e o lobo. Em sua asa vislumbra-se o telencéfalo.

O tálamo tem o formato de um ovo de galinha (são dois). Muitas informações são enviadas através de neurônios aglutinados no tálamo, o que torna possível obter informações da área periférica dos sentidos, com exceção do olfato, pois o sentido olfativo só é efetivamente absorvido na região do Cortex Cerebral. (local que aglutina todos os sentidos)

Série Antonio PETICOV I: Cérebro Meditation # 3

28 maio

Por Gisele Miranda

Na reminiscência de Peticov, o seu lado artístico surgiu aos doze anos de idade e pode ser conjugado aos doze temas destacados pelo filósofo Martin Gardner no livro Home Faber: o trabalho de Antonio Peticov remonta o jogo de Leis do Universo, ou seja, um jogo no qual as ironias dos paradoxos desmascaram as crenças enganosas e estimulam novas visões com um charme vertiginoso. (1)

Cérebros por Peticov

O tema cérebro quando presente na área médica soa como busca científica. Mas, e o cérebro para os artistas? Ou, para historiadores?

Seu interesse por cérebros começou por um folheto de um congresso científico.  Daí por diante, os relances pessoais e profissionais surgiram. Desde a imagem de seu irmão que esteve em coma por meses ao interesse de criar artisticamente algo que em primeira instância, não se faz claro para um leigo.

As alterações anaptoantropológicas registram as transformações ao longo do tempo, desde os recuos maxilares, aumento do encéfalo, diminuição da face ao desaparecimento do terceiro molar. Dessa maquinaria, do ponto de vista objetivo e subjetivo, até os orifícios (forames) têm designações vitais (transitam nervos, artérias, veias): sendo possível estimar a idade, detectar o sexo e o crescimento.

O Bregma tem sua historicidade identificada pelos gregos como sinônimo da alma, assim como acreditavam que a alma era absorvida por essa abertura e se fixava vibrante em seu fechamento natural.

Antonio Peticov (Assis, SP, 1946-), Meditation #3, 1996

Em Meditatin # 3, Peticov mostra a imagem cerebral vista por baixo, sem cerebelo, visualizando o mesencéfalo (local onde existem centros de coordenação motora), os dois nervos olfatórios e os nervos ópticos acolhidos pelo artista como nervos culturais – que agem juntos aos neurônios (são polivalentes), e se aglutinam em vários locais do cérebro.

Nas áreas neuronais, de acordo com a idade, torna-se possível uma plasticidade – capacidade de um neurônio estabelecer novos contatos sinápticos. Por isso é possível viver normalmente (dependendo da área cerebral), sem problemas organizacionais e psicomotores com a perda de 85% dos neurônios.

O arco em forma de coração inverso sustentado pelo corpo humano em meditação torna-se instrumental da redoma cerebral vista por baixo – em sua cavidade. A imagem criada por Peticov se traduz na subjetividade  dos sentidos dessa maquinaria.

A tonalidade azul (em gradações) rege a concentricidade exposta em sua polaridade – na luz, o amarelo e no escuro, o azul se abraçam em estado puro: quanto mais espessas ou escuras.

Há conotações místicas  que mesclam reminiscências ou tendenciosos experimentalismos de Peticov; pensando o tempo não apenas como relógio biológico, mas como Oscar Wilde, em o Retrato de Dorian Gray.


(1) GARDNER, M. Homo Faber – the work of Antonio Peticov. São Paulo: Pau Brasil, 1988 (326 p.)

Segundo Goethe (1749-1832), em Doutrina das Cores (Apresentação, seleção e tradução de Marco Giannotti). São Paulo: Nova Alexandria, 2011.: amarelo, azul e vermelho são cores primárias que produzem cores secundárias. Construção baseada em estudos físicos, químicos e fisiológicos. Anterior a Goethe, o cientista Isaac Newton (1643-1727), em 1666 identificou as sete cores do espectro: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta.

Para o artista plástico e filósofo Kandisnsky (1866-1944), a teoria caminha com a poética de onde se observam as cores partindo de necessidades interiores. Do espiritual da Arte (Tradução Eduardo Brandão). São Paulo: Martins Fontes, 1990. Primeira edição, de 1910, acrescido e publicado em 1912,